A cruel crise do papel

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T: AAAAAAAAAAAA ELE ME DEU O NÚMERO DELE, LAISA!!!

L: FICA CALMO TOMÁS, RESPIRA VIADO

T: O que eu faço? O que ele quer? Uma ficada? Ficar, pra mim, virou tão ZzzZzZz

L: Tu só ficou com 3 caras, não vai se achando a Gretchen do rolê não

T: Sei lá, seria legal se ele quisesse tomar um sorvete, assistir um filme...

L: ...E depois te jogar na parede e te beijar loucamente.

T: Tá estragando a magia, sua devassa

L: Só to dizendo que vcs nem se falaram, tu só tentou tirar uma foto dele e foi fail... Não espera que nasça um romance da Disney disso

T: É, vc tá certa... Só vou ligar pra ele e ver no que dá, sem expectativas

L: E devassa meu cu, eu não me agarrei com o Lucas no banheiro pra tirar o BV

T: NÃO ME JULGA

T: E PARA DE FALAR DISSO

...

Mesmo após um dia cansativo de aula e muitas conversas no WhatsApp com a Laisa, que me deixou sozinho essa semana porque pegou dengue — maldito Aedes Aegypti! —, eu não conseguia parar de pensar no que aconteceu mais cedo. Ainda bem que o Aristóteles não reclamou muito, eu não estaria no clima pra isso.

A primeira coisa que eu fiz ao chegar da escola foi ir direto ao meu quarto e passar um bom tempo encarando o papelzinho que o desconhecido havia me entregado. Li, tentei encontrar algo nas entrelinhas, amassei e joguei no lixo, para depois pegar de volta e desamassar... Várias vezes. Sério, inúmeras vezes mesmo.

Por que ele iria querer manter contato com um estranho — em vários sentidos — que tenta tirar fotos dele e nem consegue fazer isso direito? Argh, Tomás, para de pensar demais e aproveita, liga pra ele! E para de discutir consigo mesmo nos seus pensamentos!

Com tantas coisas na cabeça, decidi relaxar. Joguei o papel no lixo uma última vez e me atirei na cama. Uma simples cama de solteiro, feita com uma madeira grossa e resistente de cor clara. Me estiquei por cima do colchão coberto com um lençol branco, e descansei minha cabeça no travesseiro rechonchudo. Peguei, logo abaixo dos meus pés, meu edredom com estampa de galáxia e me cobri, mas o frio que eu sentia era mais na barriga que no corpo. Não que eu estivesse criando expectativas, procurei me agarrar ao que a Laisa disse, mais forte do que me agarrei com o Luc... Caham, mas o nervosismo é inevitável numa situação dessas, né? Né?

Resolvi respirar fundo e tomar uma atitude de vez...

Mas antes, um banho relaxante pra ajudar a pensar, né?

...

Voltei do banho, ainda esfregando minha toalha do Ben 10 na cabeça para secar meus cabelos espetados, com uma bermuda de moletom azul, pois sou uma criatura civilizada que não anda sem roupa pela casa. Entrei no quarto assobiando feliz, decidido a buscar o papel pela lixeira mais uma vez para telefonar pro desconhecido do metrô e marcar pra tomar alguma coisa. Um sorvete, um refrigerante, um banho... O que eu tinha a perder?

Pelo que parece, a lixeira era o que eu tinha a perder, já que ela não estava em nenhuma parte do quarto. Depois de procurar umas cinco vezes por todo canto daquele cômodo, decidi chamar a pessoa mais apta a encontrar coisas naquela casa.

Mais um dia comumOnde histórias criam vida. Descubra agora