O primeiro poema do ano, no meio do ano

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Quero escrever com
estes dedos molhados
qualquer coisa que
seja mais bela do que eu.

Quero refletir neste solo
duro e másculo tudo aquilo
que nunca o espelho me mostrou.

Quero que estes vãos por onde
escorre todo o meu contaminado
sangue desague num esgoto.

Que cada pergunta que façam
sobre mim seja respondida
com trivialidade e indiferença.
Como se eu fosse um
nutricionista qualquer
de uma escola católica
do centro desta biltre cidade.

Que meu bastardo filho
seja humilhado por seus
tios e irmãos.
Que a ponta desta caneta,
à qual nunca dei um mísero nome,
perfure olhos de pais de família.

Pois este papel que risco
já está amarelo, mesmo que
não tenha um mês de comprado.
Já que a habilidade da vida
em envelhecer o mundo
é tão, assim, admirável,
que envelheça a minha memória
então.

Pois os motivos pelos quais
as primeiras palavras
foram escritas são
luxúria e ambição.

E os motivos pelos quais
paro de escrever nesta
estrofe são a vergonha
e a falta de esperança. 

- William Philippe 25.05.17

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