10º "Apresentações"

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Muitos alunos estremeceram. Estando entre estes, Audrey supôs que até os que já passaram por isso, deveriam sentir algum desconforto.

— Vamos começar com a Bernanda, que é uma das que está conosco há mais tempo – pronunciou Karen, enquanto a garota chamada se levantava.

Toda a atenção da sala se voltava para Bernanda, uma menina alta, com longos cabelos pretos, de bochechas rechonchudas e olhos puxados. Como Audrey imaginou, ela não demonstrou embargo por estar ali.

— Oi gente. Como vocês agora sabem, meu nome é Bernanda. Bernanda Suzuki. Vim de Pontal, interior de São Paulo. Estou começando meu quinto ano e tenho dezenove anos.

Sem parar para raciocinar, Audrey se virou para Helena com um movimento muito rápido, sibilando um "que", expressando muita dúvida. Audrey lembrou-se que os alunos daquele lado eram para ter menos de 18, segundo a explicação de sua mãe. Além de que Karen acabara de falar que tinha uma parte específica na escola para os maiores de 18 anos. Helena assustou-se com sua colega. Provavelmente era algo óbvio para ela.

— Só esclarecendo. Quando atingimos 18 anos, a mutação do nosso corpo altera-se de um jeito, que torna a virtude mais acentuada – explicou Karen. – Antes dessa maioridade, é mais difícil colocar em prática o poder. Ou seja, antes dos 18, é difícil executar a virtude. Depois, é mais difícil de controlá-lo. Mas isso equivale para a partir de quando ocorre a fusão. Como Bernanda passou pela fusão aos 15 anos, ela se encaixa na dificuldade para executar a virtude.

Ao lado de Audrey, sentava-se o menino que ela julgava ser um novato. Percebeu que ele, durante a explicação, dava pesados suspiros, parecendo cansado de ouvir as palavras dela. Chateou-se ao imaginar que era a única que via todo aquele mundo como uma imensa novidade.

— Ah, para os que não sabem, virtude é como, normalmente, chamamos os poderes. Agora sim, querida, por favor, continue – pediu, dando espaço a Bernanda.

— Minha virtude é invisibilidade.

Dito isto, ela fechou seus olhos por pouquíssimos segundos. De repente, sumiu. Apesar de saber como aquele poder funcionava devido a filmes que já vira, Audrey se encantou por ver aquilo ao vivo. Outrossim, foi envolvente vê-la reaparecer. Estava visível ao lado da porta.

— Muito obrigada – agradeceu Karen a Bernanda, enquanto os alunos aplaudiam. – Parece que ela já sabe perfeitamente como usar seu poder, não é? – A maioria assentiu. – Mas não. Querida, poderia nos mostrar de novo o que você sabe. Não precisa ser com o corpo todo.

Novamente a garota fechou seus olhos. Em três segundos, as pernas de Bernanda não eram mais visíveis. Ela ia de um lado para o outro da sala, mas ninguém conseguia ver suas pernas se movendo. Logo em seguida voltou ao normal.

Bernanda olhava para Karen com um sorriso vazio, sabendo onde estava seu defeito.

— O erro foi fechar os olhos e se concentrar por poucos segundos. Ela consegue controlar muito bem sua virtude. O que falta, que é o que irei trabalhar com você, é sumir com exatidão – explicou Karen, segurando em seu braço, parecendo querer demonstrar confiança. O tom da professora parecia mais como uma amiga falando, do que alguém apontando defeitos. – Quem será o próximo? – Karen se dirigiu à classe.

— Eu vou! – exclamou uma voz feminina, ao lado de onde Bernanda se sentava.

— Que ótimo, Paula. Obrigada pela espontaneidade – agradeceu Karen, demonstrando surpresa por uma rápida pronúncia.

Então Paula chegou ao lado de Karen.

Seus olhos se encontraram com os de Audrey e ela lhe lançou um sorriso desdenhoso. Audrey soube o porquê. A reconheceu instantaneamente, só não queria acreditar. Mas sim, era. Uma garota sardenta que, anos antes, Audrey até achava fofo, mas até esse detalhe sobre ela chegou a lhe incomodar. Aqueles mesmos olhos e cabelo escuros, o qual agora estava na altura do ombro.

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