Wakusei

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Já estava em casa a quase três dias, não aguentava mais ficar preso. Segundo o médico que me atendeu eu deveria ficar em repouso por cinco dias, mas eu me sentia muito bem, já caminhava, já corria dentro de casa, até sai para dar uma caminhada na rua da minha casa, até que a minha mãe descobriu e me trouxe de volta me puxando pela orelha. Nesses dias em que fiquei em casa meu quarto foi minha fortaleza, era o local onde eu mais gostava de ficar, não era um quarto grande, mas tinha tudo que eu precisava, na parede bem ao lado da porta ficava minha cama, eu dormia com os pés para a porta por que gostava de ver quem entrava, em frente à cama eu tinha uma escrivaninha pequena com alguns livros da escola e um caderno de anotações, ao lado da pequena mesinha o lixo cheio de papeis amassados, eu testava várias teorias diferentes, adorava ciência e matemática, eu estava projetando um braço robótico para a feira de ciência que iria acontecer dali a um mês. Eram quase oito horas da noite quando bateram na porta do meu quarto, eu já sabia do que se tratava, meu pai tinha uma janta especial para ir no trabalho e minha mãe iria acompanha-lo.

— Makoto, posso abrir a porta? — Disse minha mãe, ela era bem educada e odiava invadir o espaço das outras pessoas, ela jamais entraria no meu quarto se eu não permitisse.

— Claro mãe! — Eu estava deitado na cama lendo um livro, como eu não podia sair acabava lendo muito já que tinha vários livros comprados e quase nenhum lido.

— Estamos saindo querido, voltaremos de madrugada, não espere por nós. — Abaixei o livro e olhei para a porta, minha mãe estava muito bonita, usando um vestido longo e branco, ficou parada na porta segurando a maçaneta e me olhando esperando a resposta.

— Tudo bem mãe, vou dormir daqui a pouco.

— Certo, até amanhã querido. — Disse ela saindo e fechando a porta do meu quarto.

Mais alguns segundos e pude ouvir a porta da rua batendo, em seguida o carro ligando, e enfim o som do motor sumindo pela rua onde eu morava. Fechei meu livro e fiquei deitado olhando para o teto, estava pensando em várias cosias, em tudo que tinha acontecido, nunca mais tive aquela sensação de o tempo estar parando, muito menos havia corrido por ai para testar meus "super saltos", e esse pensamento foi justamente o que me deu uma ideia maravilhosa: porquê não sair para dar uma volta agora à noite?  Eu estava sozinho, ninguém ia saber de nada.

Levantei da cama, peguei um casaco que estava jogado em cima da cadeira da escrivaninha e calcei meus tênis de corrida, fui para cozinha e peguei uma pequena garrafa no armário que ficava ao lado da pia, a nossa cozinha não era muito grande, mas tínhamos tudo que precisávamos, uma pia pequena com uma ilha bem na frente, o armário que ficava ao lado da pia e o fogão ao lado deste, enchi minha garrafa com água da torneira e me dirigi para a saída da frente, sai de casa e tranquei a porta, passei pelo pequeno portão do muro que cercava nossa casa e enfim estava na rua, ela estava deserta, já era noite então todos estavam em suas casas, a maioria das casas na minha rua tinham muros não muito autos, a medida média era de um metro e oitenta centímetros.

Comecei a caminhar e a pensar onde eu poderia ir para me testar, por algum motivo me ocorreu que eu poderia tentar subir em uma casa baixa primeiro, eu subira em um prédio de três andares com um único salto naquele dia, talvez seria melhor começar por baixo. Não muito longe de onde eu morava encontrei uma casa de um único andar que aparentemente não tinha ninguém dentro, o muro desta casa era bem pequeno, batia na minha cintura, e não via nenhuma luz emanando da casa, então pensei que não haveria problema de tentar pular em cima dela. Fui caminhando bem devagar para a lateral da casa, lá tinha um pequeno beco com um espaço não maior do que o suficiente para uma pessoa passar, olhei para os lados e não vi ninguém, pulei o pequeno muro e parei enfrente a parede da casa. Fiquei uns dez minutos parado tentando tomar coragem para o salto, a casa deveria ter cerca de três metros de altura, com certeza seria impossível para uma pessoa normal pular essa altura. Saltei. Coloquei todas as forças que pude nesse salto, percebi meus pés saindo do chão e eu estava cada vez mais perto do meu objetivo, mais perto, e mais perto, e então veio a dor, a dor da minha cabeça batendo da parede da casa. Eu não tinha saltado nem um metro, bati com a cara parede da casa e doeu bastante.

O Shaman da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora