Coxinhas

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— Lucas?! — o que eu faria, além de exclamar de surpresa? Afinal, na minha frente estava o primeiro e felizmente único, Lucas Albuquerque, usando uma camisa xadrez em tons diferentes de vermelho e mangas curtas, com uma calça jeans preta e apertada acompanhando.

Seus sapatênis vermelhos gritavam "o papai chegou", e por algum motivo, ele estava de óculos escuros à noite. O cabelo preto e liso estava no mesmo penteado de sempre, médio dos lados e volumoso em cima. Novidade...

Parecia pronto pra dançar quadrilha, cantar em um show de sertanejo, ou me seguir e controlar minha noite. Eu o conheço bem, afinal, ele é meu ex, além de playboy-filhinho-de-papai em tempo integral. Mas agora, novas informações pra Pokédex: ele gosta de aparecer sem avisar em quase-encontros e é tão íntimo do meu crush que o chama de Jotaboy!

— Tá fazendo o que aqui? — perguntei, forçando um sorriso que não permanecia firme no meu rosto. Tentei disfarçar, lançando uma provocação pra mostrar que estava tudo bem, mas não estava. Senti minha noite e minha vida amorosa acabando ali — A diretora disse "sejam bem-viados", não "sejam bem-enrustidos".

— Nem vem, eu perguntei primeiro! — Lucas reclamou, ignorando a afronta, o que me fez estranhar. Ele não desperdiça uma chance de discutir. Será que começou a terapia de controle de raiva ou só está indisposto?

Seu rosto bronzeado, sem fugir da palidez natural, parecia confuso de verdade. Mas em dois segundos, ele fez o que eu rezei pra que não fizesse: jogou a merda no ventilador "Potência Turbo Máximo". Falei cedo demais, ele estava mais do que preparado para discutir.

Nem num encontro com outro cara eu escapo do Lucas! Foi o tempo de ele fazer um facepalm, frustrado, pra levantar a voz ao me dar bronca do jeito mais infantil possível — e olha que nosso namoro era baseado em "voxinea di bebê". Que garoto instável, parece comig--... Digo, com alguém que eu conheço.

— Eu te chamei pra vir comigo, mas você nem me ouviu e ainda me mordeu! Doeu, sabia? Na língua e no coração! — Lucas, o rei do drama de Gay of Thrones, atacou com o que faz de melhor: chantagem emocional.

— Se você perguntasse se eu queria sua língua enfiada na minha boca, isso não aconteceria! — respondi, esgotado e com o maior cinismo possível pra mostrar meu desprezo por aquele fingimento. Antigamente, eu cairia nesse joguinho, mas hoje não funciona mais.

Não sou briguento ou problemático — me chama de problemático e eu te pego na saída! —, mas o Lucas sabe puxar os outros pras brigas. Não digo que eu nunca tive culpa de nada, mas nenhum de nós facilitava. Quando terminamos, eu fugi disso, mas o estresse acumulado e o medo de arruinar tudo tomaram conta e me pressionaram a discutir.

— Você não aceitaria nem se eu insistisse! — ele argumentou, e muito mal.

— Exato! — exclamei, sem me intimidar. Levantei do banco de concreto e o Lucas se afastou, sem desmanchar a carranca. O encarei e levantei as sobrancelhas repetidamente, desafiando-o a continuar. Silêncio e tensão...

— O que foi isso? — João não esperou pra quebrar o gelo com a pergunta. Ele tentou se inteirar, desnorteado no meio de tantas informações que foram jogadas sem filtro na cara dele. Nós o ignoramos sem notar, enquanto ele assistia de camarote.

— O Tomás é meu ex. O japa delícia que eu vivo falando... — Lucas nem me deu chances de falar nada e já lançou uma bomba de verdades, que surpreendeu até a mim. Processando o novo apelido, tentei decidir se me sentia ofendido ou lisonjeado — Aquele cara que eu beijei, hoje.

— Coreano-brasileiro, Lucas! Não é difícil! — eu o corrigi, cotovelando seu braço. Talvez eu estivesse mesmo ofendido, ou só quisesse descontar minha raiva e frustração em ter sido desmascarado. De qualquer maneira, as verdades estavam na mesa.

Mais um dia comumOnde histórias criam vida. Descubra agora