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Mais tarde, Andrey entrou no quarto e se sentou pensativo na beirada da cama. Via com desgosto a súbita reaparição de Dimitri nesse momento confuso de suas vidas, e preocupava-se com as implicações que se seguiriam ao seu envolvimento. Juntava aos seus temores os presságios que vira em seus antigos sonhos e imaginava se, de alguma forma, a situação deles poderia ficar pior.
Asia estava em pé, em frente à porta da sacada, olhando através do vidro a neblina escassa que se formava lá fora. Alheia às reais preocupações do marido, virou-se para finalmente falar com ele, mas antes de dizer alguma coisa, analisou sua postura esgotada. Ele parecia mais triste e mais preocupado que nos outros dias, porém, desta vez, mesmo entendendo que Andrey estava abalado, não quis desistir de satisfazer sua curiosidade:
— Havia uma mulher com Dimitri. — começou ela — , sua esposa, ela me disse que nosso casamento é um feitiço!
Andrey estava olhando para o rodapé da parede em sua frente. Não olhou para Asia, apenas inclinou seu corpo escorregando os antebraços sobre as pernas, apoiou os cotovelos sobre seus joelhos mantendo os braços soltos, caídos e olhou para baixo num movimento que indicava que mais um problema surgia para ser confrontado. Asia entendeu essa reação como um sim e olhando diretamente para ele perguntou:
— Você sabia disso?
— Sim.
Houve um longo silêncio que precipitou frio como flocos de neve. Ninguém se moveu e então Andrey continuou:
— Não é um feitiço, é como um pacto, feito com o consentimento e a vontade de ambas as partes. Eu ficaria preso a ele tanto quanto você. Nossas almas ficariam unidas, não poderíamos nos separar sem enorme sofrimento. Estaríamos de fato unidos para sempre, não há fim, nem com a morte. — Não era um assunto fácil nem era o momento apropriado para falar sobre isso. Ainda mais aborrecido com Dimitri por esse assunto ter sido exposto desta maneira, respondeu tudo com fria serenidade.
Asia continuou imóvel tentando absorver tudo o que Andrey dizia. Parecia muito mais forte agora, dito por ele, do que mais cedo, com Helena.
— Slauka sabia? — Perguntou em um reflexo.
— Não, ela não sabia. — respondeu com um sussurro culpado e, em seguida, retomou o assunto com o tom de voz calmo que normalmente impunha para explicar um problema a um paciente. — Lars e ela não sabiam quando se casaram. Lars, na época, pensava que era uma cerimônia, uma tradição. — Houve outro silêncio enorme. — Slauka não sabe, essa informação se perdeu com o tempo. Só os mais antigos como Vladímir ou os sacerdotes sabem seu poder. Ou os Selvagens que também possam ter esse conhecimento. Alguns ainda sabem alguma coisa — deteve-se por instantes e tornou a explicar com a mesma voz séria, mas agora cheia de autocrítica. — O que nós somos, o que nós somos capazes de fazer, permite que façamos esse tipo de aliança. Se, de comum acordo, nós podemos nos prender a uma promessa.
Andrey não mudou sua posição, continuava sentado na beirada da cama, com os cotovelos sobre os joelhos, observando o chão:
— Quando Reinis conheceu meu pai — recomeçou Andrey, — soube por ele o que o casamento Nemtsi significava. Já estava casado com Daina há muito tempo, ambos comprometidos por seus costumes, mas resolveu não perpetuar essa tradição. A família de Volker também já sabia, e eles também não o faziam. Laura e Volker casaram-se apenas com o sacerdote. Reinis contaria a Michel no devido tempo, mas não podia fazer disso uma revolução contando a todos os Nemtsi. Não poderia chamar a atenção do Conselho para nós, já que eu e Slauka poderíamos ser descobertos, tínhamos que permanecer discretos. E ele esperava que eu também tivesse bom senso, que eu fosse justo com você.
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Nemtsi e Selvagens - As almas cativas
FantasiQuem se prenderia a uma promessa que não pode ser quebrada nem com a morte? Nemtsi e Selvagens - As almas cativas é uma ficção fantasia-épica de aventura, suspense, mistério e ação. Traz à tona a arbitrariedade da razão humana em uma sucessão de aco...