2º "Feira"

352 94 230
                                    


Mesmo já se irritando com cada palavra que saía da boca de sua professora, nada poderia aborrecer Audrey, pois assim que a aula acabasse, iria para casa, encontraria sua mãe para o almoço e à noite veria seu pai. Ansiava o momento que iria vê-los com mais calma nos próximos dois dias consecutivos, após a correria que era durante a semana, devido a sua escola e os trabalhos deles. E por ser o último final de semana do mês, iria visitar seus avós.

— Um bom final de semana a todos – desejou a professora de história.

A garota, que agora tinha o cabelo bem mais cumprido em relação ao ano que entrou no colégio, prendeu-o e se despediu rapidamente de seus amigos, os quais ela adorava ter por perto.

Como morava perto de sua escola, voltava a pé. Durante o caminho, ligou para o seu namorado, para irem conversando, ajudando na sensação de encurtar a distância.

Chegou ao seu condomínio, desceu até a casa treze, entrou e deixou seu material escolar no sofá.

— Oi, Drey – gritou uma voz, vindo da cozinha. – O almoço já está pronto – anunciou Laís.

Era uma mulher com um rosto doce, seu cabelo era ondulado e loiro, enquanto tinha grandes olhos castanhos claros. Apontava, para sua filha, o almoço que Sarah, uma mulher baixinha e agitada – a empregada – colocava sobre a mesa. Enquanto almoçava, contava a sua mãe como fora seu dia na escola, como estavam seus amigos e seu namorado. Finalmente podia falar sobre Ivan à sua família, sem que eles achassem ruim o namoro. Foi uma luta para ambas as famílias do casal aceitarem que estavam juntos. Tanto que por meses, namoraram às escondidas. Até que por fim, as famílias passaram a ceder.

Em seguida, foi a vez da mãe lhe contar sobre o seu dia. Laís era professora de química em faculdade e trabalhava em período integral, com exceção de quinta e sexta, trabalhando apenas de manhã. As aulas na faculdade ainda não voltaram, mas Laís já ia de manhã à universidade para deixar alguns assuntos preparados. Já seu pai, era entregador de correspondências. Fazia entregas por todo o estado de São Paulo, mas nunca precisou passar um dia fora de casa. Mesmo assim, voltava muito tarde na maioria dos dias. Apesar de não saber como, seu pai tinha uma altíssima remuneração. Antes de ter este conhecimento, imaginava que não era um emprego muito bem pago, mas há poucos anos, soube que se equivocara.

— Mãe, posso pedir uma coisa? – disse Audrey, com uma voz suave. Aproveitando que o ano eletivo mal começara, achava que sua mãe estaria mais tranquila e talvez, conseguisse uma resposta positiva.

— Claro, qualquer coisa – respondeu Laís, disposta a ouvir sua filha.

— Podemos ter um cachorrinho esse ano, por favor?

— Não – respondeu sua mãe de imediato. – Você sabe que não daria certo um cachorro em...

— Mas mãe! Você sabe que eu sempre quis um! Juro que não peço mais nada. Não vou dar trabalho pra vocês – Audrey interrompeu sua mãe. Era raro quando fazia isso, mas ela tinha uma loucura enorme em ter um cachorro, para ter uma companhia, já que era filha única e passava quase todas as tardes sozinha em casa, com exceção do dia em que tinha aula de desenho.

— Filha, eu sei disso tudo, confiamos em você, mas entenda. Vou repetir o que já te disse muitas e muitas vezes – Laís suspirou e continuou. – Seria muito ruim ter um cachorro em casa. A sujeira, a bagunça, ração... É complicado. Tive um, quando eu era criança. Também era o meu sonho e fiquei muito feliz quando eu ganhei. Fiquei brincando com ele, dando comida, dando banho... Mas depois eu vi o trabalho que dá. E como dá!

— Eu não me importaria em limpar as coisas do cachorro – intrometeu-se Sarah na conversa. Já fazia uns bons anos que trabalhava aos Gapsos e não se sentia intimidada em participar de conversas mais pessoais. – Sabe, animais dão sempre um ar alegre pra casa. Eu super mega apoio ter um aqui. Mas procurem ter um de pequeno porte, porque... As sujeiras são mais delicadas. Entende, né? Uma amiga minha... – Sarah parou de falar, ao ver o olhar de julgamento de Laís. – Audrey, se sua mãe falou não, é não. Entenda. É isso, menina. Não tem que insistir.

Elementos DiversosOnde histórias criam vida. Descubra agora