As mãos dela tremiam enquanto as lágrimas caíam copiosamente pelas suas bochechas vermelhas. A respiração entrecortada indicava que logo ela começaria a soluçar igual uma criança que fora posta de castigo.
Num ímpeto, levou as mãos para o rosto se esquecendo que na esquerda jazia a arma do crime. Quase espetou o próprio olho com a faca que ainda possuía resquícios do que cometera.
Os grandes olhos outrora castanhos agora eram um misto de vermelho e marrom e fitavam aflitos o corpo que jazia no chão para todos verem. Precisava limpar aquela sujeira antes que alguém chegasse e visse aquela bagunça, mas seus pés estavam fixos no chão pelo choque. A única coisa que conseguia fazer era chorar e chorar e chorar.
A autopiedade a envolvia como um manto acolhedor, enquanto sua testa começava lentamente a latejar pelas lágrimas que vinham em turbilhão. "Não foi minha culpa!", queria dizer para todos e para ninguém em especial, mas sabia que era mentira. A culpa era sim sua. Se fosse mais cuidadosa nada disso teria acontecido e não estaria agora naquela situação.
Então, lento como a luz da manhã adentrando pela fresta da janela num quarto fechado a razão voltou gradativamente a tomá-la. Aquilo que estava caído ao chão não era nada mais do que um pedaço de manteiga que caíra da bancada enquanto ela tentava fazer brigadeiro. Num suspiro acompanhado de um sorrisinho tímido, ela secou as lágrimas e murmurou um "que tonta". Agachou-se lentamente para pegar a manteiga do chão e limpar a sujeira que fizera.
E foi assim que teve certeza de que estava na TPM.
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Rastros Do Cotidiano
Historia CortaCrônicas sobre a vida de uma jovem adulta com problemas de primeiro mundo.