Capítulo 2

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🔹Eric

Percebo a cilada em que me meti, quando em plena sexta-feira à noite, com inúmeras possibilidades, estou em meu apartamento. Na verdade, nem me lembrava mais do que isto significava. Estou a semana inteira na empresa, então costumo celebrar muito a chegada do fim de semana e isso significa ou viajar, ou estar com uma bela companhia, ou, no melhor dos casos, viajar bem acompanhado. Graças ao que estou chamando de desafio, o máximo da minha diversão será interagir com um computador.

Antes de ir para o meu escritório, fiz uma parada estratégica no barzinho da sala, apanhei um copo, coloquei nele três pedras de gelo e o melhor uísque que tenho, para me manter acordado, enquanto teclo com uma solteirona que precisa apelar à internet para encontrar seu príncipe encantado. Não tenho nada contra as pessoas que preferem conhecer pretendentes dessa maneira, mas sou da old school, ainda prefiro o olho no olho, seduzir e ser seduzido como antigamente.

Mesmo a minha cadeira sendo confortável, não consigo me sentir à vontade, então arregaço as mangas e ligo o notebook. De má vontade digito em um mecanismo de busca o nome do tal site, Perfect Date, e, em alguns segundos, não apenas vem o próprio site, como também várias notícias a respeito dele. Se estivesse bom humor, até me arriscaria a ler uma delas, porém, não estou, então abro de uma vez o site e faço o meu perfil.

É surpreendentemente a quantidade de perguntas que preciso responder. Porém, eu as tiro de letra, sem precisar recorrer a nenhuma mentira. Quer dizer, talvez amenize algumas respostas, pois a minha intenção aqui é atrair, não assustar. Se eu dissesse, por exemplo, que considero o sexo responsável por setenta por cento da relação, tenho certeza de que seria considerado uma espécie de tarado, quando apenas sou sincero. Um casal pode ter ideias distintas e continuar junto por anos. Agora, já não posso dizer o mesmo se forem incompatíveis na cama. Das duas uma, ou acabarão, ou trairão. Com segurança posso dizer que não sou adepto de traições. Tudo bem que ainda não me comprometi para valer com ninguém, porém, nunca iludi as mulheres com quem fiquei e acabei nosso affaire, ao primeiro indício de que algo não estava funcionando. Sim, estou me referindo a algo "entre quatro paredes".

Suspiro profundamente, quando chega a parte em que preciso colocar uma foto no perfil. Segundo o site, a foto só será revelada completamente após um número x de conversas, no chat do próprio site. Uma das regras é, em momento algum, descrever-se fisicamente. Se, ainda assim, a pessoa não se sentir à vontade para esperar o número exato de conversa, ela pode pagar para desbloquear as fotos do pretendente. Uma sacada genial para ganhar dinheiro, tenho que admitir. O pretexto é o de que as pessoas se apaixonem pela essência uma das outras. Acho a proposta bem diferente, porém, não me faz desistir. Escolho não apenas uma foto para o perfil, como também, algumas para formar um pequeno álbum. Rejeito as mais recentes, pois atualmente estou bem melhor do que anos atrás e não quero atrair uma legião, apenas uma mulher, Pietra Amorim. Coloco fotos de cinco anos atrás e a única grande diferença, pois não sou um mentiroso — quer dizer, talvez por estar me inscrevendo neste site com um objetivo específico, não seja um exemplo de sinceridade —, é que nelas, excepcionalmente, estou sem barba e meu corpo ainda não havia se beneficiado por horas na academia.

Modéstia à parte, sou um homem bonito. Do meu pai herdei os olhos azuis, algo que até hoje provoca ciúme em minha mãe, pois nem eu, nem minha irmã puxamos seus olhos verdes. Na academia moldei um físico bem cuidado, definido, sem excesso de músculos. Atualmente trago meus cabelos castanhos no tamanho médio, embora quando fosse mais novo, já os tivesse mantido em um cumprimento um pouco maior, para o desgosto da senhora Vera Ferraz. Na realidade, nunca liguei para o que ela pensava e só o cortei ao começar a trabalhar. Até para mim, minha aparência um tanto selvagem, feito o Tarzan dos filmes, não condizia com um alto cargo. Além disso, não abro mão da barba, ainda que rala, ou então, do cavanhaque. Também quando era mais novo, eles faziam com que eu parecesse mais maduro e, assim, acabava com a possibilidade de mulheres mais velhas me rejeitarem. Mesmo que pareça, não direcionei a minha vida em cima das possibilidades de conquistar belas mulheres, apenas fui prático, pensando em tudo. Além disso, esses preconceitos relacionados à idade ou cor da pele nunca me pertenceram. Ok, concordo com minha mãe, porque, confesso, independentemente disso, todas as mulheres com quem estive eram deslumbrantes.

Às Escuras (Somente Degustação)Onde histórias criam vida. Descubra agora