Três coisas

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Apesar dos meus pais corretíssimos, minhas noções de bem e mal sempre foram muito pessoais. Mas reconheço o mal que me fazem. E nem sempre esqueço.

Perdão? Fica muito difícil perdoar alguém que abusa de sua confiança ou se aproveita de sua ingenuidade. É sempre a mesma história do amigo do seu tio que lhe passa a mão em lugares íntimos e você não tem coragem de contar a ninguém.

Esse incidente marcou a minha infância e ainda atrapalha a minha vida. Cada vez que penso que me soltei do peso disso, volto a lembrar daquelas mãos e sinto três coisas:a raiva, a repulsa e a culpa, principalmente culpa.

Nadine raramente o via. Mas sabia quando ele estava em casa. Ouvia os passos, a música, os miados dengosos do gato (gata?) quando ele chegava. Sabia, pelo peso e velocidade das passadas, quando ele estava de bom humor e ficava imaginando em que ele trabalhava.Uma vez o vira no elevador e mirou firme seus próprios sapatos. Não queria quebrar o encantamento de não conhecer bem seu rosto. Bastavam seus passos, por enquanto. 

Quanta besteira: Nadine bridgetiando, fantasiando uma história sobre a vida de alguém que nem conhecia. Crap!

Aprendendo a voarWhere stories live. Discover now