Estava eu, solteira, às vésperas do Dia dos Namorados, me sentindo o cocô do cavalo do bandido – o monte que fica na curva da esquina. Resolvo entrar num aplicativo, a "igreja da fornicação", como dizia minha tia (sorte ela não conhecer o meu passado). Fiz um perfil chulo só para começar, então começaram a aparecer homens bonitos, de todas as formas. Parei na hora, fui tomar banho e me arrumar, só não passei perfume. Ajustei a iluminação e bati várias fotos pela casa, alternando o cenário e trocando de roupa e penteado. Editei o perfil e subi as fotos.
Não venha com papo de sexo ou vai ficar no tédio. Papo legal é bom. Educação leva à educação.
Não sei de onde tirei tão profundas palavras (nada a ver comigo), mas salvei assim e comecei a guerra; em vinte segundos passou um rapaz, um ano mais velho, meio esquisito, barbudo. Curti e tudo iluminou, o céu se abriu. Match. Depois, comentando com amigas, definimos essa combinação como um recorde à primeira vista. "Vinte segundos? É o Guinness Book da igreja da fornicação." De imediato começamos a nos falar.
Inteligente e humorado, perguntou o que eu faria no dia seguinte. "Dia dos Namorados?! Bom, vamos ver... tenho recursos pra responder, vida de juíza, né? Já viu. Depois tenho que receber o marceneiro que vai trocar a sapateira do meu quarto e... preciso decidir o desenho da minha tatuagem nova. Nossa, tô ferrada." Ele mandou um "hehehe" e me convidou pra tomar café da manhã. Não sei como ele decifrou minha resposta e descobriu a verdade: eu não ia fazer nada no outro dia, talvez ouvir Marília Mendonça com um pote de sorvete – chorando. (O cara é inteligente, eu sabia.)
No dia seguinte, ansiosa, esperei o sujeito em frente à cafeteria combinada. Quando ele chegou, meu coração berrou; há muito eu não sentia a coceira de primeiro encontro – até porque, ultimamente, eu só conhecia gente no escuro de "salas proibidas". Aproximou-se, sorriso legal, calça jeans, blusa polo e tênis; me abraçou. Cheiroso e mais alto do que eu. Entramos, pedimos café puro. A conversa fluía. O cara seria "o perfeito" se o tempo parasse ali! Resolveu me beijar, brusco. Beijo bom; esquisito, mas bom; barba pra todo lado. Passamos a manhã em meio a outros cafés e outros beijos; pedimos bala de hortelã pra aliviar o gosto do beijo. Esquisito, mas bom. Ele jogava a bala na xícara; barba, café e hortelã.
Falamos sobre profissões, política; mas o foco ficou nos nossos hobbies. Adorávamos séries e filmes. Ele não curtia série de época. "Tem muito cara barbudo, não gosto de barba." Esquisito e humorado. Era o cara ideal pra se passar uma manhã chupando hortelã e beijando. Almoçamos sanduíche. O tempo terminou, era o último dia dele na cidade, o barbudo tinha um defeito grave: mais de mil km de distância – instalador de antena de rádio, sempre em viagens; era bom no que fazia.
Me levou em casa e nos despedimos com um beijo ardente, com vontade de quero mais. "Vou voltar em algumas semanas, um serviço grande, aí fico uma semana." "Vou comprar um saco de bala e café então." Ri junto com ele, foi estranho, mas estava bom demais. "Quero fazer algumas coisas com você", soprei no ouvido dele. Ele não comentou, talvez interpretara errado. (Eu e minha boca.) Tentei consertar: "Estou falando em coisas normais, sair pela cidade, parques, museus." "Ah, claro." Mais um beijo e um tchau rápido.
À tarde, me mandou uma mensagem do aeroporto, disse que um primo dele me conhecia. Um primo! Tudo desmoronou por causa de um parente, justamente o rapaz que eu tinha namorado meses antes, o cara que transava comigo numa casa de swing, e numa boate gay, e no elevador de outro primo deles (que conseguiu a fita de segurança, por sinal). Eu não sou machista, o meu barbudo também não, mas o desconforto foi inevitável. "Quero fazer algumas coisas com você", ele me mandou, "é o que você fazia com o meu primo, né?" Não respondi, esperei passar a raiva, ele não podia pensar assim, era injusto e infantil – deixei o barbudo de molho, por dias.
A gente imagina que o passado não vá nos atrapalhar, mas não foi o que aconteceu. Quando eu resolvi chamá-lo na conversa, a foto do contato dele era outra. Ele e uma mulher. O Facebook me mostrou que começaram a namorar no dia anterior. No dia anterior! Deixei o cara de molho e no penúltimo dia de castigo ele assume o namoro?
Enfim, a manhã do Dia dos Namorados não saía da minha cabeça. O olhar, as risadas e beijos. Ah, e o café! Aquele seria o meu primeiro término de um "não relacionamento" no Dia dos Namorados. Seria, mas eu não parei. Sou boa demais pra ficar quieta.
O Facebook me mostrou o dia em que ele estaria de volta para o serviço com as antenas (adoro stalkear pessoas e seus amigos, ainda mais quando o sujeito tem um grupo aberto de discussão de "trabalhos passados e futuros"). Fui ao salão, me depilei toda, peguei uma calcinha riscando e fui. O check-in nas redes sociais ajuda demais, cheguei poucos minutos depois. Uma mansão pronta, mas sem moradores; duas equipes instalando ar condicionado e meu homem no sótão mexendo na antena.
Parei o sedã no jardim e desci, meu perfume chegando antes de mim. Fui tão autoritária que ninguém duvidou ser eu a dona da casa. "Gente, podem deixar as coisas e tomar um café, vou tirar umas fotos aqui. Voltem à tarde." Subi, o salto trincando. E foi no sótão mesmo, meu Match nem conseguiu trabalhar depois, a perna ficou bamba depois que acabei com ele. "Viu? E agora? Vai ficar com quem?", falei enquanto enfiava a calcinha no bolso dele, perto do pau meio duro.
"Você ainda pergunta?", ele riu e me deu mais um beijo com muita barba. Foi tudo estranho: o lugar, a antena do lado, uma caixa de ferramentas, as pessoas aparecendo lá embaixo; mas foi bom, estamos juntos até hoje. Parei com o swing, mas ainda visito meu macho quando tem uma mansão vazia nas imediações.Por Bruno Godoi
É Amor via Wifi... Parece que deu certo!
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Olá, amoresss, feliz dia dos namorados! E começamos as postagens! \o/
O próximo conto será um dos escritos por mim, e fiquem ligados, porque ouvi dizer que a protagonista da história é a rainha dos apps!Data da próxima postagem: quarta-feira 14/06
Beijossss e compartilhem Amor via Wifi por aí!
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Amor via Wifi
ChickLitQuem nunca viu um fio dental cheio de espinafre, saiu com um avestruz machista ou entrou pra vida do crime, quando a ideia era amar? Nós, as cariocas e o mineiro autores desse livro, já! Isso tudo aconteceu numa internet muito distante, numa galáxia...