Mamãe foi passear

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Alto, palmeirense, confiável e divertido. Toco violão na praia e cozinho qualquer coisa.

Convenceu de cara pelo "cozinho qualquer coisa", ela adorava comer – vivia acima do peso. Começaram a conversar no chat, meses arrastando a prosa, falando de algum problema no trabalho e compartilhando fotos de arroz com feijão (dela) e salada com tilápia (dele). Desencontros constantes. "Amanhã não posso." "Sábado viagem a trabalho." "Domingo menstruada." "Quarta tem jogo do Palmeiras." Tudo pelo chat, ele alegou não ter redes sociais – teriam que se falar pelo aplicativo de relacionamento mesmo.

Mais meses, então marcaram passar o Carnaval na praia. Ele disse que o apartamento era do irmão mais velho – um pastor dedicado à família –, por isso não poderiam mexer na arrumação do lugar. "Não podemos nem tocar nas coisas, senão meu irmão fica deprimido comigo." "Own! Quero conhecer meu cunhado paizão." Riram e foram para o quarto. No caminho, ela viu fotos de crianças, de uma mulher e brinquedos em caixas. "Essa aí é minha cunhada. Foram ela e meu irmão pra Disney, deixaram os filhos com os meus pais." Own, uma família unida, ela imaginava, que sonho.

Passaram os quatro dias trancados no apartamento, fazendo tudo o que a imaginação mandasse; o notebook tocando filmes das mais variadas formas. Ela selecionara links que as amigas do grupo do WhatsApp disseram ser legais: "como chupar um homem", "como fazer seu homem bambear as pernas de tanto prazer", "aprenda com a rainha da punheta", "toque devagar aqui e veja seu homem girando o pescoço igual no exorcista". Ele comentou sobre alguns títulos, ela mandou ignorar e só assistir. O homem não refutou, até porque não viu nada de "faça sua mulher gozar", no fundo o sujeito riu de tesão e vontade de foder. Ela até gostou, pensou ter encontrado o amor da vida. "Vou fazer tudo o que você pedir." "Tá", ele só respondeu, e dessa vez ela não soltou o Own. Seu egoísta de merda.

Terça à noite voltaram pra São Paulo, despediram-se com beijos molhados, abraços estralando a lombar e promessas de amor.

Já na quarta, não conseguiu mais falar com ele. Bloqueada em todos os lugares possíveis; pediu o celular de uma amiga. "Não vou emprestar porcaria nenhuma, para de ser besta. O cara já conseguiu o que queria e você foi de vida louca porque quis. Agora para de chorar, você nunca mais vai ver esse homem da sua vida. Para de ser submissa assim, menina, não aprende, né?" Mas a amiga nunca esteve tão errada!

Duas semanas depois, o diretor marca uma reunião no banco em que ela trabalha. "O novo gerente operacional chegou, gente. Um profissional legal, é pastor, adora cozinhar em confraternizações de fim de semana e faz estudo bíblico sempre." Ela quase morreu de susto ao ver a cara do sujeito. Ele só fez de conta que não a conhecia.

Inconformada, tentou refrescar a memória do sujeito enviando vídeos por e-mail. "Fazendo seu homem gozar." "Goze e mande flores no dia seguinte!" Ele respondeu com uma corrente de Nossa Senhora e um pedido de ajuda de dez centavos por clique numa causa de transplante de córnea pra um idoso que cuida de um orfanato. Desgraçado, você não vai fazer isso comigo. Ainda, ele pontuou não crer em santas, mas achou a arte da corrente "bonitinha".

Ela marcou uma reunião com o "novo gerente operacional", foi com os olhos vermelhos, sem lágrimas – cheios de fúria. Abriu uma pasta na mesa dele: esposa e filhos, pastor de igreja, dono do apartamento. Ele disse pra ela fazer de conta que foi um sonho, pois não aconteceu nada, e se algo aconteceu, é algo que não é do bem: "Uma manifestação do desejo que passa do sonho para o lençol". E, se por ventura, algo de concreto tenha ocorrido entre eles, foi porque a esposa estava viajando com os filhos. "E foi um grande pecado, isso não é de Deus." Ela esperneou, disse que ele se arrependeria.

O tempo passou, ele não se arrependeu, age normalmente na agência como se a tivesse conhecido lá. "Oi, irmã, hoje teremos estudo do evangelho com o pessoal do marketing." De toda forma, ele cozinha para a equipe uma vez por mês – no apartamento da praia. A turma do banco desce para o litoral. A moça? Ela não perde uma refeição! Até ficou amiga da esposa do pastor, disse que o marido dela faz um frango assado como ninguém. "Você não viu nada, querida, a especialidade dele é vaca atolada." "Own!"

Por Bruno Godoi
Baseado em fatos reais

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Olá meus amores! E aí? O que acharam?
Quarta tem mais! \o/

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