Capítulo 18 parte 1

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Capítulo 18

***

      Asia dormiu bem e teve bons sonhos: suaves, dispersos, sem relação com o que vinha acontecendo, mas, no final da noite, viu-se novamente sequestrada e levada para um mundo ao qual nunca pertenceu.

      Era noite. Ela se encontrava novamente em um lugar estranho, porém, desta vez corria. Passou por uma estreita passagem que dava acesso a um pátio com piso revestido de pedras e correu agilmente por ele até alcançar a escadaria que levava a uma porta lateral e à segurança, no interior do castelo. Asia não fazia ideia de como podia conhecer todas aquelas passagens, parecia que, mais uma vez, não era ela mesma, mas que estava representando um papel, como na noite anterior. Desta vez, estava em um corpo proporcional ao seu e podia se mexer e sentir as sensações à sua volta.

      A porta lateral deu acesso a um corredor mal iluminado, por onde ela seguiu correndo. Ouvia o farfalhar da seda de seu longo vestido e sentiu que o lenço que cobria sua cabeça escorregou para suas costas, descobrindo seu cabelo preso em um penteado trançado. Enquanto corria pelo labirinto de paredes soturnas, criados se desviavam dela para lhe dar passagem, e logo em seguida pôde ver a claridade da grande sala iluminada por lamparinas e velas.

      Assim que entrou na ampla sala de teto alto sustentado por arcos e colunas e que possuía ao longo de sua extensão altas janelas em mosaico, as mulheres que ali se encontravam agrupadas voltaram os rostos para ela. Aparentemente, esperavam por ela e por alguma notícia que pudesse trazer; não pareciam assustadas, mas permaneciam próximas umas às outras, compartilhando suas expectativas.

      Asia caminhou até elas com os olhos fixos em uma mulher de longos e volumosos cabelos castanhos, presos em um penteado que ostentava joias e véus, e que permanecia em pé no centro de todas elas. Seu rosto, adornado pelos véus, era bem feito, com sobrancelhas bem desenhadas, olhos escuros e tez clara e pálida. Ela se encontrava em um patamar mais alto, cujo piso era revestido e desenhado e ficava dois degraus acima do piso mais simples, que compunha o resto da sala. Seu longo vestido de seda púrpura, bordado em ouro e pedras, era coberto por uma túnica adamascada de mangas longas, atada justa sobre o ventre e que descia abraçando o vestido interno.

      As outras mulheres também usavam joias e vestidos de seda semelhantes, embora as cores fossem diferentes. Elas acompanharam a aproximação da recém-chegada com atenção.

      Asia vinha ofegante. Seu braço esquerdo solto balançava a cada passo, e o direito estava apoiado em seu ventre, na altura do estômago. Podia sentir por baixo dos dedos o apertado corselete de seda que usava sobre o vestido. Não chegou a alcançá-las, virou-se no sentido oposto ao delas, ao ouvir os sons que chegavam através da porta maior, na outra extremidade da sala. Primeiro, ouviu o som de passos apressados, algo que pareceu um xingamento feito por um homem, e depois, com mais nitidez, pôde entender: "Úrsula!"

      Todas as mulheres se agitaram e Asia, ainda com a mão sobre o estômago, cambaleou vários passos para trás sem desviar os olhos da porta por onde entrou o homem que bradava. Ele era bastante alto e forte. Parecia que acabara de chegar de um conflito porque seus cabelos escuros aparentavam estar suados e gordurosos e seu traje era pesado. Vestia uma cota de malha de metal que lhe cobria os braços e o tronco até pouco acima dos joelhos e que era justaposta, no peito e nas costas, por uma espécie de armadura confeccionada com escamas de metal que se sobrepunham lembrando uma pele de cobra. Estava enfurecido e empunhava uma longa espada.

      Ele não se deteve ao entrar no salão, aproximou-se no mesmo passo apressado em que entrou, gritando mais uma vez:

      - Úrsula!

Nemtsi e Selvagens - As almas cativasOnde histórias criam vida. Descubra agora