Capítulo 9

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🔹ERIC

Qual a minha saída, a não ser pensar rápido? Ao contrário do que se possa imaginar, não fiquei nada feliz em descobrir que, ao almoçar comigo, a Pietra estava enxergando bem pouco. Minha boa aparência sempre foi um dos trunfos para minhas conquistas, logo seria hipócrita se não admitisse isso. Portanto, confesso, foi muito estranho estar com uma mulher que se mostrou indiferente a ela. E depois, teve o beijo. Já beijei mulheres o suficiente para saber se beijam bem ou não e posso garantir que nosso beijo foi excitante. Pensar que aquele beijo não foi destinado a mim, conseguiu mexer com a minha autoestima.

Além disso, achei-a irresponsável por levar adiante um almoço sem saber como era sua companhia; e não me refiro apenas à aparência, mas ao fato de que poderia ser uma pessoa com más intenções, não que as minhas sejam as melhores, entretanto como é que ela aceita entrar em um carro, sem ter a certeza de que eu a estava levando para casa? Quando imagino que ela chegou lá em um carro de aplicativo, correndo um risco desnecessário, a minha incredulidade aumenta.

Durante nossa conversa, atribuí sua recusa à oferta de minha mãe ao amor que tinha pela profissão, no entanto, depois de ter me contado sobre o tal exame, chego a considerar que ela seja um pouco maluca.

Na verdade, nem sei porque me incomoda tanto esta situação. Talvez, se ela tivesse me visto, poderia ter se derretido com a minha aparência e, também, na mesma hora, talvez me reconhecesse, acabando com a possibilidade de outros encontros. Ainda assim, tenho certeza, não estaria me sentindo tão estranho em relação a isso tudo.

Como Pietra agiu totalmente diferente do que previ, resolvi aumentar as apostas e ousar ainda mais. Foi quando a ideia de manter nossos encontros às escuras me surgiu. Diante de tantas loucuras, não foi surpresa para mim ela aceitar. Agora, só bastava planejar direito como fazer com que desse certo.

Gasto a manhã do domingo pesquisando, dando telefonemas e me certificando de que em nosso próximo encontro não apenas terei ciência do que está havendo, como também estarei no controle de tudo o que acontecer. Não gosto de surpresas, ainda mais quando estas me fazem parecer um tolo.

Terminadas as pesquisas, faço uma última ligação e, após confirmar que o lugar estará aberto, apanho as chaves do carro e saio. O endereço é relativamente perto e me surpreendo ao estacionar diante da casa. Passei muitas vezes diante daquele lugar e nem imaginava o que era. Sorrio ao perceber que é a minha primeira vez em um ambiente assim.

— Boa tarde, senhor — a porta se abre, antes que tenha tempo de tocar na maçaneta, o que deixa claro o pleno funcionamento do serviço de câmeras. A mulher que me recepciona é uma bela morena, pouca coisa mais baixa do que eu, com olhos puxados e um corpo chamativo dentro de um vestido branco comportado. Ela sorri, fazendo um gesto para que entre. Sorrio em resposta, dando dois passos para dentro. Se não estivesse tão focado no que fui fazer ali, teria retribuído os olhares do tipo scanner de aeroporto — O que o traz aqui?

Poderia responder maliciosamente. Afinal, o que leva um homem a um sex shop? No entanto, sei que é o modo de me perguntar o que estou procurando exatamente. Por esse motivo, eu me contenho.

— Estou atrás de vendas — minha voz sai séria, embora eu não esteja nem um pouco constrangido em estar ali. Mesmo porque discrição é o sinônimo do lugar. Talvez se houvesse outros clientes, poderia experimentar algum desconforto, porém, o fato de àquela hora ser apenas nós dois me deixa mais à vontade.

— Humm — novo sorriso — Mostrarei ao senhor o que temos.

— Pode me chamar de você — não curto muito aquele tratamento formal, faz com que me sinta ainda mais velho.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora