Capítulo 7 - O primeiro amor

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CALEB

As paredes eram brancas, assim como o teto, a luminária e a maioria de todos os moveis que estavam ali. O único som que se podia ouvir naquele quarto era o de bips que tocavam em uma melodia melancólica que ao mesmo tempo que tranquilizava meu coração e o deixava em pânico.

Depois de tantos anos, depois de tudo o que passei para ter ele ali, meu único filho estava preso em uma cama de hospital, entre a vida e a morte. E por mais que eu tenta-se controlar meus impulsos de não chorar, eu não conseguia. Sempre fui forte, eu tinha que amparar Joshua e ele, mas agora sem ele que era um dos meus alicerces como eu faria?

Não era uma dor apenas minha, mas esta se dividia com Paloma e seu namorado, entre meu marido e eu e Math. Sua respiração era feita com auxilio de aparelhos e os exames iniciais não nos traziam boas noticias, e a vigília ao seu lado já se estendia a duas semanas. Nenhum de nós ousou sair de perto dele por muito tempo.

A esperança de vê-lo dar o menor sinal de vida era maior que qualquer coisa, o relógio marcava oito e meia da noite e Math já devia esta ali, para me substituir, mas ele estava atrasado. Caminhei ate a porta e olhei para o pequeno amontoado de pessoas que se aglomerava em volta de dois garotos que pareciam brigar.

O cabelo preto avermelhado junto com os olhos verdes e os cabelos em forma de caracol me fizeram recordar de quem se tratava, e logo depois o garoto que era segurado pelo namorado de Paloma e Joshua gritava. Segui ate onde toda aquela balburdia se concentrava e olhei para a Math, dei-lhe um tapa na cara e ele me olhou sem entender nada. Olhei para o outro garoto, parecia constrangido. Era Jonas Black. O primeiro amor de meu filho.

Ele estava sentado na minha frente na cantina do hospital, seus ombros pareciam tensos. O olhei com calma e o deixei que ficasse a vontade para falar comigo. Ele respirou profundamente e colocou uma das mãos sobre a mesa.

- Sr. eu juro que não...

Fiz um meneio de cabeça negativo. Me aproximei da mesa e o olhei nos olhos. O mesmo olhar que tinha na face quando espanquei um dos gêmeos Albuquerque.

- O que você quer? – perguntei de maneira curta e grossa.

- Vim saber como Gui esta...

- E o que faz você pensar que merece ter alguma informação sobre o MEU FILHO. – respirei fundo e olhei para o teto.

- Sei que não é um bom momento Sr., mas eu amei seu filho.

Minhas mãos bateram na mesa com força.

- Amou meu filho? Você nunca amou e não ouse usar esses termos com ele. Aquele garoto lá fora, que não saiu daqui a duas semanas, ele, aquele garoto que eu deveria ter deixado te encher a cara de porrada. Ele ama meu filho. A única coisa que você fez foi meu filho sofrer. Isso foi a única coisa que você conseguiu fazer por alguém que te deu tudo o que podia.

Silencio.

- Mesmo que Guilherme nunca tenha dito nada na época, você acha que eu não percebi como vocês tinham se aproximado e como você fez ele se sentir depois que preferiu ficar escondido de todos para se manter dentro da masculinidade, da necessidade de se sentir homem e se vangloriar que comeu varias garotas, e que fudeu o viadinho da escola. Você acha que eu não sei da merda que você fez com meu filho! – minhas mãos já estavam presas em seus colarinho.

- Caleb! – Joshua gritou.

Imediatamente soltei o garoto e me virei caminhando indo em direção ao meu amado marido. O abracei e sussurrei em seus ouvidos um pedido de desculpas pelo ocorrido. Então paloma aparece com cara de assustada, meu coração imediatamente se acelera e sem pensar meu corpo já estava correndo.

Havia várias enfermeiras e o médico do meu filho, por alguma razão tudo começou a ficar mais lento, e minha visão foi tomada pela imagem do meu filho feliz e logo em seguida triste e se vida.

***

Guilherme parecia mais feliz nos últimos dias. Sempre estava sorrindo e cantando e não saia de perto do celular. Eu já estava a ponto de pensar que ele tinha arranjado uma namorada, mas esse não é o caso do meu amado filho. Os filhos dos Black vinha com alguma frequência a nossa casa e desde que isso aconteceu Gui tem estado diferente.

Joshua estava ocupado em seus afazeres domésticos matinais, sua face estava completamente concentrada em uma cebola que ele cortava com maestria de um chefe de cozinha, enquanto o azeite esquentava em uma panela no fogão. Ele riu, sabia que tinha notado minha presença ali.

- Tudo bem meu amor? – falou sem tirar os olhos da faca afiada que estava em suas mãos e atravessava a cebola.

- Sim. Estou observando você cozinhar. É incrível.

Ele riu. Me olhou com ternura, colocou a cebola na panela a mexeu e veio ao meu encontro.

- Esta tudo em?

- Claro. O que não deveria estar?

Joshua riu e voltou a panela, colocou um pano de prato em seu ombro e pegou uma tigela de carne cortada e temperada, jogando seu conteúdo a cebola e mexeu mais uma vez antes de colocar um pouco de água.

- Pelo menos sabemos de onde Guilherme herdou os códigos. – Disse rindo.

- Do que está falando?

- Conheço meu marido o suficiente para saber quando algo o preocupa e se não há nada conosco, então presumo que seja com nosso filho alegrinho que anda tendo visitas frequentes com o filho dos Black.

Derrotado me sento no balcão, o sorriso em meu rosto se desfaz, minhas mãos apoiam meu queixo e suspiro.

- Só não quero que nosso filho sofra.

- Ele não vai meu amor – Joshua se aproxima e me beija a testa – Ate porque ele esta na idade de experimentar as coisas. Nem ao menos temos certeza de que ele vai ser gay. Não se preocupe com isso. Hoje em dia os rapazes s curtem, não como a gente. – ele da um breve sorriso.

- Eu espero que seja realmente assim.

Os meses se passaram e meu filho continuava feliz, não havia nenhum sinal de que nada estava fora do lugar. Ele agia normalmente, cantava e faia todos os programas em família, mas Blake começou a vir menos em nossa casa. Joshua me confortava dizendo que isso era normal, que já havia passado o calor inicial e que tudo se acalmaria dali em diante.

A questão é que nunca fiquei realmente tranquilo com Blake, sempre algo me dizia que aquilo não iria acabar bem, que algo estava errado. Mas eu não poderia ficar preso as minhas desconfianças. Tinha que deixar meu filho viver e fazer suas próprias escolhas e se ele um dia quisesse ter um relacionamento com duas lesbicas e um filho com elas, sua família e ele seriam amados por Joshua e por mim.

Nós, pais, só queremos que nossos filhos sejam felizes independente de suas escolhas e seus erros. Queremos velos bem, e se por algum infortúnio da vida eles precisarem de algo para viver eu daria a minha vida, satisfeito, por fazer com que ele permanecesse vivo e saudável. Mas mesmo sendo pais atenciosos, não percebemos os sinais mais óbvios de que as coisas estavam indo para um lugar que não deveriam ir.

Só deus sabe o quanto me arrependo de não ter ouvido aquela vozinha interna que te alerta de que nada está bem, que tudo está uma merda. E infelizmente nós não poderíamos ter evitado o que já estava acontecendo. Porque apesar de todos pensarem que nosso filho era frágil, fraco, uma mulher em corpo de um homem, ele sempre o mais forte da família. Eu me arrependo de não ter dado fim a tudo aquilo antes mesmo que começasse, mas não temos controle de tudo, não sabemos de tudo.

+S[~S

Eu sou Demais - Livro III (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora