3º "Sonho"

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Ainda que as famílias de Audrey e Ivan passaram a aceitar o namoro deles, todas as vezes que combinavam algo, a garota sentia um grande nervosismo em pedir permissão ao seu pai. Meses atrás, nem adiantaria perguntar, pois seus pais faziam de tudo para impedir que se vissem – principalmente a mãe de Ivan. Com o tempo, tudo passou. No entanto, a inquietação em Audrey ainda era grande, pois sempre temia que seus pais voltassem a desaprovar o namoro, cujo completaria 1 ano brevemente. E naquele dia, pela primeira vez, pediria ao seu pai para deixá-la dormir na casa do garoto.

Desejou com todas suas forças para que desse certo, mesmo já ouvindo em sua mente um sonoro não.

— Pai, posso conversar com você? – perguntou Audrey, deixando nítida a insegurança em sua voz.

Harry, sentado ao sofá, assistia a um programa de esportes. Sem desviar muito o olhar da televisão, respondeu singelamente:

— Sempre, minha querida.

A menina engoliu em seco.

— O Ivan começou o 3º ano, então ele vai se dedicar muito mais aos estudos esse ano – introduziu, exibindo uma construtiva visão de seu namorado, na expectativa de que isso ajudasse no convencimento. Seu pai mantinha o olhar no programa, mas não parecia prestar alguma atenção no que via. – Pra podermos aproveitar o tempo que ele tem livre, já que sua escola não está muito puxada ainda, queríamos que ele dormisse em casa amanhã e no sábado... Eu na casa dele.

A solicitação foi ao ar, o que aumentou a tensão em Audrey. Além do "não", esperava um longo discurso. Durante o silêncio, ela se arrependeu da pergunta. Mas não voltaria atrás.

— Tudo bem? – arriscou a garota, com a voz baixa e tremida.

Após um longo suspiro, Harry finalmente se virou em direção à sua filha, mirou em seus olhos e com um olhar levemente triste, respondeu:

— Tudo.

A garota teve de se concentrar por um segundo, para ver se escutara certo. Encontrava-se ao pé da escada e seguiu reto, chegando ao encontro de seu pai. Caminhou com passos suaves, mas era evidente a felicidade da garota em todos os pontos de seu corpo, principalmente no largo sorriso formado. Deu-lhe um abraço muito apertado, cujo não fora retribuído na mesma intensidade. Então Audrey, temendo a situação, refletiu sobre o triste olhar de Harry, julgando ser um indicativo de algo soturno. Audrey sempre imaginou que quando seu pai a deixasse dormir na casa de Ivan, a decisão teria sido tomada com muita cautela, sem que Harry mostrasse qualquer insegurança.

— Pai, está tudo bem? – questionou Audrey ao soltá-lo.

— Claro – suspirou ele, com pesar. – Tudo sim, Drey. – Era uma resposta vazia de convicção.

— Mesmo? – insistiu Audrey, franzindo a testa, demonstrando que era difícil acreditar. Continuou a olhar para sua filha, deixando com que emoções vagassem em si. – É que ainda lembro bem do dia que você nasceu, e eu temendo que esse dia chegasse – ele abriu a boca para continuar, mas no mesmo instante se calou.

— ...Então quer dizer que quando eu nasci, você já me imaginava dormindo na casa de alguém que eu estivesse namorando – ousou a garota de um palpite esdrúxulo, para tentar fazer com que seu pai falasse algo.

— Não, filha. Claro que não – riu Harry, forçadamente. – Você já tem quase 16 anos, mas ainda lembro de te ajudar a sentar, a andar, de ficar fazendo aviãozinho pra te alimentar... E logo você já não vai mais depender de mim pras coisas.

Os olhos do homem brilhavam e ele parecia segurar lágrimas, então puxou Audrey para mais um abraço. Apesar de ter sido um abraço mais intenso, fora, igualmente, contristado; a expressão desanimada de Harry, o tom de voz oprimido e o clima um pouco tenso daquela situação, indicavam à garota que algo não estava certo. Como Harry assegurou estar tudo bem, pressupôs ser estranhamentos de sua imaginação. Correu para o seu quarto e mandou mensagem ao Ivan, contando sobre a novidade. Ambos estavam demasiados contentes. O namorado, pouco depois de receber a notícia, telefonou ao Harry, certificando-se se ele realmente não se incomodaria com a situação.

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