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Respirei fundo várias e várias vezes enquanto andei o mais lentamente possível até a sala. Meus pais estavam sentados no sofá e olhei para os lados atrás de Catalina que não estava em lugar algum. Minha mãe se levantou correndo quando me viu e veio até mim tentando me abraçar, mas eu segurei seus braços e a afastei.

- O que você quer?

- Eu vim te ver, filho. – ela sorriu triste – Eu queria saber como você estava.

- Estou ótimo. Pode ir embora agora.

- John, por favor, nós precisamos conversar e nos resolver. Todos nós. – ela olhou para o meu pai rapidamente.

- Não tem nada para resolver, Abigail.

- Como não, John? Eu sou a sua mãe, você não pode fazer isso comigo.

- Fazer o que, me diz, por favor. – falei irritado – Me diz o que eu estou fazendo que é mais errado do que o que você fez comigo.

- Eu te amo, filho, você não pode me evitar para sempre...

- Quer apostar comigo? – fiquei cara a cara com ela – Eu cansei das suas merdas e meu pai finalmente também se cansou de tudo isso.

- Nós podemos nos resolver, John, podemos voltar a ser uma família...

- Que família, caralho? – segurei ela pelos ombros – A gente nunca foi uma família, será que você é tão burra que nunca percebeu isso?

- John... – ela disse chorando.

- Você nunca foi a minha mãe, nunca, nem mesmo quando eu mais precisava de você. – gritei – Porque você quis ser mãe se nem sabia e muito menos queria cuidar de um bebê? Era para poder sair comigo no colo e mostrar para as suas amigas que você tinha conseguido dar um filho ao meu pai?

- Eu te amei desde o primeiro momento em que te tive em meus braços, John...

- Não vem falar de amor agora, Abigail, você não cuidava de mim, me maltratava se eu fazia uma coisinha errada e ainda ficou grávida de outro homem e queria que meu pai e eu aceitássemos você e a criança dentro de casa.

- Eu juro que isso não vai mais acontecer...

- Jure o quanto quiser, eu deixei de acreditar em você faz tempo e precisou eu quase me matar por sua culpa para o meu pai perceber quem você realmente é.

- Eu não te obriguei a usar droga alguma, John Wayne, você fez isso porque você quis.

- Eu fiz porque eu queria esquecer que você existia. – gritei – Você não precisa mais correr atrás de mim, eu já cresci e envergonhei a família, não tenho mais nada para você, Abigail, mais nada.

- Você não envergonhou a família, filho.

- Claro, você fez isso por mim. – sorri cínico – Em breve você vai receber os papeis do advogado.

- John...

- Eu vou fazer o máximo possível para que você fique sem nada do meu pai.

- John... – ela olhou para o meu pai – Faça ele entender.

- Não tem nada para entender, Abigail. – ele se levantou – Você me traiu várias vezes, maltratou uma criança inocente e machucou o meu filho física e psicologicamente. Quem tem que entender aqui é você. Nós cansamos.

- Você não pode me tratar como se o que a gente teve não foi nada para você.

- É claro que foi algo para mim. Você me deu um filho e nós tivemos bons momentos, eu amava você, mas esse sentimento pelo visto não era recíproco se você tinha que procurar outros homens e não era honesta comigo.

- Eu te amo, John. – ela correu até ele e o abraçou – Tudo bem se você não quer mais ficar comigo, mas eu preciso dele, eu preciso do meu Johnny.

- Quanto você quer? – falei entediado e ela me olhou confusa – Quanto você quer para ficar longe da gente?

- Eu não quero dinheiro, John, eu só quero poder ficar perto de você.

- Eu fiquei perto de você por dezenove anos até você engravidar de outro. Se você não tivesse me negligenciado tanto durante a minha vida toda, quem sabe eu ainda sentisse vontade de ter você como mãe.

- Filho, eu não te negligenciei, eu simplesmente não sabia o que era melhor para você...

- Você nem tentava, porra. – gritei – Você não tentava. Eu chegava da escola e ficava ali. – apontei para o sofá – Eu ficava ali sentado te olhando. Eu pedia para você brincar comigo e você dizia para eu esperar um pouco enquanto você estava no telefone e ali eu ficava. – falei chorando – Eu fazia a minha lição, tomava banho rápido e ficava ali esperando você me chamar, esperando você me dar um pouquinho de atenção.

- Eu sinto muito se não fui uma boa mãe. – ela caminhou até mim – Você me odeia e por mais que eu insista você não vai me desculpar, mas eu preciso que você saiba que eu sinto muito por tudo.

- Tanto faz.

- Eu achei que fosse te perder. – ela me abraçou e não consegui ter coragem de afasta-la – Eu pensei que fosse perder o meu menininho. – ela chorou contra o meu peito – Nunca na minha vida eu senti tanto medo quando seu pai disse que você teve uma overdose. É claro que foi minha culpa, mas eu não... eu não consigo acreditar que eu te causei esse mal, John...

- Então não acredite. – sussurrei – Simplesmente vá embora e finja que eu nunca existi.

- Não peça para uma mãe esquecer da existência do filho, John Wayne. – ela segurou meu rosto – Eu lembro todos os dias. – ela sorriu triste – Você acordava de manhã e se sentava na mesa para tomar seu café da manhã comigo, sempre quieto, mas sempre me olhando com curiosidade.

- Talvez eu estivesse procurando uma mãe em você.

- Abigail, vai embora. – meu pai disse com uma expressão derrotada – Por favor, só vai embora e deixar o John. Ele voltou hoje e você só está estragando o dia dele.

- Tudo bem. – ela suspirou – Mas eu não vou desistir de você, filho.

- Faz o que você quiser, mas eu desisti de você.

- Eu te amo, filho. – ela acariciou minha bochecha e foi em direção a porta – Eu te amo muito.

Esperei que meu pai fechasse a porta e comecei a berrar. Chutei o encosto do sofá até que ele virou e joguei todos os porta-retratos da estante no chão. Eu parecia uma criancinha raivosa, mas eu não me importava, eu só queria quebrar o máximo de coisas que eu encontrasse na minha frente para não sair na fora e matar a minha própria mãe.

Virei a mesa de centro quebrando todas as louças que estavam lá em cima e meu pai me segurou pelo pescoço com força me arrastando para o chão. Ele ficou sussurrando algo em meu ouvido e acariciando meus cabelos, mas tudo o que eu queria era que o mundo explodisse. Meu peito e garganta doíam e eu não conseguia enxergar nada ao meu redor. Era tudo um grande borrão com sons indistinguíveis.

- John, olha para mim. – uma mão delicada tocou meu rosto, mas eu não conseguia saber de quem era a voz – Presta atenção em mim. Vai ficar tudo bem.

Finalmente consegui controlar minha respiração e ver Thea abaixada na minha frente olhando-me preocupada.

- Eu estou aqui com você. – ela me beijou – Eu não vou mais sair de perto de você, vai ficar tudo bem, agora se acalma.

- Ela não vai mais chegar perto de você, John, eu prometo. – meu pai beijou minha cabeça – Eu não vou mais deixar ela fazer essas coisas para você.

- Me deixa ver sua mão. – Thea sussurrou e lhe mostrei – Você machucou ela um pouco. Está doendo? – neguei com a cabeça – Vem, é melhor você ir para o seu quarto e descansar um pouco.

- Fica comigo. – sussurrei tão baixo que quase não ouvi – Por favor.

- Eu não vou mais sair de perto de você, John Wayne. – ela sorriu.

The GetawayOnde histórias criam vida. Descubra agora