Capítulo 3

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🔹Eric

O som alto da risada de Valentina teve o poder de me irritar, pois realmente não estava achando a menor graça.

— Deveria ver a sua expressão, Eric. Está impagável — ela zomba, enquanto eu tomo um gole generoso de água. Estou tão estressado que poderia dar mais duas voltas completas no parque. Por mim correria mais um pouco, mas minha irmã riu tanto que precisou parar de correr, indo até o banco mais próximo, para sentar-se. Ainda não são oito horas e já tem muitas pessoas se exercitando. Todos sabem que, a partir das dez horas, a concorrência com bicicletas e pedestres aumenta muito. Principalmente em um sábado.

— Não faça com que me arrependa de ter te contado, Val! — o que era para ser um pedido sai quase como uma ordem e minha irmã, em vez de se intimidar, ri mais uma vez. Sempre fomos muito próximos e, diante do ocorrido, ela era a única pessoa para quem poderia contar e pedir conselhos.

— Vivi para ver você fazendo drama, Eric. Qual é? Só teve um contratempo na internet, isso acontece o tempo todo — faz um gesto para que me sente ao seu lado, mas estou tão agitado que não aceito o convite de imediato.

— Pode até acontecer, mas não comigo. Quer dizer, não estou acostumado a isso. Imagine se a nossa mãe sonhar que comecei com o pé esquerdo... É capaz de não me dar mais sossego.

— Sobre essa história, nem sei o que falar, além de que é uma puta sacanagem, Eric! Usar seu charme para conseguir o que a mamãe quer o transforma em que?

— Já tenho muitas preocupações, Val, para admitir crise de consciência à essa altura da minha vida.

Por uns instantes chego a estranhar que ela não tenha retrucado, porém, é coisa de segundos. Descubro que o silêncio de Valentina tem uma razão: o homem que diminui o ritmo da corrida, apenas para poder flertar com ela. O cara até pode ter um corpo legal, mas deve ser mais velho do que eu. Faço questão de quebrar o clima, sentando-me ao lado da minha querida irmã e colocando o braço em volta de seu pescoço.

— Eric! — ela me repreende, porém, não ligo. O que me interessa é que minha atitude dá certo: o homem engole o sorrisinho idiota, retoma sua corrida e não se atreve a olhar para trás.

— Esse cara é velho demais para você e não demonstrou nenhum respeito. Um cara que flerta com uma mulher acompanhada não pode ser boa coisa. Vai por mim, acabo de te fazer um favor!

— Acompanhada? Você é meu irmão! — a indignação da voz dela é tão real que temo ser deixado ali e perder minha preciosa ajuda.

— Ele não sabia — continuo, pois acho que tenho razão — Logo, deveria ter passado reto.

Eu a sinto contar mentalmente, para não me xingar. Seus olhos, de um azul mais claro que os meus, chegam a cintilar de raiva.

— Preste atenção, Eric! É você que está precisando de mim, não o contrário. Acordei cedo em pleno sábado, porque me pediu. Assim como tive consideração por você, espero o mesmo tratamento. Afinal, tenho idade suficiente para decidir quem é velho ou não para mim! — retira meu braço de seu pescoço.

— Ok — eu me afasto um pouco — Desculpe.

Ela fica em silêncio por alguns minutos. Apesar dos vinte e cinco anos, Valentina aparenta ser mais velha e, como adora academia, tem um corpo muito bonito. Desse modo, chama atenção por onde passa; natural que, como irmão seu mais velho, queira afastá-la de homens que só a enxerguem como um pedaço suculento de carne. Não é à toa que sempre mantive meus amigos bem distantes.

— Já pedi desculpas, Val. Continuo precisando de você — quebro o silêncio, caprichando no drama — Nem quero saber como você sabe tanto sobre esses aplicativos e sites, mas preciso de uma luz, pois não faço ideia do que fazer.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora