"Eu tenho que o fazer."
Era esta a frase que se repetia na minha cabeça, enquanto os meus dedos trémulos percorriam a tela do meu telemóvel em busca daquele número.
Estava demasiado nervosa.
Só via a lista de contactos passar rapidamente pelos meus olhos, mas a minha atenção não me deixou ficar mal. Logo que vi o nome dele passar, parei de mexer na tela.
Carreguei no nome. Agora tinha na minha frente três possibilidades: ligar, mandar mensagem ou então mandar mensagem de voz.
Eu sabia o que queria, mas mesmo assim, pensei de novo.
Mensagem de voz? Completamente ultrapassado. Mandar mensagem? Não. Isto não era coisa que se dissesse por mensagem. Vou ter mesmo que lhe ligar.
O meu dedo hesitou, mas a minha vontade e foco falaram mais alto.
A tela mudou logo e apareceu a foto dele, feliz e sorridente como sempre, com a sigla"BFF" por baixo. O telemóvel tocou uma, duas, três...
Ia para desligar e desistir daquilo que agora já parecia mais uma loucura que outra coisa, mas apareceu o contador no canto do telemóvel .
Ele tinha atendido.
Senti quase como se tivesse um buraco na garganta e a minha voz saiu um bocado esquisita, quase num esgar.
-Olá...Daniel...
-Oi Anne! Estás com a voz um bocado estranha...
Aclarei a voz.
Inspirei...
Expirei...
"Calma".
-Não é nada. Mas, ouve, eu tenho uma coisa importante para te dizer.
-Anne, eu estou um bocado ocupado. Diz rápido...
-Daniel, eu gosto de ti!- disse eu quase num grito.
A chamada caiu. As minhas esperanças, sonhos, o meu coração...tudo caiu nesse momento. Ele tinha desligado.
***********************************************************************
Sentei-me nas escadas e mergulhei a minha cabeça no passado.
Não era no presente que a minha felicidade se encontrava agora, mas sim no passado. No passado onde eu não tinha tido esta ideia louca, onde não me tinha apaixonado por ele. Na época onde éramos apenas bons amigos e nada mais.
Ou até quando éramos apenas desconhecidos. Quando passávamos no corredor da universidade e andávamos na mesma sala do curso de medicina, mas não fazíamos a mínima de quem era o outro, ou se o outro existia.
Isso podia ter durado e podia nunca o ter conhecido, esta chamada nunca ter acontecido.
Mas não.
Ele tinha que ter melhor nota que eu, que era a melhor aluna, nos testes da disciplina. E eu, tinha que ser curiosa ao ponto de tentar conhecer a pessoa que tinha-me conseguido "derrotar", o que me deixava completamente enraivecida.
Consegui através de alguns amigos meus, encontrar-me com ele.
À primeira vista, parecia uma pessoa simpática, educada, culta, mas mesmo assim eu não ia com a cara dele. Ainda estava um bocado chateada por causa das notas.
VOCÊ ESTÁ LENDO
The song's book
Short StoryMuitas pessoas ouvem músicas todos os dias, mas como seria se essa música fosse um conto que toda a gente pudesse ler? A resposta está aqui. Vale a pena ver! 1º lugar na categoria "Contos" do Projecto @EuTudo! PS: Deixem nos comentários as músicas q...