Capítulo 4

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🔹Eric

Minha semana na empresa começa mais leve e posso garantir que ter amansado a fera, que atende pelo nome de Pietra, contribuiu para isso.

Não que duvidasse da eficácia da minha mega mensagem, ou "textão", como Valentina me disse, após ver o tamanho do recado. Afinal, sou um empresário. Todos os dias convenço pessoas a adotarem as decisões que acho adequadas para a empresa. Ou seja, não sou adepto da falsa modéstia, e sei que tenho uma boa lábia. A única diferença é que não tinha feito isso ainda com uma mulher.

Ela demorou o domingo inteiro para responder, porém, aprendi a lição e apenas esperei, inclusive, saindo de frente do computador e retomando minha vida normal, saindo para jantar em uma cantina famosa da Bela Vista.

Então, chegando em casa, para a minha surpresa, lá está a resposta. Começo a entender um pouco essa fixação que as pessoas têm com esses laços virtuais. Sem outro tipo de contato, uma mensagem é a única coisa que nos liga à pessoa na qual temos algum interesse. Portanto, por mais estranho que ainda me pareça, é natural a ansiedade. Deve ser natural, também, sorrir para a tela, porque me apanho sorrindo diante da resposta.

Quem diria, conseguiu me surpreender com essa admissão de que errou e esse pequeno pedido de desculpas. Aliás, aceitas. Torço para que tudo corra bem, daqui para frente. Assim, nós poupamos tempo, aborrecimentos e eu, com certeza, poupo minhas vistas.

Há um humor fino e inteligente nesta mulher e isso, devo confessar, não apenas me agrada, mas também apaga aquela impressão inicial de que a missão de me aproximar dela seria tediosa. Na verdade, está só no começo e tem sido um desafio muito prazeroso.

Tomando cuidado para ser breve, sem perder o foco, digito minha resposta.

Se depender de mim, será perfeito, Pietra. Grato pela oportunidade de conhecê-la melhor. Quando estivermos on line, conversamos mais. Prometo que não te deixarei cansada novamente. Beijos, Augusto.

Tive que policiar meus pensamentos e meus dedos para não digitar nenhuma bobagem. Não quero afugentá-la e sei que o faria se se falasse que há muitas outras maneiras de se cansar e que são infinitamente mais prazerosas. Tenho certeza que se tivesse colocado isso, seria bloqueado e, dessa vez, sem chance de desculpas.

Sigo os conselhos de minha irmã e não fico aguardando uma resposta imediata. Em vez disso, desligo o computador e tomo banho, preparando-me para mais uma semana de trabalho. Durante a ducha, penso que essas minhas reações diante de um computador têm relação com o fato de fazer quase um mês que terminei meu affaire com uma aeromoça belíssima que conheci durante um voo São Paulo-New York. Aliás, foi por causa dela que me afastei da Irina. E, no entanto, agora, olhe a que ponto cheguei, sorrindo para uma tela de computador.

Preciso mudar esse cenário, caso contrário vou acabar me transformando na pessoa que minha mãe pediu para eu fingir ser: um homem que busca uma paixão por meio de um site de relacionamentos, cheios de regras e pouquíssimo contato.

Em momento algum me foi dito que precisava me dedicar exclusivamente a tal perfumista e, talvez, se ela fosse mais real e não um amontoado de palavras, essa tarefa fosse possível.

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O interessante de ser bem-sucedido e bonito é a quantidade de contatos que você faz. Sim, estou querendo dizer, contatos do sexo feminino. Desse modo, na hora do almoço, a questão sobre estar há um mês sozinho, a julgar pelos olhares que recebo da mesa vizinha, já está praticamente resolvida. Seguro de que bastam dois olhares mais demorados para que possa conversar melhor com a beleza ruiva da mesa ao lado, verifico no meu celular se há algum e-mail de notificação do Perfect Date.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora