Capítulo 12 - Uvas com calda de caramelo e pantufas.

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A vida é meio ridícula às vezes, e em alguns momentos você se pega em situações que nunca imaginou estar, mas em se tratando de mim, eu já devia saber. Só que às vezes negar é o melhor, vai que convencemos nosso cérebro e a nós mesmos de que nada disso está acontecendo? Mas estava, e mesmo que eu não quisesse admitir já tinha quase meia hora que eu encarava a parede escura do meu quarto tentando me convencer de que não tinha acordado às três horas da manhã querendo comer uva com calda de caramelo. Isso simplesmente não podia estar acontecendo.

Suspirei me jogando na cama outra vez encarando o teto escuro, olhei a hora em meu celular, marcava três e vinte e oito da madrugada, isso significava que já tinha vinte minutos que eu estava acordada pensando em uva e calda de caramelo​, e mesmo que eu quisesse muito, não conseguia voltar a dormir, simplesmente pensando no quão deliciosa essa combinação parecia ser.

Desisti de tentar dormir e levantei da cama, ao que parecia eu não teria paz enquanto não comesse essa bendita uva com calda de caramelo. Tirei só o short do meu pijama e o troquei por uma calça jeans e coloquei meu sobretudo por cima da minha blusa com estampa de corujinha e sai do quarto.

Já tinha mais de uma semana que a tia Cassy e os pais da Lena haviam chegado​ e essa foi a primeira vez que eu realmente agradeci por sua teimosia em continuar no hotel, se tia Cassy estivesse aqui​ em casa hoje, eu não saberia explicar a ela o por que de eu estar saindo no meio da noite pra comer sem me entregar.

Passei pela sala e peguei minhas chaves e dinheiro e conferi uma última vez se o celular estava no bolso do casaco antes de sair. Assim que cheguei ao corredor, me vi em um dilema, não sabia se acordava ou não o casal do apartamento em frente. Era óbvio que sair sozinha de madrugada não era a melhor ideia que eu teria na noite, mas só de pensar o que eu poderia atrapalhar ou ver se eu batesse na porta deles agora, me fazia repensar a ideia de chamá-los pra ir comigo.

No fim decidi não atrapalhar, eu só iria até a loja de conveniência que tinha no fim da rua, não precisava de escolta, mesmo por que, se Miguel e Helena estivessem mesmo fazendo o que eu acho que estavam, eles nem ao menos me ouviriam bater.

Desci as escadas e não demorei muito tempo para chegar à entrada do prédio. Sai pelo portão desejando muito, muito mesmo que eu não me metesse em nenhuma confusão. Mas eu devia saber que alguma coisa ia acontecer, afinal era de mim que estávamos falando.

Andei pelas calçadas iluminadas sem maiores problemas, não havia muitas pessoas na rua a essa hora da noite, mas consegui identificar um cara de mochila, voltando sabe-se Deus de onde, um casal se pegando escorados em um muro e uma senhora na varanda de casa observando a rua. Tinha também alguns carros passando ocasionalmente pra lá e pra cá. Quando cheguei à loja de conveniências só faltei chorar, só podia ser brincadeira. Havia uma placa presa à grade com os dizeres "FECHADOS PARA REFORMA POR TEMPO INDETERMINADO".

- Há, qual é universo! - reclamei olhando para o céu estrelado. Alguém em algum lugar com certeza estava se divertindo as minhas custas.

Encarei a placa tentando decidir se voltava pra casa e tentava dormir assim mesmo ou ia até um pouco mais embaixo ver se a padaria estava aberta, o que levando em conta à hora da noite, era pouco provável. Estava prestes a dar meia volta e voltar pra casa quando um táxi passou despreocupado na rua ao meu lado.

- Hei! - chamei e o carro parou, como isso era claramente algum tipo de milagre, eu não ia nem questionar o porquê de ter um táxi passeando a essa hora na rua. - O senhor está trabalhando? - perguntei depois de me aproximar da janela, o motorista careca e barrigudo me olhou de cima a baixo demorando um pouco mais nos meus pés, depois voltou o olhar para o meu rosto e sorriu.

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