IX

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Cancro, duas sílabas, seis letras formam esta palavra tão feia, tão mortal.

O cancro pode atingir qualquer um, desde os mais saudáveis até aos mais fracos, desde os mais novos até aos mais velhos. Hoje em dia a maior parte dos cancros são tratáveis e quase toda a gente sobrevive, porém existem sempre exceções e a mãe de Kang foi uma delas. Posso imaginar a dor que o rapaz sentiu e que ainda hoje sente, eu sei o que é sentir como se o mundo desaba-se, como se nada mais vale-se a pena, como se tudo nos fosse tirado, sei como é sofrer com a partida de alguém importante, ser-nos tirado de nós sem ao menos nos podermos despedir, também não saberia como me despedir de quem amo, nunca fui boa com despedidas, não digo 'adeus', apenas um 'até já', é menos doloroso.

O rapaz de cabelos escuros tem de ser forte, precisa de ser forte, contudo ser forte a todo o momento custa, não mostrar qualquer dor, sempre sorrir e dizer que está tudo bem sabendo que não está, custa. Tomas tudo como garantido e de repente essa garantia é te tirada sem aviso prévio, sem te dar tempo para te adaptares a todas a mudanças da vida.

A vida põe-nos à prova a cada dia que passa, faz-nos testes e muitos deles são dolorosos.

Lembro-me bem da última vez que estive em família.

Num momento estávamos todos alegres e no outro tudo o que via era sangue, asfalto e fumo. O culpado nunca foi encontrado, o cobarde fugiu e deixou lá uma família inteira para morrer. Lembro-me de ver os meus pais rodeados de sangue, lágrimas caíam pelo meu rosto e não me conseguia levantar para ir ter com os meus progenitores. A minha perna estava presa debaixo de alguma parte do veículo em que anteriormente me encontrava. Arranhões cobriam todo o meu corpo e sentia que a dor era demasiada para uma só pessoa suportar.

Poucos dias depois o meu pai partiu, não consegui resistir a todos os ferimentos, a minha mãe morreu no local. Ainda hoje a dor está muito presente em mim. O primeiro ano foi horrível, tudo me lembrava deles e as memórias continuaram a circular pela minha mente, uma e outra vez. Apesar de todo o sofrimento não tive coragem para abandonar a casa onde fui criada, é tudo o que tenho deles.

Sinto-me tão mal, sou exatamente como todos os outros. Julguei o rapaz sem saber do seu passado e tenho que admitir que nunca pensei que a mãe de Kang tivesse morrido por uma doença. Sei que agi mal, porém Kang leva-me ao limite e trás o pior de mim à superfície, não me agrada nem um pouco o efeito que o rapaz de olhos frios tem sobre mim.

Desde o momento em que ele apareceu na cidade que eu não me reconheço, faço coisas e penso coisas que nunca imaginei. Tenho que, de alguma forma, me desculpar a Kang. Limpei as lágrimas, que só agora reparei que estavam a cair, e suspirei.

Nem me dei ao trabalho de entrar em casa e mudei a minha rota para a mansão onde o rapaz vive, tenho de conseguir falar com ele. Quero desculpar-me e entendê-lo melhor. Finalmente ele desvendou-me algo sobre o seu passado e não é, de todo, o que eu esperava. Imagino que o rapaz não tenha tido uma vida nada fácil e vou tentar melhorar isso.

As minhas passadas eram apressadas e descoordenadas mas nem isso diminuiu a minha vontade de ver o rapaz, não tardou muito e encontrava-me no portão da mansão. Atravessei o mesmo sem pensar duas vezes e dirigi-me à velha porta que separava o interior do exterior da antiga casa.

Respirei fundo como forma de acalmar os nervos dentro de mim e bati à porta esperando alguns segundos para que Kang a abrisse. Tal não aconteceu e eu bati de novo, contudo agora de forma mais brusca, estava impaciente, apenas queria conversar com o rapaz de cabelos rebeldes e resolver isto de uma vez por todas. A culpa está em todos os recantos do meu corpo e sinto que não a irei aguentar por muito tempo.

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