Capítulo 11

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🔹ERIC

Que porra foi essa? Nunca dei passos tão largos em toda a minha vida. Cheguei tão rápido do lado de fora do restaurante que o manobrista me olhou assustado. O rapaz ficou ainda mais confuso, quando lhe pedi a chave do carro.

— Já, senhor? — acredito que tenha sido involuntária a pergunta e não porque quisesse realmente saber o motivo da minha partida súbita.

— Sim, aconteceu uma emergência — sinto a necessidade de me explicar, mesmo assim.

A sorte para ter saído tão rápido foi a que Matheus deus uns passos à minha frente, assim que seu celular tocou. Ficou óbvio que não queria que eu escutasse a conversa e achou realmente que sua atitude pudesse me enganar. Sei muito bem que ele está se enroscando com alguém, provavelmente alguma mulher casada, o que não seria a primeira vez, tamanho sigilo.

— Agora mais do que nunca, sei que o convite foi porque estava sem companhia — elevo um pouco a voz para que ele me escute, ainda que esteja com o celular no ouvido.

Antes, porém, que ele responda, escuto a voz de Pietra e a reconheço falando com o maître. Merda! Ela não devia estar em casa? O que estava fazendo em um restaurante como aqueles? Escuto somente algo sobre uma reserva, antes de dar a meia volta e me afastar o mais rápido que consigo, deixando Matheus sem compreender a minha reação.

Entro no carro e dirijo alguns metros, antes de pará-lo e apanhar meu celular, ligando para o meu sócio. O fato de dar ocupado consegue me irritar. Que hora para ficar de romancinho na linha!

A ideia de jantarmos lá foi de Matheus e ele praticamente me arrastou, após passar na minha sala e ver a quantidade de contratos que eu havia analisado. Se queríamos novos sócios, precisava me apropriar dos últimos contratos para ver o que poderia ser melhorado para gerar mais lucro não só para a empresa, mas também para os novos associados.

— Sei que não sou o seu tipo preferido de companhia — dissera — Mas ainda sou melhor do que essa papelada aí. Além do mais, saí de casa sem carro hoje, por causa do rodízio.

— E só por isso devo ser seu motorista? — fingi indignação.

— De forma alguma, mas vou pagar pelo jantar... Então, ficaremos quites.

Mesmo hesitante, acabei me deixando convencer. Afinal, já havia lido muita coisa e estava cansado. Sendo assim, não faria mal jantar em um dos restaurantes mais caros da cidade e do qual éramos clientes assíduos.

Ligo mais uma vez para o Matheus e dessa vez a ligação completa.

— Finalmente! Já não era sem tempo — reclamo.

— Ei, quer dizer que você vai embora sem dizer uma palavra e ainda tem coragem de me ligar irritado? O que diabos aconteceu, posso saber?

Inspiro e expiro devagar, tentando soar menos nervoso do que estou.

— A mulher que estava à sua frente, conversando com o maître – começo.

— Sei... A do vestido perto.

— Quer dizer que teve tempo até de reparar no vestido? — meu tom é de reprovação, afinal ele não estava em uma ligação com outra mulher? — Espero que não tenha conferido o material também.

— Acha que sou você, por acaso? É claro que não olhei para a bunda dela. Aliás, nem acredito que estejamos tendo essa conversa. Só reparei, porque ela falou comigo.

— Falou o que? — fico preocupado, pensando que ela possa ter me visto.

Matheus fica em silêncio por alguns segundos.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora