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Foi por sorte – ou não – eu não ter batido o carro enquanto ia para o meu apartamento. Não cumprimentei nem o porteiro e muito menos as pessoas que estavam por lá. Fiz questão de subir pelas escadas só para aumentar a minha raiva.

Eu estava cego de ódio e mal conseguia abrir a porta. Procurei por todo o apartamento onde eu tinha escondido as drogas que guardei quando disse à Thea que ia parar de usar e as encontrei no fundo do guarda-roupa em uma caixa de sapatos velha.

Joguei tudo na cama e me surpreendi com o tanto de coisa que eu tinha. Meses atrás aquilo parecia pouco para o tanto que eu usava, mas vendo agora era o suficiente para eu e mais um monte de gente praticamente se matar.

Queria tirar da minha cabeça aquela imagem da minha mãe com um cara muito mais novo que ela e eu sabia que deveria ligar para Thea e conversar sobre isso ao invés de me drogar, mas ela estava puta comigo e não iria me atender tão cedo.

Peguei na cozinha uma colher com uma garrafa de água e a única garrafa de uísque que eu tinha e corri para o quarto. Fiz uma linha grossa do pó branco em cima da caixa de sapatos e enrolei uma nota de cinco dólares, puxando-o todo. Meu nariz ardeu e apertei ele algumas vezes antes de preparar a mistura.

Tomei quase metade do uísque antes de penetrar a agulha em meu braço e pressionar o embolo para baixo, deixando que a mistura de cocaína entrasse na minha veia. Terminei com a garrafa de uísque e cheirei mais duas carreiras grossas de cocaína, fazendo com que meu nariz começasse a sangrar um pouco.

Fiz mais uma mistura de cocaína e água e injetei, sentindo meu corpo ficar mole e minha visão embaçar um pouco. Eu me sentia incrível, como se pudesse pular da janela e cair no chão sem nada acontecer comigo, mas no momento em que me levantei, senti uma tontura e comecei a vomitar.

Não consegui me apoiar em nada e cai no chão. Fiquei tentando descobrir o que tinha feito o puta barulho que ouvi ao cair, mas ouvi ele mais uma vez e gritos do lado de fora. Tentei responder e dizer para me deixarem em paz, mas quando abri a boca vomitei de novo.

Meu corpo começou a se convulsionar e meu peito doía muito fazendo ficar difícil de respirar. As vozes ficaram mais distantes e achei que estivesse alucinando. Tentei me segurar na cama e levantar, mas acabei caindo no meu próprio vômito. Eu não conseguia mais pensar em nada ou sequer abrir a boca para pedir ajuda, meu corpo todo se mexia e eu já não me sentia bem igual antes, eu sentia meu corpo parando de responder e as convulsões piorarem e só tentava pensar em um jeito de sair dali e não morrer na poça de restos de comida e bebida.

Um barulho irritante de 'bip' penetrou meus ouvidos e ficou martelando na minha cabeça até que eu abrisse os olhos e ficasse cego novamente com o lugar todo branco e claro demais. Olhei para o meu braço e vi fios em mim e no meu peito. Eu tinha total certeza de que se morresse iria para o inferno, mas aquele não parecia o inferno e eu duvidava muito que tanto Deus ou Satanás iriam me fazer tomar soro depois do que eu tinha feito.

Ouvi um toque de celular e depois sussurros rápidos. Olhei para o lado e vi meu pai sentado em uma poltrona perto da porta com uma expressão acabada e com a calça e camisa sociais sujas. Ele sorriu para mim quando percebeu que eu estava acordado e saiu do quarto, voltando minutos depois com um médico.

- Como você se sente, John? – ele me perguntou com um sorriso no rosto. Olhei para o meu pai nos pés da cama que me olhava sorrindo, mas as olheiras deixavam tudo meio duvidoso.

- Pai, você também morreu? – perguntei para ele que soltou um riso nasalado e negou com a cabeça – Pai, o que aconteceu? Eu achei que estava morrendo. Era horrível, eu ia morrer no meu próprio vomito e depois todo mundo ia ficar sabendo disso. – choraminguei – Onde que eu estou? – perguntei exasperado.

The GetawayOnde histórias criam vida. Descubra agora