Tormenta

55 11 33
                                    

Já era noite quando saí de casa em direção à praia. 

Naquela época eu morava na cidade de Mizu, conhecida por todos do país como a praia mais bela do País da Água. Talvez você fique confuso com isso, mas no nosso "mundo" não existem continentes, países e estados como no mundo de vocês, aqui as coisas são diferentes, nosso mundo é dividido em quatro grandes países:

* País do Fogo;

* País da Terra;

* País do Ar;

* País da Água;

Cada país é dividido em distritos, e eu moro na cidade de Mizu, que fica no distrito 9 do País da Água. A quantidade de distritos que temos em cada país é variável, nem todos os países tem 9 distritos, alguns tem mais e outros tem menos. Mas não pense que existem apenas estes países, temos outros menores, geralmente são ilhas onde vivem clãs que se autodenominam um país. A cidade onde eu morava era divida em dois bairros, a Parte Alta, e a Parte Baixa, na Parte Alta da cidade ficavam os prédios, comércio, escolas, e a praia, as casas das famílias mais ricas de Mizu ficavam na beira da praia. Já na Parte Baixa, ficavam casebres minúsculos, pequenas casinhas amontoadas, feitas de restos de madeira, muitas ruas minúsculas entre as casas, alguns córregos e esgotos a céu aberto passavam entre elas. Eu, morava entre a Parte Alta e a Parte Baixa da cidade. 

Minha casa não chegava a estar entre as dos mais ricos, mas também não poderia ser classificada como a dos mais pobres. Logo, era uma casa mediana. 

Da minha casa até a praia eu levei em torno de 20 minutos caminhando, por sorte aquela noite estava estrelada e não haviam nuvens no céu.Quando cheguei mais perto da praia pude ver que meus amigos já estavam ali, conversando, sentados ao redor de uma pequena fogueira - aquelas de um luau discreto. Meus melhores amigos, além de Haru, eram Akira, um garoto que morava perto da minha casa e que jogávamos futebol às vezes, Ko, que era de uma família que se mudou para a cidade recentemente, fazia pouco tempo que ele tinha entrado para a mesma escola que eu estudava - era pequeno de mais para a idade dele. 

Haru que me viu chegando e logo veio em minha direção, trazia consigo uma sacola dessas de lojas de roupa, a família dele tinha uma loja no centro da cidade, vendiam artigos de esportes.

— Eu trouxe algo pra você - disse Haru, me entregando a sacola de compras - Peguei na loja dos meus pais, sei que a água do mar é bem gelada a noite, então achei que fosse precisar - era uma roupa emborrachada daquelas que surfistas usam, pelo que Haru me disse é uma roupa térmica, que iria me ajudar a não morrer congelado enquanto nadava.

Tirando o fato de eu estar com medo de nadar à noite para um lugar que dizem que é mal-assombrado, o mar estava bonito, calmo, e olhando da praia parecia um lençol de seda sobre a areia da praia, a luz da lua refletia no mar, como se estivesse se olhando em um grande espelho.

Troquei de roupa ali mesmo. Eu estava vestido como de costume, com um jeans velho, um tênis de que eu gostava muito, e uma camiseta da AquáticA, minha banda favorita.  

Como eu já estava de sunga, eu apenas vesti a roupa de surfista por cima, e apesar de parecer bem apertada até que era confortável. Fui até o mar e coloquei meu pé direito dentro da água. Estava muito gelada, já podia imaginar a gripe que eu ia pegar quando aquilo acabasse, não sei nem como eu ia me explicar para os meus pais quando me vissem todo molhado chegando em casa a noite, fora que, se a roupa não exercesse a sua função térmica, certamente não teria uma gripe...

Fui caminhando, adentrando o mar, até que a água chegou no meu peito, olhei para trás e vi meus amigos parados me olhando. Ko estava com cara de medo, assim como eu ele tinha muito medo de fantasmas, achei melhor não ficar olhando para trás, já que isso não ia me ajudar, na verdade eu já estava pensando em desistir, então mergulhei, e depois de algumas braçadas notei um barulho ao longe que parecia um trovão, quando olhei para o céu percebi que o tempo estava mudando. Acho que não preciso dizer que o meu primeiro instinto foi voltar para a praia. Assim que me virei pude ver o pessoal na praia olhando para o céu, estavam espantados, como se estivessem vendo realmente fantasmas. 

Por mais que eu batesse os braços e as pernas, notava que não saia do lugar, era como se eu estivesse me debatendo sem me mover, em um certo ponto comecei a achar que estava me afastando da praia, como se algo estivesse me puxando para trás, parei de nadar para olhar melhor se ainda estava muito longe, e impressionantemente eu achava que não tinha nadado nada, a essa altura a chuva já estava caindo, e não era uma simples garoa, era uma chuva torrencial, dessas que todos tem que correr pra se proteger - tipo chuva, chuva.

— Anda logo, Makoto!! - Gritava Haru, enquanto os meus outros amigos corriam em direção a cidade, para se proteger. Apenas Haru continuava na praia. Eu sabia que, mesmo debaixo de chuva ele não me abandonaria.

Senti algo passando entre as minhas pernas, uma sensação estranha. Sabia que não poderia ser tubarões ou algo do tipo, o mar do País da Água é conhecido como o mais calmo de nosso mundo, então olhei para baixo tentando vislumbrar alguma coisa, então senti algo agarrar o meu tornozelo, rapidamente tentei me desvencilhar, me debati na água tentando me livrar do que quer que estivesse me segurando, mas não foi o suficiente, em um único puxão eu fui sugado para dentro do mar agitado pela tormenta, podendo ouvir ainda, um último grito de Haru na praia, e então eu estava embaixo d'água.

Por algum motivo eu senti minhas forças se acabando, na medida em que ia me afundando, e eu estava indo para baixo, e mais para baixo, e quanto mais fundo eu ia, mais eu me sentia morto por dentro, como se minha vitalidade estivesse se esvaindo a medida que meus pulmões se enchiam de água. Até que...

O Shaman da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora