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Solto um longo e sofrido suspiro assim que saio da minha velha casa para encarar a vida real. Rodo a chave na maçaneta da antiga e desgastada porta de madeira de modo a trancar a mesma.

Ainda são 8:30 da manhã e eu, neste momento, encaro o céu cinzento ainda com restícios da chuva de ontem. Mais uma vez, certifico-me de que o fino casaco que envergo está devidamente apertado na esperança da peça de roupa me fornecer mais calor do que realmente pode. Ajusto a minha pequena mala no meu ombro esquerdo e com passos breves e vagarosos vou em direção ao meu espaço de trabalho.

Cumprimento alguns conhecidos e vizinhos pelo caminho mas nunca lhes dando muita atenção. A maior parte deles são curiosos demais e querem sempre saber da vida alheia. Observo as ruas pouco movimentadas e com o pavimento ainda húmido devido à invessante queda de água dos últimos dias. Finalmente o céu resolveu dar tréguas à Terra, nem que seja apenas por algumas horas. O suficiente para alguém fazer alguns dos seus compromissos diários sem se encharcar completamente, ainda que com um guarda-chuva na sua posse.

Inspiro profundamente, apenas para sentir o maravilhoso cheiro de erva molhada. O orvalho da manhã embeleza toda a natureza. Uma beleza temporária, no entanto inspiradora. Estamos em Outubro, dia 13 para ser mais exata, o outono está no seu auge trazendo a mudança ao mundo. Todas as árvores em meu redor encontram-se vestidas de tonalidades entre o vermelho e o amarelo, chegando algumas vezes ao castanho. Outono é sinónimo de mudança e renovação, acaba com o quente verão para trazer o gelado inverno.

É uma época extremamente bonita, como se o mais experiente pintor decorasse o mundo com as suas belas tintas, fazendo dele uma preciosa obra de arte. A leve brisa sentida desprende algumas das frágeis folhas da sua árvore mãe e fá-las flutuar calmamente, com todo o tempo do mundo, em direção ao chão para depois serem pisadas pelos pés de pessoas alheias e indiferentes à beleza do mundo e das pequenas coisas. Com o tempo tudo isto se torna banal e deixa de ter importância aos nossos olhos, porque, afinal, o outono é algo que existe todos os anos, assim como a mudança da folha e a chuva, no entanto se morresse neste exato momento gostaria que a minha última lembrança deste mundo fosse uma folha a cair suavemente no chão alheia aos pés que a irão pisar no futuro. Uma imagem que me transmite paz e não apenas uma rua vazia e cinzenta.

Com todos estes pensamentos cheguei ao pequeno e rústico café onde passo a maior parte do meu dia, a trabalhar. Ao entrar pela pequena porta, um sino faz-se ouvir, chamando a atenção de John e Ariana que já se encontram no estabelecimento. John é o meu patrão, o típico homem de alguma idade com cabelo grisalho e rugas nos olhos, olhos esses que já viram quase tudo o que o mundo tem para mostrar. As suas costas estavam levemente curvadas devido ao peso da idade e da vida. Já Ariana por outro lado é a típica rapariga popular e rebelde que se lê em livros, possui longos cabelos loiros e olhos castanho mel, uma típica americana. Está sempre metida em confusões e por vezes o motivo delas é a sua demasiada curiosidade, não quis frequentar a universidade como ato de rebeldia contra os seus pais controladores. Eu pelo contrário, não tenho meios para a frequentar, mesmo que quisesse, o que é o caso.

Assim que entro, cumprimento os dois com um sussurado "bom dia" e sigo para os cacifos dos funcionários que se encontram numa parte traseira e escondida do café de maneira a não serem notados pelos clientes que frequentam o espaço. No pequeno cacifo cinza, e já um pouco enferrujado, que me pertence pouso a minha mala e o fino casaco que antes envergava, uma vez que o espaço estava quente o suficiente para não necessitar da pequena peça de roupa para circular no café e retiro do mesmo o avental preto que uso para os clientes me identificarem como funcionária daquele espaço, é um simples avental da cintura para baixo com o nome do café e um pequeno bolso na parte da frente deste. Retiro também um pequeno retângulo de metal que contém o meu nome escrito e ponho-o na minha clavícula direita por cima da camisola que uso de modo a ser mais fácil para os clientes poderem ler.

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