Voltando ao inferno

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Minha mãe resolveu me levar de carro ao colégio essa manhã. Não é de seu costume fazer isso, se importar de como chego à escola. Sempre saiu de casa depois do café da manhã, bem cedo para ir para o trabalho. Mas não a culpo por está preocupada comigo, esses meses que se passaram estão sendo difíceis para nós duas. Ela está com medo que eu tente fazer de novo, na verdade minha psicóloga deve ter dito para ela observar cada passo meu. Duvido muito que não. As duas tem um receio que eu tente me matar novamente. Não que tenha sido uma tentativa minha.
Desde que sai do hospital minha mãe não desgruda de mim. Sempre colada, sempre pronta caso algo aconteça. Ela estalou uma regra muito idiota lá em casa, na qual não posso trancar a porta do quarto e nem a do banheiro enquanto estiver dentro. Achei desnecessária. Estou enlouquecendo com a proximidade dela e a falta de privacidade.

Ela estaciona o carro em frente ao colégio sem desligar o motor. Daqui consigo ver os outros alunos entrando e saindo do primeiro prédio. São dois na verdade. Os mesmo alunos de que me lembrava, os mesmos grupinhos sociais de antes. Panelinha é o que mais tem nessa escola.
Só dois semestres, e isso tudo acaba. Nunca mais ter que olhar na cara dessas pessoas esnobes, patricinhas com suas roupas de marca e sapatos de grifes, e esses jogadores de futebol que se acham os fodões do Colégio. Claro que tem algumas pessoas normais, aqueles que não se destacam tanto (minoria), não tanto quantos os mis populares, que são uma grande porcentagem da estatística aqui. E tem o grupo dos excluídos. No qual eu faço parte agora.

Mamãe destrava a tranca da porta e me olha por alguns segundos antes de olhar para as próprias mãos.

- Eu sei que você vai aguentar esses sete meses numa boa Lanore. Você não pode ficar faltando, e as aulas já começaram faz três meses. Perdeu o primeiro bimestre todo e possivelmente metade do segundo. Você só tem que aguenta mais essa e depois acabou. - ela toca meu ombro de leve e se move para beijar minha bochecha mas me esquivo. Ela se afasta e sorri. - Eu juro. Agora ande.

Saio do carro desanimada, mas conformada. Fico um bom tempo parada na calçada, mesmo depois da minha mãe já ter ido. Olho o grande edifício e as pessoas passarem por mim, e mal me notam ali parada feito uma idiota. Nada mudou, os rostos continuam familiares para mim. Tudo parece igualzinho. Quem mudou fui eu.
Um pé depois o outro, lembro a mim mesma. Começo a andar de vagar até as portas do colégio. Em poucos passos vejo de relance algumas pessoas me olhando com curiosidade. Começou. Aguenta. A porta está logo ali. Não pare de andar por nada, Lanny. Você consegue.

- Essa não é Lanore Wilkes? - alguém pergunta nos bancos.
- Nossa é ela mesmo. - outra responde.

Começo a andar mais rápido. Mas quando chego perto das portas ouço bem alto alguém me chamar.

- Lanny? Olha ai a garota suicida de volta.

Reconheço a voz até do inferno. Steyce.

- Lanny, é você mesmo?

Ela se aproxima um pouco de mim enquanto cai na gargalhada com as amigas.

- Voltou para se jogar da onde agora? - uma das suas proles diz rindo.

Quero muito me virar e responde-la a altura. Mas prefiro ficar quieta. Abro a porta com raiva e o sangue subindo a cabeça, tento me acalmar, e quando a porta atrás de mim se fecha bloqueando o som das risadas, consigo ao menos me acalmar um pouco.
Steyce é a garota na qual se acha a mais popular da escola, e talvez seja. Sem dúvidas é. Ela sempre foi e continua sendo pelo visto insuportável, e bonita e muito bem arrumada também, com suas roupinhas de grife e seu cabelo castanho com cachos perfeitos, unhas cor de rosas e com essa cara toda produzida. Por que demônio estou pensando nela? Ela é a pessoa mais fútil dessa terra, mas é isso que atraí as pessoas pra ela. Ser filha de um dos melhores médico da cidade e descendente do fundador dela e da escola ajuda, e muito.
Ela sempre pegou no meu pé. Desde que entrei nesse colégio até o ano passado, e pelo visto esse ano não será diferente. Ela virou meu carma e tornou meus anos no colégio um inferno por completo. Estou muito feliz que seja o último ano ao lado dela. Pena que a cidade não é muito grande, mas torço pra quando me formar não veja a cara da Barbie nunca mais. Vai ser um sonho.

Through the Crows [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora