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Eu não sabia explicar o porquê, mas saber que Thea ainda não tinha me perdoado estava me consumindo vivo. Minhas visitas à biblioteca se tornaram algo constante. Eu pegava um livro qualquer e me sentava em uma mesa perto dela apenas folheando as páginas esperando que ela falasse comigo, mas ela nem olhava para mim. Fiquei com receio de que ela parasse de frequentar o lugar por minha causa, mas ela não parou, apenas fingia que eu não existia.

Depois subi um pouco meu nível de stalkeamento e comecei a ficar parado em frente a faculdade dela esperando-a sair, sempre sem falar nada, apenas esperando que ela dissesse que me perdoou ou que era para eu sumir.

Era errado o que eu estava fazendo, afinal ela pediu para que eu me afastasse e eu disse que ia respeitar, mas eu não conseguia mais viver com aquele sentimento de que eu tinha fodido a única coisa boa que eu tinha conquistado em anos.

Encontrei Carrie em várias festas, mas ela também não falava comigo e quando eu perguntava sobre Thea ela apenas dizia que sua irmã estava bem, nunca falava se ela já tinha me perdoado.

Um mês depois comecei a sentir falta de alguém que eu tive na minha vida por pouquíssimo tempo. Sentia falta de ouvir a voz dela e de ouvi-la falar sobre como estava cheia de coisas da faculdade para fazer. Também sentia falta de quando ela perguntava sobre mim, se eu estava bem e o que eu estava fazendo.

A maior parte do nosso curto relacionamento foi tudo por telefone e eu sentia uma falta maldita daquilo tudo. A pior parte era que a culpa era minha e não havia nada que eu pudesse fazer para consertar, talvez tudo o que eu estivesse fazendo naquelas semanas só estaria piorando a minha situação.

Todo o dinheiro que meu pai tinha me dado nos últimos dias foi gasto em bebidas e drogas. Bebi mais do que aguentei e deixei meu banheiro com um cheiro permanente de vômito, todas as minhas notas de dinheiro tinham um pouco de pó branco que eu não limpava, e a mesa de centro estava repleta de restos de cocaína e maconha, sem contar as marcas de garrafa.

Eu não deixava mais que Catalina entrasse na casa para limpar e pegava as compras no corredor quando ela vinha. Meu pai começou a aparecer para saber se eu estava bem, mas eu falava com ele através da porta sem deixa-lo me ver.

Não tinha dúvidas de que minha aparência estava um lixo, mas eu não ia fazer nada para mudar, pois esse era o único jeito que eu tinha para conseguir esquecer Thea, meus pais e todos os problemas que os dois tinham trazido na minha vida.

Thea ter me afastado foi só o estopim para que eu começasse a fazer tudo aquilo.

Olhei no celular e vi que meus pais não estariam em casa naquela hora então dirigi até lá. Rezei durante todo o caminho para que Catalina também não estivesse e assim eu poderia entrar e sair sem ninguém me ver.

Abri a porta bem devagar e entrei, quando estava passando pela sala senti a presença de alguém no cômodo. Meus pais e Catalina estavam sentados no sofá vendo algo no notebook que minha mãe segurava. A expressão no rosto dela era de horror, como se ali não fosse o filho dela e sim um desconhecido qualquer que tinha invadido sua casa.

Senti a uma ânsia de vômito enorme quando meu pai começou a chorar e tentei segurar, mas eu estava imóvel. Não conseguia andar ou parar de olhar para eles e logo senti o gosto amargo do vômito chegando. Esforcei meu cérebro ao máximo que pude e corri para o banheiro, vomitando tudo o que eu tinha comido nos últimos dias.

Ouvi os passos deles atrás de mim e senti uma mão acariciando minhas costas. Minha cabeça rodava e eu não conseguia mais parar. Podia ouvir minha mãe chorando atrás de mim e pelo canto do olho vi que era meu pai que estava ao meu lado.

The GetawayOnde histórias criam vida. Descubra agora