Capítulo 7

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🔹Eric

Ok, talvez o meu mau humor tenha algo a ver com ter sido deixado em um restaurante e não receber uma mensagem sequer a respeito disso. Por duas vezes no mesmo dia, esperei por esta mulher e ela não apareceu. Se fiquei puto? É óbvio.

Assim, quando a porta do meu escritório é aberta, sem que a Clara tenha anunciado, chego a apanhar meu telefone, pronto para lhe dar uma bronca, mas para diante de um olhar do meu sócio.

— Tive que ver com meus próprios olhos o que o impossibilitou de comparecer à reunião — Matheus aponta o relógio no pulso, diante da minha expressão de surpresa. Simplesmente esqueci a tal reunião que aconteceria em um hotel nos Jardins — Precisei inventar uma desculpa, porque você não apareceu.

— Foi mal, deixei de marcar o compromisso e, sem um lembrete, acabei por perdê-lo.

Matheus se aproxima, puxa a cadeira diante da minha mesa e se acomoda.

— E desde quando você precisa de lembrete para se recordar de compromissos? Aliás, a insistência foi sua de que a parceria com uma loja de conveniências daquele porte em pleno Jardins seria uma excelente oportunidade para nós....

— Sei disso, apenas me esqueci...

— O que isso tem a ver com o encontro de ontem? — uma das coisas ruins de trabalhar com alguém que te conhece bem são perguntas desse tipo — Por favor, avise-me se existir a possibilidade de aparecer em alguma manchete de jornal.

— Que droga! É claro que não há.

Diante da minha resposta ríspida, Matheus me olha com mais interesse e cruza os braços. Agora tem certeza de que a minha ausência tem a ver com o dia anterior.

— E então? Se só se tratasse de sua vida pessoal, não estaria interessado. No entanto, quando passa a interferir no seu trabalho, sou obrigado a perguntar o que houve, afinal não é do seu feitio misturar as coisas.

Inspiro profundamente e solto o ar devagar. É necessário driblar meu ego ferido para admitir o que houve. Entretanto, por mais inédito que seja o exercício, eu o pratico, revelando o que aconteceu.

Ouvir a gargalhada do meu sócio faz com que eu tenha vontade de socá-lo, porém, controlo minha raiva.

— Fala sério, Eric! Isso é motivo para toda sua irritação? Você não foi o primeiro, nem será o único a levar um bolo — sorri — Às vezes parece um garoto mimado de quinze anos.

— Não tenho culpa, se coisas assim não fazem parte do meu repertório — dou de ombros, fazendo com que Matheus me lance um olhar incrédulo.

— Ah não me diga que foi a primeira vez...

Diante do meu silêncio, ele deduz a reposta e mais uma vez não contém a risada. Não sei exatamente o que acha de tão engraçado, afinal tempo é dinheiro e odeio perder os dois.

— O pior não é ter ficado esperando, e sim o fato de ela sequer me mandar uma mensagem se justificando, ou se desculpando...

— Vou ser sincero, Eric, deveria estar furioso com você por deixar um compromisso de trabalho por causa de uma divergência com seu encontro às escuras, porém, devo confessar que já gosto desta mulher. Ela conseguiu se tornar marcante em sua vida e ainda nem a conheceu. Afinal, o primeiro bolo a gente nunca esquece!

— Você não tem o que fazer? — minha seriedade é uma forma de deixar claro que não quero mais falar sobre o assunto. Matheus ignora o aviso e continua.

— Talvez isso seja um indício de que não deva ir adiante com essa insensatez.

— Pois saiba que agora, para mim, é questão de honra seguir com o plano.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora