Três.

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Se passou três míseras semanas. Sinto falta de casa, do carinho da minha mãe, da minha irmã. A família Styles é tão ocupada que nossos encontros não passam de simples esbarrões pela casa. Gemma sempre está no celular, assim como Anne e o marido. E o Harry, bom ele nem sempre está no celular mas sempre que passa por mim faz questão de não me notar. Foi assim nas duas semanas, faz uma semana que ele está fora participando do que acho ser programas. Fiz uma grande pesquisa sobre ele na internet, e tudo que falo sobre ele a Catarina é relacionado a isso. Para ela ele é um príncipe, sempre me tratou bem, e até fez café uma manhã para mim. Catarina e minha mãe nunca saberiam desse contrato e o que estou passando. Fecho os livros e olho para a cozinha deserta. Aqui parece o único lugar que consigo me concentrar. Apoio os cotovelos no balcão e encaro a geladeira no meu tédio comum. Em três semanas se quer pus meus pés no jardim. Segundo a Anne a mídia saberá da minha existência na hora necessária, Catarina está ciente disso e também não contou a ninguém. Segundo Gemma, eu ainda preciso aprender umas coisas até ser apresentada. Isso realmente é uma humilhação.

"Eu nunca vou entender por que você estuda na cozinha" falando da Gemma ela aparece olhando o celular e abrindo a geladeira.

"Eu gosto" limito as palavras.

"Tenho um presente para você" ela tira um celular do bolso e me entrega.

"Não Gemma, não posso" empurro sua mão.

"Alice, eu ganhei outro, não preciso mais desse aqui" ela volta a estender a mão.

"Dê a Kate, talvez ela precise" olho para a Kate que acabou de entrar. Kate tinha um jeito asiático meio calada.

"Dei um a semana passada para ela" Gemma abre um sorriso e Kate concorda.

"Jace?" lembro do motorista ruivo no auge dos seus 40 anos.

"Harry deu um a ele também" Gemma tem um olhar insistente.

"Gemma..." droga.

"Só aceite" ela joga o celular no balcão.

Gemma recebe uma ligação e me ignora totalmente saindo da cozinha levando Kate consigo.
Pego o celular e encaro, já que é assim. Configuro o celular e bato a minha primeira foto.

"Apague" uma voz rouca me assusta e caio do banco alto do balcão.

"Ai" minha costa dói.

"Droga, Alice tudo bem?" encaro os olhos verdes em cima de mim. Quando ele voltou?

"Você... Você me assustou" tento levantar.

"Você sabe que não pode bater fotos da minha casa" ele levanta-me com apenas uma mão.

"Eu só... Tudo bem" não vale a pena discutir.

"O que faz aqui?" ele olha para os livros e o encaro com sua blusa de flores rosa e uma calça preta justa.

"Estudando" limito minhas palavras.

"Na co... Tá" ele realmente não quer falar comigo.

Pego meus livros e o celular que acabará de receber e saio da cozinha. Anne esbarra comigo no corredor e pede desculpas. No fundo posso ouvir a sua animação por encontrar o filho. Chego no quarto e me jogo na cama com livro e tudo que acaba me acertando em cheio no rosto e grito de raiva. Londres não é o que sonhei, essa casa não é, essa família não é minha família. Eu podia jogar tudo para cima, e voltar para o Brasil com uma mão na frente e outra atrás cheia de dívidas. Mas isso seria cruel com a minha mãe, isso é horrível. Levanto da cama e pego a cadeira de estudos a levando até a janela. As folhas das árvores caem planando no ar feito bailarinas. O vento gélido faz gotas se acumularem na janela. Tiro meus óculos e encaro o movimento lá fora. Tem pessoas ali. A porta do meu quarto é aberta e a figura de um Harry furioso aparece se colocando por cima de mim e fechando a janela com a cortina.

"O que..." tento formular uma pergunta.

"Não fique na janela" ele parece vermelho de raiva.

"O que eu fiz?" levanto e cruzo os braços com o grande volume de tecido do meu moletom velho cinza.

"O condomínio deixou paparazzis entrar" ele anda de um lado pro outro.

"O que?" falo baixo.

"Por que está falando baixo?" ele parece mais leve.

"Eu não... Eles bateram fotos minhas?" falo boquiaberta.

"Não... Você não trocou de roupa agora ne?" sério isso?

"Não, eu não troquei" falo tentanto manter uma certa calma.

"Ótimo" ele fala calmo?

"Harry, eles me viram?" me aproximo dele.

"Não sei" ele se afasta e saí.

Estranhamente essa foi a primeira vez que trocamos palavras sem nos engalfinharmos. Sento na cama e puxo o cabelos. Estou tensa de mais, e ansiosa por algo que nem mesmo sei o que é. Como se fala Hobbes, o homem é o lobo do homem. Estou sendo uma fera, uma fera que me derrota.

[...]

Acordo com um som vindo da sala, parece música. É uma música delicada, meu quarto é próximo da sala e isso me faz ouvir tudo que se passa lá. Levanto e encosto minha cabeça na porta. É o Harry, ele está contando. Sento e ponho minha costa contra a porta. A sua voz é tão angelical, rouca e grave. Eu me sinto teletransportada para outra dimensão. Ele é tão egocêntrico, mas não posso deixar de negar que sua voz me faz ir nas nuvens. Fecho os olhos e repito os versos, essa música... É o sinal dos tempos. Ouvi ela em noites anteriores, nas madrugadas quando ele chegava tarde. Eu sempre ouço. As seis da manhã é novidade, talvez ele esteja de bom humor. A música para e levanto abaixando minha grande blusa de pijama. Abro a porta devagar e caminho até a sala. Ele está jogado no sofá, sem blusa e com um violão ao lado. Seus braços estão acima do rosto. Giro o calcanhar na intenção de voltar ao quarto.

"Caiu da cama?" como raios ele me viu?

"Eu... A música" é a única coisa que consegui falar.

"Acordei você?" ele se senta no sofá.

"Não, eu gosto" cruzo os braços.

"Bom dia" ele levanta e vai até o outro corredor.

Ele foi realmente... Adorável.

A garota do intercâmbio H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora