Ela estava deitada na cama com os olhos docemente fechados. A respiração ruidosa e superficial fazia seu peito subir e descer rapidamente. As mãos dele, sempre tão frias, agora estavam quentes e ávidas. Agarrava os quadris dela, a cintura, os seios, as costas. Estavam por toda parte.
Embora estivesse feliz, ela não sorria, estava ocupada demais prestando atenção nas sensações que o toque dele lhe proporcionava. A pele arrepiada, o calor insuportavelmente acolhedor, a vontade louca de fazê-lo sentir o mesmo. Seus dedos enroscavam no cabelo dele que normalmente caíam em largas ondas por sobre os ombros e sempre pareciam precisar desesperadamente de uma hidratação e, mesmo que na verdade ela nunca tenha gostado de cabelos compridos em homens, ela sabia que podia ficar horas só prendendo as pontas dos dedos naqueles fios rebeldes.
A boca que a beijava costumava ser sempre tão ríspida e irônica, quase não dava para acreditar que podia ser tão carinhosa e devoradora. A cara que ele fazia quando ela o arranhava era tão... tentadora.
O que ela mais queria era que aquele momento nunca acabasse.
Uma lágrima brotou em seus cílios e escorreu bochecha abaixo. Ela olhou para o teto, ainda deitada em sua cama. Só. As mãos que a tocavam não eram as dele, da mesma forma que a pele que sentia não era a de ninguém mais além da sua própria. O rosto calmo e os olhos serenos enquanto as lágrimas desciam em cascatas mostravam alguém que já havia cansado de lutar com aquele sentimento. Alguém que já havia entendido que um dia iria passar aquela dor toda, mas que até lá não iria adiantar lutar contra o choro.
Até lá, só lhe restava sonhar em ser feliz com ele. Enquanto ele era feliz com outra.
Estava fadada a sentir a falta de algo que nunca aconteceu.
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Rastros Do Cotidiano
Short StoryCrônicas sobre a vida de uma jovem adulta com problemas de primeiro mundo.