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Aquela afirmação saiu de forma tão natural e calma da boca do rapaz à minha frente que me deixou em estado de choque. Kang encontrava-se silencioso, talvez como forma de me ajudar a absorver a nova informação obtida, nunca iria imaginar que o rapaz de olhos negros fosse um artista nato e tivesse tanto talento. 

Isto só prova que kang não é um rapaz mau, ele só parece um. Voltei a minha atenção para o quadro de novo, a maneira como ele pinta, a emoção que transmite...é surreal.

Observei com cuidado a assinatura da pintura: "K.D". Com certeza que o 'D' representa a primeira letra do seu primeiro nome, como será que se chama o rapaz a meu lado? E porque é que ele esconde o seu próprio nome? Será que é David? Talvez Dan? Dylan? Denis? Donald? Não sei, e se continuar a nomear todos os nomes começados pela letra D nunca mais saio deste dilema. Relembro as palavras que proferi a Kang sobre a obra de arte que se encontra à minha frente sem ter a mínima sequer noção de que o misterioso rapaz era o pintor dela.

Sinto a pressão sanguínea acumular-se nas minhas bochechas e noto que estou corada. Sei que não o devia estar porem não consigo evitar que tal aconteça. As palavras saíram naturalmente de mim sem que o meu cérebro tivesse qualquer poder para as travar e agora Kang sabe o que penso da sua arte, o que até é bom.

Sinto as suas órbitas escuras queimarem o lado direito do meu rosto e encaro o ser que me observa atentamente, o rapaz dá um sorriso ligeiro mostrando um lindo e fofo sorriso, algo que nunca pensei que fizesse. Essa ação por parte do ser de cabelos levemente desarrumados faz-me corar ainda mais e ele dá uma risada. É a primeira vez que o oiço rir e é um som que ele deveria fazer mais vezes, a sua gargalhada é melodiosa de uma forma quase surreal. A sua voz áspera e grave também ajuda no efeito.

Kang mudou drasticamente de humor e isso é assustador. Assustador porque nunca lidei com este lado dele e não sei o que fazer. Qualquer movimento ou palavra errados farão o rapaz voltar ao seu 'eu' normal e isso é o que menos quero, se bem que tudo o que é bom acaba depressa portanto Kang deve voltar a ser como é no seu quotidiano em breve.

No meio de todos estes pensamentos uma pergunta salta na minha mente, quem o terá ensinado a pintar? E como é que este rapaz sabe tanto sobre arte? A ideia de Kang ter frequentado uma escola de artes parece plausível, mas algo me diz que não foi o caso.

Quero perguntar ao rapaz à minha frente todas as minhas dúvidas, todavia a ideia de ele mudar de novo de humor e me tratar mal não abandona a minha mente. Uma guerra acesa instala-se dentro do meu cérebro e não sei o que fazer. O meu olhar desvia-se do rapaz e pousa em todo o lado menos no ser diante de mim, começo a sentir as minhas mãos a suar de nervosismo e esfrego-as de modo a acalmar o meu interior. Noto o olhar de Kang em mim, contudo nem isso me faz encará-lo. Pelo canto do olho observo-o franzir as sobrancelhas em sinal de confusão.

"O que se passa? Porque ficas-te assim de repente, Nix?" Interrogou passado alguns segundos.

"Nada, estou bem." Respondi, no entanto a minha voz soou baixa e trémula denunciando o meu real estado de espírito. Nunca fui boa a esconder as minhas emoções e não irei começar hoje, infelizmente.

"Estás a mentir, isso sim. Diz-me o que se passa." Retorquiu com a voz um pouco mais alta.

O seu semblante estava sério. Sentia-me entre a espada e a parede, não podia fazer nada e sinto que se as palavras se soltarem e fluírem para lá da minha boca o resultado não vai ser nada bom. Com um longo suspiro, finalmente as palavras começaram a fluir.

"Onde é que aprendes-te a pintar? Como sabes tanto sobre arte? Algo me diz que não andas-te em nenhuma escola de artes." Proferi com uma certa rapidez, mas tenho a impressão que Kang entendeu cada palavra porque no momento seguinte o rapaz simplesmente virou costas e seguiu caminho pelo longo corredor.

Art ♤Kang Daniel Fanfiction♤Onde histórias criam vida. Descubra agora