Capítulo 2

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Não sei o que aconteceu comigo. Talvez desespero. Talvez emoção. Entrei em pânico. O que ela ia fazer? Beijar-me ali na frente de todo mundo? Transar comigo como tinha feito minutos atrás com seus amigos? Meu Deus! Eu transaria com uma mulher? Ela transou com alguém ali mesmo? O ciúme por uma completa estranha me dominou sem que eu tivesse chance alguma de fazer qualquer coisa para impedir.

E que tipo de recepção bizarra é essa que ninguém mais aparecia além dos amigos dela? E se Luciana entrasse e me visse naquela situação? Oh Lucy! Era por ela que eu havia ido até ali e vejam onde me meti.

Tudo que lembro é de ter gritado em alto e bom som a primeira coisa que me veio na cabeça: "PÁRA! EU NÃO ESTOU MATRICULADA NESSE CURSO. NÃO DEVERIA NEM ESTAR AQUI. OLHEM PRA O MEU BRAÇO, ESTÃO VENDO ALGUMA DAS PULSEIRAS DE IDENTIFICAÇÃO QUE VOCÊS DISTRIBUÍRAM?".

Poderia ter sido mais ridícula? Não. Com certeza não poderia e foi por perceber isso que saí correndo no momento em que avistei a porta. Ainda estava um tanto desorientada por passar tanto tempo com os olhos vendados, mas ainda assim corri o máximo que pude. Não deu trabalho encontrar a saída do prédio e mesmo chegando do lado de fora eu continuei a correr. Queria sumir dali. Não podia ligar pra Peter, porque o que ele ia dizer de uma situação como essa? Não podia falar com Lucy e sem minha melhor amiga por perto, só me restava Olívia pra conversar, mas eu também não podia entrar na sala de aula naquele estado de completa confusão.

Lágrimas brotavam dos meus olhos e eu não sabia explicar o motivo. Meu corpo inteiro tremia ao imaginar Elise Brigham se aproximando e dizendo o quanto me queria. Aquilo soou como música aos meus ouvidos.

Porque me fascinou tanto ouvir tal declaração da "Barbie de Ipanema"?

Não saberia dizer ao certo quanto tempo passei correndo, mas quando parei eu já estava bem longe da faculdade. Peguei o primeiro ônibus que vi se aproximar e fui pra o único lugar onde eu poderia encontrar paz longe das minhas amigas: a praia.

O dia estava lindo pra um banho no mar e eu estava sem meu biquíni, mas não havia nada me impedindo de molhar pelo menos os pés.

Tirei o celular do bolso e mandei uma mensagem de texto pra Olívia: "Não vou voltar pra aula. Explico depois. Te encontro no horário de almoço pra pegar meu material. Beijinhos. -Ceci"

Olívia era realmente um gênio no que dizia respeito a resolver problema dos outros, mas seu senso de julgamento era exagerado pra alguns assuntos. Quando lhe contei sobre a garota com quem minha irmã havia ficado 3 anos antes, ela quase infartou. Vem de uma família religiosa; bastante rigorosa. Passou duas semanas tentando me convencer de que meus pais deveriam levar a Lucy mais vezes para a igreja. Eu tinha sorte de ser imune ao seu poder de convencimento porque, caso contrário, minha irmã provavelmente teria fugido de casa ou não falaria mais comigo se eu tentasse transformá-la em uma beata. Não. Não estava preparada pra lidar com Olívia naquele momento. Resolver o que fazer com as intenções de Elise seria facílimo pra ela. Provavelmente iria tentar denunciar a garota por algum crime que talvez nem exista previsto na constituição e ainda conseguiria um mandato que a obrigaria ficar bem longe de mim, mas como resolver o que fazer com minhas intenções? Não. Definitivamente não me sentia pronta pra expor isso. Não antes de falar com Lucy.

Desliguei o celular, tirei a sandália dos pés e corri em direção à água. Perdida em meus pensamentos mal vi a manhã passar. Já era quase meio dia quando senti sede e parei pra comprar uma água de coco. Droga! Eu precisava voltar.

O mar tem algo de mágico. Caminhei por horas e ao invés de me sentir cansada, eu estava renovada. Pronta para o inquérito ao qual Olívia daria início logo que me encontrasse. E após 18 chamadas não atendidas e 14 SMSs eu sabia que ela não perderia tempo (e não perdeu)!

Apaixonada por ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora