Capítulo 5

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🔹Eric

— Você não muda, Eric? — a pergunta de minha mãe à mesa de jantar faz com que Valentina sorria do outro lado, sem ao menos tentar disfarçar. Não sou ingênuo a ponto de achar que o jantar tivesse outro motivo, embora tenha sido inocente por não desconfiar que a minha linda acompanhante quisesse se promover às minhas custas. Por mais que negasse, ficou evidente que foi ela quem armou o tal flagrante — Você realmente não consegue resistir a uma saia?

É engraçado, o Matheus perguntou-me a mesma coisa, só que com outras palavras, diria de modo muito mais vulgar. Respondi para o meu amigo que a vida é feita de oportunidades, apenas aproveitei a ocasião. Além disso, seria um cafajeste se dissesse que o encontro foi de todo ruim. Apenas o término não seguiu como o planejado; se não fosse isso, não teria motivos para me arrepender. Afinal, estive ao lado de uma mulher bela mulher, sensual e ousada na medida certa. Com certeza, uma experiência que levaria comigo.

— Por favor, Vera! — meu pai, César, suspira entediado e lança um olhar de repreensão para minha mãe. Pelo que a conheço, até pensa em retrucar, no entanto aceita a chamada, sem mostrar incômodo. Não que ele aprecie minhas mudanças constantes de companhia, porém, não acha que seja um assunto para ser discutido durante o jantar.

Com essa intromissão, consigo me livrar por um tempo e o jantar corre mais tranquilo, fazendo com que pareçamos uma família normal. Porém, basta acabarmos a sobremesa, para a senhora Vera Ferraz com um só olhar me convidar para seu escritório. Meu pai, mesmo sem saber o teor da nossa conversa, não aprova, enquanto Valentina suspeita o assunto que trataremos e nos segue com os olhos, desde o momento em que puxo a cadeira para que minha mãe se levante, até quando pedimos licença e nos retiramos da sala de jantar.

— Será que preciso dizer o quanto estou decepcionada com você, Eric? — mal nos acomodamos no escritório e ela começa, olhando diretamente nos meus olhos. Eu não ouso dizer que imagino. Na realidade, não sei qual a surpresa dela, afinal não é uma situação inédita.

— Se isso a deixar mais confortável, o episódio não se repetirá...

— Pouco me importa com quem se relaciona, Eric — quase sorrio, pois sei que não é bem assim — Você realmente não compreende que colocou tudo a perder? Como é que poderá conquistar a perfumista, se ela e São Paulo inteira já viram seu rosto estampado nas páginas do jornal? E o pior, com a má fama de conquistador...

Acho que minha expressão me trai, porque em momento algum havia pensado nisto. Na verdade, Pietra Amorim não havia feito parte dos meus pensamentos enquanto estava com a Sofia, a ruiva que é apontada pelo colunista como meu novo affaire.

— O nome dela é Pietra, mãe — consigo dizer algo, após me dar conta da besteira que fiz.

— Que seja! Por ora, eu me interesso mais pelo que ela faz. E estava contando com você para conseguir o melhor para a empresa. No entanto, pelo jeito, eu me enganei, já que só pensa em si mesmo.

— Aprendi que apenas a morte é irreversível — sem me abalar com a recriminação, falo com segurança, enquanto penso em como contornar a situação. Mesmo não estando muito convencida disso, minha mãe não retruca e somos interrompidos pela entrada de Valentina, sem ao menos bater na porta.

— Pronto, além do seu irmão, agora vou ter que me preocupar também com os seus modos, Valentina? — o pesar na voz da minha mãe é a expressão maior de seu exagero.

— Estamos em casa, mãe, não me diga que tenho que me anunciar para transitar pelos cômodos. Só queria te avisar que vou sair, porque sei como ficaria, se meu pai te dissesse.

— Posso saber com quem? — eu não me contenho. Valentina me encara surpresa, pois talvez esperasse que tal pergunta partisse de minha mãe.

— Ninguém que te interesse, Eric — sorri para mim — Mas pode ficar tranquilo, porque não aparecerei em nenhum jornal ou revista.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora