A Visão

34 6 0
                                    

Mal noto quando o diretor sai e deixa apenas o novo professor. Ele se apresenta e amigavelmente tenta conhecer cada um de nós. Ele pergunta o nome de cada um. Quando chega em minha vez acho que demoro um pouco para responder pois Caian chama meu nome baixo em meu ouvido.

- Lanny! - Caian me cutuca pela terceira vez.

Eu olho para ele e depois para o professor que parece falar comigo. Todos na sala estão me encarando. Eu balanço a cabeça e tento me recuperar.

- Seu nome minha jovem. - o professor repete.

- Lanore. - digo distante. Respondo apenas por responder. - Lanore Wilkes.

- Você está bem Lanore? - ele pergunta realmente preocupado.

Eu suspiro e balanço a cabeça negando.

- Na verdade não. - respondo piscando muitas vezes meio tonta e me levanto. - Realmente não estou me sentindo bem. Eu poderia me retirar de sala?

- Claro! Claro! - ele diz parecendo ainda mais preocupado comigo.

Ele pega uma folhinha de dispensa e escreve nela enquanto eu ando até ele.

- Aqui. - ele me estrega. - Caso perguntem por que não está em aula.

- Obrigada. - agradeço e pego o papel de sua mão.

Nossos dedos se encostam por uma fração de segundos. Eu sinto uma corrente elétrica percorrer meu corpo partindo da minha mão. Assim que sinto o leve choque afasto minha mão deixando o papel cair. Ele me encara sério e estreita os olhos abaixa-se e pega o papel novamente me entregando, dessa vez tomo cuidado para nossas mãos não se tocarem.

- Melhoras senhorita Wilkes. - deseja enquanto caminho até a porta da sala.

Quando volto a encara-lo olhando por sobre o ombro vejo seus olhos mudarem nitidamente de cores, o azul celeste da cor a um branco opaco. Não há mais pupilas apenas dois olhos totalmente brancos. Quando o olho novamente para ter certeza do que vi seus olhos são azuis mais uma vez.

- Está tudo bem senhorita Wilkes? - pergunta quando percebe que estou na porta o encarando.- Quer que alguém a acompanhe até a enfermaria?

- Eu posso leva-la. - Caian se disponibiliza.

- Tudo bem senhor Angelino. - o professor mostra um sorriso. - Leve Lanore até a enfermaria. E depois volte para a aula.

Caian se levanta rapidamente e segura meus ombros me tirando da sala. Ele me ajuda a andar até a enfermaria, mas eu paro de repente no meio do corredor.

- O que foi? - pergunta preocupado.

Eu não respondo. Apenas permaneço parada e encarando o nada.

- Lanny? - Caian segura meu rosto tentando me fazer olha-lo. - Lanny, fala comigo. Você está me assustando.

Não consigo responde-lo. Minha voz não sai. Eu estou em transe.

De novo não! Não, isso não pode está acontecendo agora.

Eu estou preste a ter uma visão. É sempre assim que começa. Eu perco meus movimentos, a fala e depois a visão aparece me levando a outro cenário ou até mesmo para outro lugar. Literalmente. Foi assim que fui parar no terraço da escola antes de pular.

De repente o corredor e os armários somem dando lugar a uma sala amarela desbotada e com móveis velhos cheios de porcelanas. Reconheço o local. É a sala da casa da Sra. Toller. Olho ao redor, nenhum sinal da Toller. Ando pela casa e vou até a cozinha. Quando eu vim a casa realmente, não cheguei a entrar em nenhum outro cômodo além da sala. A cozinha e toda branca, há uma mesa redonda no meio dela, uma pia em um canto perto da janela que da para o jardim bem cuidado, o fogão é ao lado esquerdo da pia e a geladeira ao direito. Os armários eram presos a parede e também de madeira pintada de branco a mão. Da para ver a diferença. Há duas portas na cozinha uma perto da geladeira que parece dar do lado de fora da casa e um outra que se encontra aberta. Eu passo por ela e a cozinha da lugar a um quarto pintado de branco assim como a cozinha. O abaju está ligado e a senhora Toller está sentada em sua cama lendo um livro. Há também duas portas no quarto além da pela qual entrei. Uma está aberta, percebo que é um banheiro e a outra está fechada. Depois de alguns minutos ouço um barulho vindo da sala eu saio do quarto e me encaminho para lá. Toller também. Quando atravesso a cozinha de volta ao primeiro cômodo da casa, a sala, ouço algo se quebrando no chão. Eu corro para ver e todas as porcelanas da senhora Toller estão no chão em pedaços. Toller se desespera vendo a cena. Um homem encapuzado está parado no meio da sala encarando a senhora indefesa. Eu vejo mas não posso fazer nada além de observar.

Senhora Toller corre em um piscar de olhos para o quarto eu a sigo no mesmo ritmo, ela tranca a porta. Há muitos trincos atrás da porta, contei rapidamente uns 9. Depois de trancar todos ela corre até a outra porta do quarto, a que estava fechada. Ela destranca a porta e vejo que nela uma passagem secreta. Corro e entro junto com Toller. Ela tranca a porta por dentro e segue caminho pelo esconderijo.

É um túnel.

Chegamos ao que parece ser o Centro do túnel e há mais três passagens. Ela pega uma lamparina que estava pindurada e segue pelo primeiro caminho. Vou atrás dela seguindo seu ritmo rápido. Esse túnel da lugar a uma gruta, caverna, pequena. Nela há muitas velas e papéis espalhados, um cheiro de incenso e ervas paira no ar. Há também um pequeno altar feito de rocha, onde um livro grande e potes estão. Toller corre até o livro e começa a folhea-lo depressa. Ela para em uma página e eu olho por sobre seu ombro.

É um livro de feitiços!

A senhora Toller é uma bruxa.

Ouço passos. E eles estão se aproximando. Toller se vira para a passagem pela qual passamos e grita palavras em uma língua desconhecida enquanto faz símbolos no ar com a mão. Ela começa a gritar as mesmas palavras em um ritmo mais rápido e uma claridão invade o local e me cega por alguns estantes. Quando a luz suaviza vejo Toller uma flecha atingir em cheio no meio do seu peito. Ela cai no chão e o livro tomba ao seu lado. A luz vai diminuindo aos poucos.

Um espectro branco sai de seu corpo flutuando. Acredito ser sua alma, envolta do espectro há uma linda luz brilhande branca. Algo nela me da paz e sossego. As mesmas sensações que sentia na presença da senhora Toller. Estou perplexa com o que eu estou vendo. Realmente é um espectro. Ele se vira para mim em um breve estante antes de atravessar o teto da caverna e sumir.

Toda a pureza, paz e sossego se esvairou. O local volta a ser apenas uma caverna pequena, abafada e sinistra. Ouço passos e o homem encapuzado entra na pequena caverna onde antes era a toca de bruxa da senhora Toller. Ele tira o capuz e vejo que o conheço.

É o novo professor! Ele anda até o corpo e retira a flexa sem dor nem piedade. Apenas a puxa. Ele chuta as pernas do corpo e se agacha pegando o rosto dela entre dois dedos. Ele bufa e solta a cabeça dela. Olha para o lado e repara no livro. Ele pega o livro na mão e o fecha. Colocando embaixo do braço chaminha até o altar e vasculhando entre os papéis ali jogados ele pega um em especial. É um retrato. Me aproximo e vejo que é uma foto minha. Me espanto. Ele pega a foto e guarda dentro do casaco antes de sair.

Meus olhos se fecham e quando os abro a caverna sumiu e o que eu vejo é o rosto de Caian preocupado. Estou de volta a escola no meio do corredor. Eu inspiro fundo soltando o ar logo em seguida. Passo a língua nos lábios para umidece-los, estão secos. Recupero meus movimentos e as poucos consigo mover os braços. Eu pisco muitas e muitas vezes.

- Lanny? - Caian diz com a mão em meu rosto. - Você está bem?

Não respondo. Apenas o encaro perplexa.

- Lanny por favor me responda. - ele implora.

O ignoro.

Eu acabei de presenciar um assassinato. A senhora Toller foi morta, e, não teve uma parada cardíaca ou seja lá o que o diretor disse. Invadiram a casa dela e a mataram com uma fechada no peito.

E o mais chocante a senhora Toller era uma bruxa de magia branca. Ela não poderia ter aura branca se usasse magia negra ou algo parecido. Ela era uma boa pessoa, mesmo sendo uma bruxa. E a mataram por algum motivo desconhecido. Levaram seu livro de feitiços e uma foto minha.

E quem fez isso tudo está dentro daquela sala na qual acabei de sair.

Through the Crows [Concluído]Onde histórias criam vida. Descubra agora