7º "Poderes"

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Daquela vez, Audrey não desmaiou.

— Mãe... – estremeceu a garota. Permaneceu parada com o olhar fixo, onde seu pai estava presente há poucos segundos. Já presenciara uma cena quase idêntica àquela. O diferencial, era que nesta ocasião, havia uma linearidade dos acontecimentos. E ninguém mudaria sua opinião de que era algo real.

Ia perguntar o que acontecia para sua mãe, mas não deu tempo.

— NÃO – berrou Laís, caindo de joelhos à grama, com a respiração ofegante. Respirava profundamente, tentando recuperar o fôlego. O que não parecia ter êxito.

Os próximos minutos pareciam não acabar a Audrey. Sua mãe tentando puxar o ar intensamente a cada segundo e a garota travada em desespero, sem saber como reagir. Sentia suas pernas tremendo, o que a impedia de dar qualquer movimento. O que a lhe deixava mais agoniada. Sua mãe parecia que a qualquer momento desmaiaria e ela não iria fazer nada, até que... O ar novamente voltou a preencher os pulmões de Laís e a mulher colocou as mãos ao chão. Um tempo se passou, até que sua respiração pareceu normalizar.

— A gente pode entrar em casa? – pediu a menina. Queria sentar em algum lugar confortável, para tentar ter uma conversa civilizada e calma com a sua mãe. Esta apenas continuava agachada à grama. – Eu estou assustada, mãe. Vamos, por favor.

A garota teve de passar seu braço pela cintura de sua mãe, fez força para erguê-la e a conduziu até a sala. Com esforço, passaram pela cozinha e finalmente pôde sentá-la ao sofá, na expectativa de que ela se recuperasse do transe. Laís ainda tremia dos pés à cabeça.

Doía vê-la assim. Uma mulher que sempre a ajudou em tantos problemas e Audrey encontrava-se incapacitada de retribuir. Só conseguiu pensar em lhe trazer um copo d'água com açúcar. Enquanto Laís bebia, Audrey fazia carinho em sua cabeça, sentada ao lado dela. A garota pegou o copo quando sua mãe terminou e segurava sua mão. Esperou Laís recuperar o fôlego, antes de se dirigir a ela.

— Mãe, respira fundo e me conte – encorajou Audrey.

— Filha – disse Laís, com a boca tremendo, tentando se conter ao choro. Audrey, por mais curiosa que estivesse, temia a notícia trágica que achava estar prestes a escutar. Porém, ficou surpresa ao ouvir as palavras ditas pela mulher: – pega sua mala grande e quantas mais precisar. Faça uma mala com tudo o que der.

— Por quê? – quis saber Audrey, estranhando aquela ordem.

— Porque... Porque... – suspirava Laís, sem fôlego. – Digamos que nós vamos viajar...

— Mas... – começou Audrey, mas foi interrompida.

— RÁPIDO! – gritou Laís. Esta, percebendo a expressão de susto da filha, continuou orientando, ainda sem conseguir parar de tremer a voz. – Será uma longa viagem. Leve todas suas roupas e pertences que puder. Não deixe nada que acha que poderá lhe fazer falta – Por favor, apenas vá! – suplicou.

Sem parar para pensar mais um minuto, subiu correndo e começou pelo banheiro, por ter menos coisas. Juntos suas maquiagens sob o armário da pia e seus produtos de higiene, dentro do box. Correu para o seu quarto, pegou todas as malas de viagem e iniciou a organização dali. Conseguiu guardar a maior parte das roupas que tinha. Esvaziou sua escrivaninha, guardou seu notebook na mochila da escola – talvez precisasse estudar na tal viagem – e seu caderno de desenho. Por não saber o que iriai enfrentar futuramente, gostaria de ter aquele caderno junto de si, pois ao desenhar, conseguia se expressar de forma única, usando-o como um certo refúgio momentâneo.

Já iria descer, até que deu uma última olhada no quarto para ver se não esquecera nada e fitou suas fotos reveladas, que ficava em um pequeno mural sobre a cabeceira da sua cama e resolveu guardá-las. Observava uma por uma e quando as guardou, refletindo o porquê de tudo aquilo. Temia nunca mais conseguir boas recordações como havia naquelas fotos.

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