Falta algo aqui

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Clique e descubra, sou um poço...

"Interessante, o cara deve ter algum diferencial, desses de poucas palavras, curto e grosso", a menina pensou e deu Match. Na primeira conversa, falou que sofreu com o último crush e que agora não iria se abrir tanto, ninguém a faria de besta mais. "Claro, te compreendo", o Match novo respondeu, e disse ter tido problemas nos últimos relacionamentos também.

Combinaram de sair no sábado. No mesmo dia teve um churrasco à tarde, na casa de amigas. Ela começou com cerveja, a cota de sanidade dela são quatro latinhas – por fim, perdeu a conta. As amigas alertaram, mas ela replicou: "Estou bebendo pra criar coragem, poxa. Não quero fazer papel de besta mais." Por volta das 19h30min, foi ao encontro, antes, passou na cozinha e catou mais duas latinhas. "Ei, maluca", uma amiga gritou, "com essas, pulou pra quinze, viu?" Nem ouvira, já descia de elevador.

Encontrou o rapaz na porta de uma loja. "Trabalho aqui. Moro longe, aí resolvi ficar direto." "Beleza", ela deu os três beijinhos. A mocinha, cheirando a churrasco; ele, bola amarela nas axilas. Estavam quites, portanto.

O rapaz quis ir pra um barzinho; chegando lá, ela pediu uma latinha de 600. Bebeu devagar, simulando um espanto cômico, como se bebesse pela primeira vez na vida. "Não tenho costume de beber", disse ela, "mas vou te acompanhar um pouco." Ele não bebia nada alcoólico, pediu uma limonada suíça com leite condensado. Ela morreu de vergonha, olhando o gelo se formando na garrafa, a garganta coçando – excitada só em ver a coisa cilíndrica molhada.

Depois de muita conversa e mais três de 600 ml, ele viu que ela não tinha condições de nada. "Vamos fechar a conta e ir embora? Te deixo na sua casa." No caminho, ela disse que estava enjoada e mandou parar o carro; desceu, fez o que tinha pra fazer, voltou e perguntou se ele tinha papel higiênico. Com certa elegância, ele disse que se a vontade era fazer outra coisa, podiam procurar um lugar melhor. Ela riu: "É pra limpar a boca mesmo".

Quando chegou à casa, ela ligou pra amiga e contou o que aconteceu, reclamou que o rapaz não quis nem beijá-la. "Claro, sua tonta, com bafo de vômito?"

No dia seguinte, ele voltou pra visitá-la e perguntou como estava – rapaz atencioso. Continuaram saindo por quase um mês. Ele levava flores, bombons – mas nada de sexo. A menina pensou que seria porque ele aparecia direto do trabalho, com a característica bola amarela no sovaco. "Ele tá com vergonha de chegar sujo, sei lá. Chama o cara pra tomar banho", a amiga falou.

Não tinham passado nem das preliminares, ir direto para o banho poderia ficar estranho. De toda forma, ela seguiu com o plano. "Vamos... tentar sim", ele foi escorregadio; mas tentaram. Iriam tomar banho. Começaram a se beijar na sala, quando a coisa esquentou, ela não viu volume, esfregou a coxa, não sentiu pressão. O telefone dele chamou, quase matando os dois de susto. Todo atrapalhado, ele atendeu: "Putz, arrombaram a loja. Tenho que ir lá desligar o alarme. Temos que parar, tá?" "Tá, feche a porta quando sair."

Só se viram na outra semana, ele teve diversos compromissos aleatórios, todos de última hora. Ela já estava agoniada, pegou o telefone e ligou, nada de WhatsApp, nada de chat de Instagram, nada de inbox no Facebook. Falou: "Quando você fechar a loja hoje, te pego e vamos pro motel", desligou. O sujeito não ia se esquivar mais.

Tinha cama, banheiro, sauna e geladeira com comida. Não havia desculpas, começaram, vai coxa, volta coxa, desce mão e pronto. A menina deu uma suspirada contida; teve a maior decepção, ou a menor em toda a vida de aplicativos. O rapaz disse que tinha vergonha, por isso demorou a ir, mas com todo jeito ela explicou que tamanho não era problema e fez o homem feliz, só ele foi feliz – usou a ponta da língua e os indicadores. (A coisa era do tamanho de um dedão fazendo joinha, o apelido do cara virou Botão Curtir.)

No dia seguinte, ele mandou entregar uma cesta de café e um buquê de rosas. Foi na agência em que ela trabalha, e a matou de vergonha, pois todos os companheiros queriam saber o que ela tinha feito de tão especial com "o rapaz tímido da loja que ninguém conseguia conquistar". "Conta logo, amiga." "Ah, gente, tenho pouca coisa pra contar, pouca mesmo."

Continuaram saindo por mais duas semanas, mas ela terminou, disse faltar alguma coisa na relação. Voltou para o aplicativo. "Vamos lá, a busca continua, mas agora nada de poucas palavras, quero logo um perfil cheio de texto, bem cheio mesmo."

Por Bruno Godoi
Baseado em fatos reais

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Olááá amores, e aí? O que acharam?
Quarta-feira tem mais! \o/

Beijossss

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