Na realidade e nas grades

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A minha história não é muito diferente de muitas mulheres, mas posso dizer que a saudade que eu sinto dele é maior do que a distância que nos separa.

Eu era muito nova quando comecei a namorar o Eduardo. Nos conhecemos numa boate, os donos eram nossos amigos em comum. Além de ser nova, eu era louca e vivia nas drogas. Posso dizer que ele me tirou da vida que, no fundo, eu não queria para mim. Ficamos juntos uns sete anos. Por mais que ele tenha me resgatado da loucura, eu não aguentava suas saídas, suas traições, e também, suas mentiras. Foi quando nos separamos.

E eu sofri muito.

Logo depois da separação, comecei a trabalhar. Logo eu, que sempre fui dependente do Eduardo, tentei recomeçar e seguir a minha vida. Mesmo que às vezes ele me pertubasse e mandasse mensagens dizendo que me amava. Mas ele já estava com outra. Coisas de homens, sentimento de posse, eu acho.

A lanchonete na qual eu trabalhava era bem movimentada. Ficava em frente ao ponto final de um ônibus, e eu fiz amizade com muitas pessoas, principalmente homens. Nunca recebi uma cantada que me faltasse com respeito, eu até gostava de estar entre eles, porque eram engraçados e sempre traziam doces pra mim. Foi quando eu conheci Pedro.

- Você pode me trazer um café por favor? - Aquela voz grossa arrepiou o meu corpo.

Com o tempo começamos a conversar. Pedro não era motorista de um dos ônibus, era apenas um entregador da farmácia ao lado. Todos os dias ele passava pela lanchonete e me olhava. Eu retribuía. Depois que Eduardo saiu da minha casa, eu nunca havia sentido o meu coração bater forte. Eu tenho um jeito ogra, mas, no fundo, eu sou um amorzinho.

Todos os dias ele bebia o seu cafezinho na lanchonete, mas um dia, além do dinheiro para pagar o que consumiu, recebi um bilhete com o número do seu telefone.

Gelei. Estilo Lerigou.

Eu sempre pensei "Raphaela, liga logo para o cara!", mas não queria ser tão fácil. Enrolei o dia inteiro pra ligar, mas liguei apenas no final do meu expediente. E marcamos logo um encontro para o dia seguinte.

Fomos beber uma cerveja, eu estava de folga e ele havia trocado de horário no trabalho para poder me ver. Bebemos loucamente e depois transamos loucamente.

Continuamos ficando e ele sempre vinha para a minha casa. Dormia comigo, eu fazia almoço, tudo no perfeito amor que toda mulher quer. Quem disser que não quer está mentindo. E ele era bem gostoso e bonito, sabe? Mas tinha algo de errado e muito estranho. Um homem solteiro não ter um fim de semana livre comigo? Não me atender à noite? E ao mesmo tempo, como um homem casado iria dormir fora de casa? Bem, homens casados dormem fora de casa, é só inventar uma desculpa.

Mas ele inventava duas desculpas? Pra mim e para a esposa? Não sei responder, e até hoje, não sei a verdade. Só sei que quanto mais ele ficava comigo, mais o queria pra mim. E não o tinha. O trabalho ocupava tanto ele assim? Porque, logo depois, ele saiu da farmácia em que trabalhava e nos encontrávamos depois do trabalho.

Ela pensa que me faz de boba, foi quando comecei a ser mais esperta.

Deixei Pedro de lado. Dei um "gelo" mesmo. E nos afastamos. Triste? Não! Foi para o bem da nação e da minha vida!

Continuei no meu trabalho, feliz da vida, claro que tenho os meus dias ruins como qualquer outra pessoa, mas não esperava o amor acontecer na minha vida novamente. E quando a gente menos espera, é quando acontece. Isso se chama Destino.

Eu fiz muitos amigos no meu trabalho e ao redor dele. Até mesmo na farmácia em que Pedro trabalhava. Um balconista tornou-se um grande amigo, Jeová. E no tempo vago, entre um cigarro e outro, eu sempre ia na porta da farmácia e nós sempre batíamos um papo e soltávamos várias risadas. Foi quando conheci Gabriel.

Gabriel era alguns anos mais novo do que eu. Ele já havia morado por lá quando criança, e voltou, porque seus pais haviam se separado. Com isso, ficou um pouco rebelde e resolveu ir morar com o seu avô. Morava numa casa bem bonita e grande na rua detrás. A família de Gabriel tem uma situação financeira confortável e nada faltou pra ele.

Sempre fui muito simpática e de sorrisos. Sempre fiz amigos com facilidade e com Gabriel não foi diferente. A diferença de idade não me incomodou. Até então, nós éramos apenas amigos.

Os dias foram passando, e percebi que Gabriel me olhava diferente. Não, eu não estava maluca, ele me olhava diferente de verdade. Minha ficha caiu quando ele me chamou pra sair. Aceitei na hora, é claro! Ele é tão fofinho, tão "cute" como eu costumo dizer...

É, eu encontrei o amor.

Começamos a namorar. Eu comecei a frequentar a casa dele. Ele começou a frequentar a minha. Sempre quando ele dormia na minha casa, sempre me deixava no trabalho. Depois ia me buscar e dormia novamente na minha. Sabe aquele sentimento que você não consegue controlar, e o que as pessoas falam sobre a diferença de idade não importar? Então, eu estava feliz.

Ele estava rebelde porque os pais haviam se separado, conheceu uma galera "não bacana" aonde morava. Não usava drogas, mas cometeu pequenos furtos e me deixava curtir o que eu gostava de curtir: beber muito. O passado dele não me interessava, pra ser sincera, até hoje não me interessa muito o que ele fez de errado, e sim, a mulher em que ele me transformou e no homem que ele é pra mim.

Só que o meu coração foi partido.

Ele não dormia na minha casa todas as noites, e numa dessas noites em que ele não estava, não dormi direito. Sabe quando o coração pesa e tem algo de errado? Então, foi assim até o despertador tocar e chegar a hora de ir trabalhar. Chegando no trabalho, todos me olhavam com receio. Foi quando recebi uma ligação do avô dele, contando-me o que havia acontecido.

- Raphaela, minha filha, Gabriel foi preso. - Eu surtei.

Gabriel furtou uma moto que estava "abandonada" em sua rua. Só que foi pego em uma blitz, e como estava sem carteira de motorista, foi detido pelos policiais. Nesse meio tempo, o dono da moto havia ido na delegacia para informar o furto. Foi quando ele ficou preso.

Desde então, há dois anos, eu vivo nesse amor entre as grades e nossa internet. Nos falamos todos os dias e eu não o vi mais. Vocês devem estar se perguntando se fui vê-lo. Não, eu não fui. Vários sentimentos confusos, entre eles, o medo da burocracia.

- Oi, meu amor, estou com saudades. - É a mensagem que mando todos os dias para ele.

- Eu também. - Quando ele responde, meu coração acelera.

O whatsapp nos aproxima.

Não sou do crime, sou honesta. Trabalho e pago as minhas contas. Mas me apaixonei por um cara que foi preso. E não vou desistir desse amor. Torço para que ele saia logo, e que as mensagens via wi-fi sejam apenas pra dizer que estou no mercado e que logo chegarei em casa.

Essa distância me dói, mas a internet nos salva.

Por Joyce Xavier
Baseado em fatos reais

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Oláá amoresss!
Gente, e o que acharam desse conto bafônico?

Sexta teremos mais um por euzitcha!
Beijosss

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