Capítulo 10

621 91 27
                                    


🔹Eric

Posso estar nisto pelos motivos errados, porém, sei reconhecer uma boa companhia quando estou diante de uma.

Pietra lida bem com as vendas, sem reclamar uma só vez, e, mais do que isso, me faz rir, revelando-se muito mais leve do que as mulheres com quem estive saindo. Além disso, reitero que gosto de vê-la comer, com vontade e sem frescura. Assim, aprovou o robalo com crostas de castanha de caju, confidenciando não ter experimentado antes. Depois, resistiu um pouco à sobremesa, mas bastou experimentar o pouco que coloquei em sua boca, para dar o braço a torcer e aceitar o mil folhas de doce de leite.

— Isto não é justo, pois não sei se também está comendo — reclama, quando fico em silêncio, observando-a. Na realidade, não sou muito fã de doce, mas não estragarei este momento por nada.

— Para ser sincero, há outros sabores que aprecio mais — não consigo evitar a provocação, pois me instiga saber que fica vermelha com facilidade — No entanto, estou lhe fazendo companhia.

— Ainda não entendo porque está solteiro — é como reage, mudando de assunto e atraindo minha atenção.

— O que há para não entender? — quero saber.

— Não é preciso enxergar para notar todo o cuidado que teve com este jantar. O que é muito gentil de sua parte, ainda mais em uma época em que ser egoísta é mais comum do que pensar no outro.

Fico desconfortável com o elogio recebido, pois tenho noção de que não o mereço. Em vez de falar uma bobagem e soar suspeito, faço uso de uma meia verdade.

— E quem garante que eu não esteja sendo egoísta? Afinal, estou jantando com uma mulher a quem desejo... Conhecer melhor e, dentro do nosso trato, preciso fazer com que seja inesquecível ou, pelo menos, memorável, para que ela tenha vontade de continuar me vendo.

Seu sorriso tímido coincide com o fim de sua sobremesa. Ela apanha o guardanapo e sutilmente limpa a boca, ainda que não esteja suja.

Ao notarem que acabou, dois garçons pedem licença e se aproximam, questionando se queremos mais alguma coisa. Nós respondemos, quase ao mesmo tempo, que estamos satisfeitos. Em poucos minutos, eles retiram os pratos, os talheres, as taças e a garrafa de vinho. Assim que ficamos sozinhos, Pietra continua o assunto.

— Você é bem direto, quando deseja, porém, se esquiva com uma facilidade espantosa — ao me lembrar de que desviei do assunto sobre ser solteiro, seu tom sai bem-humorado — E para ser memorável, bastaria que o encontro fosse agradável.

— Então quer dizer que gastei dinheiro à toa com os músicos? — brinco, fazendo um gesto para que os músicos parem de tocar. Algo que é obedecido imediatamente.

— Não! — protesta — Não foi o que disse! O dinheiro foi muito bem investido, eles são ótimos.

— Ufa — suspiro aliviado, solicitando que voltem a tocar.

— Quis dizer que a sua companhia seria o suficiente para me fazer querer encontrá-lo novamente.

— E estou tendo sucesso? Mesmo vendada, o nosso jantar está sendo agradável? — observo seu rosto e também para mim é uma experiência nova, pois não é tão fácil ler suas reações sem olhar em seus olhos.

— Confesso que é um pouco estranho, porém, nada que seja difícil de me acostumar. Além disso, a vantagem de usar vendas é que posso disfarçar a cara de nerd, tirando os óculos — brinca.

Por estar sentado ao seu lado, estamos muito perto e, assim, eu a surpreendo ao apanhar em seu queixo, erguendo-o delicadamente, para que possa admirar seu rosto.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora