Sentada no assento da janela do ônibus, ela lutava contra a tristeza que a dominava. Observava a orla da praia passar como se fosse a tela de um cinema. Existia vida durante a tarde de uma quarta feira, espantou-se.
Fazia alguns dias que já estava distribuindo seu currículo para Deus e o mundo e até agora nenhuma resposta. Nem um "valeu, é nóis" ou um "nossa, sério que você acha que vai conseguir trabalhar aqui?", absolutamente nada. Nem de bom e nem de ruim. E isso a estava matando.
Não é que realmente quisesse trabalhar, raramente sentira algum tipo de prazer nos locais onde trabalhou, mas tinha que arranjar um emprego. A faculdade estava no fim e, sem ela, a menina não teria mais nada que preenchesse os seus dias. Não teria motivos diários para sair de casa. Sem falar na sensação de fracasso que a tomava toda vez que via seus amigos nos seus respectivos empregos, gostando ou não, e ela lá sem nada.
Por mais que soubesse que a atual conjuntura do país não estava nada favorável para ela, ou qualquer outro jovem desempregado, não conseguia deixar de sentir que ela era um problema. E no fundo, bem no fundo, a única coisa que queria era ficar em casa vendo séries, lendo livros, desenhando e escrevendo.
Como sentia falta de ser criança.
Não ter quase nenhuma obrigação, poder assistir o que quisesse o dia inteiro. Em seus devaneios quase sempre esquecia da parte ruim dessa época escolar como as provas, os professores chatos, o bullying, as amizades falsas. Tudo isso parecia ir se esconder num canto bem escuro e esquecido de sua mente.
Secou uma lágrima teimosa que resolveu desprender de seu olho direito.
Seu celular vibrou. Era um e-mail. Lentamente sorriu.
Olá, Menina.
Demos uma olhada no seu currículo e gostaríamos de marcar uma entrevista...
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Rastros Do Cotidiano
Short StoryCrônicas sobre a vida de uma jovem adulta com problemas de primeiro mundo.