"Oi, Menina!
Eu tô com mt saudade de ti"
Dizia a mensagem privada no Facebook.
"Lembra dessa música que a gente adorava tanto?"
A conhecida continuava.
"Te amo pra sempre!"
Ela concluía.
Fazia tanto tempo que a menina não respondia mais as tentativas da outra de voltar a ter contato com ela que quase já havia se esquecido disso. Que irônico, se orgulhava tanto de dizer como era impossível contar sua história sem citar a tão importante "melhor amiga" e agora mal se lembrava dela.
As sensações a invadiram num turbilhão: tristeza, mágoa, raiva, até desprezo; e ao mesmo tempo ela se sentia vazia.
Desde muito novas a relação já demonstrava traços de que não iria acabar bem. A garota não podia deixar a menina fazer outras amizades. Não. Ela deveria ser a única amiga dela de verdade. A garota não aceitava quando a menina não podia sair com ela, sempre que a mãe falava "não" a culpa era de sua melhor amiga que não se esforçava, que não insistia, que não estava nem aí para a amizade das duas. E se a menina tivesse combinado de sair com alguém e a garota a chamasse para sair no mesmo dia, ai da menina se não desmarcasse com a outra pessoa só para ver sua tão amada melhor amiga.
Ver aquela mensagem lhe dava um misto de saudade dos momentos bons que passaram e repúdio pelas tantas outras vezes que a outra havia sido controladora e ela permitira. As amigas que a menina magoara apenas para agradar a garota que estava em uma crise de ciúme, as brigas que sempre culminavam na menina chorando porque tinha que ouvir e ler coisas como "você é uma péssima amiga, não sei porque ainda te chamo de melhor amiga! Ninguém entende como eu ainda digo que você é a minha melhor amiga se você nunca se esforça para me ver! Você é a pior de todas as minhas amigas.", e tantas outras coisas mais.
A verdade é que as pessoas falam tanto de namoros abusivos que se esquecem que existem amizades assim. E a menina conviveu com isso desde o dia em que nasceu até elas completarem dezoito anos de vida. Foi nessa época, numa série intermitente de três dias de pura briga ocasionado pelo ciúmes da garota que ela decidiu que havia chegado ao seu limite.
A menina não iria mais aceitar esse tipo de coisa. Ela não iria mais ficar chorando e depois perdoar a outra com um simples abraço, ou um meio pedido de desculpas que sempre jogava a culpa nela do que havia ocorrido. Ela não queria mais isso para si.
Ver aquela mensagem a magoava mais, não por sentir falta do que elas foram, por saber que aquela amizade poderia ter sido linda se a garota não quisesse tanto controlá-la e se a menina não tivesse deixado por tanto tempo ser controlada.
Com um longo suspiro ela fez exatamente aquilo que já havia feito tantas outras vezes desde que elas pararam de se falar: ignorou a mensagem e tocou sua vida.
Ela não se permitiria voltar a passar por tudo aquilo.
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Rastros Do Cotidiano
ContoCrônicas sobre a vida de uma jovem adulta com problemas de primeiro mundo.