Apaixonada por Ela

Capítulo 6

O mês acabou e embora eu tenha concordado em dar uma chance pra o “quarteto fantástico”, digo, pra Elise e suas amigas, a verdade é que eu me sentia pouco a vontade perto delas. Beatriz tem se mostrado uma garota extremamente inteligente e apaixonada por tecnologia, até me deu várias dicas úteis de aplicativos interessantíssimos pra o celular que eu estava guardando dinheiro pra comprar. Lorena se parece cada vez mais com Luciana. As duas tem um brilho que é quase prejudicial a visão se você se aproxima demais. Podem sorrir de tudo e ver um lado bom em qualquer situação — me fez pensar que ao invés de ser influenciada para o mal como eu temia, na verdade minha irmã é quem estava influenciando, e para o bem!

Manuela, no entanto, ou Manu como eu já me acostumara chamar, estava em fase de luto pelo término com Thomas. Sempre que alguém tentava saber o motivo do fim de relacionamento, ela pedia pra deixar pra lá e mudava o rumo da conversa. Tinha virado a carência em pessoa e agora como eu, estava quase sempre grudada em alguém.

Elise aproveitava todas as oportunidades pra estar perto, mas se recusava a me dirigir a palavra se a primeira aproximação não partisse de mim. Eventualmente eu a flagrava me observando com aqueles olhos quentes, mordendo o lábio inferior como se assim pudesse sentir o gosto do que quer que estivesse lhe passando na cabeça. Não raras foram as vezes em que corei ao imaginar que era meu gosto que ela desejava sentir ao morder o lábio daquela forma.

Preciso sair daqui — era sempre o que me ocorria quando me via presa em pensamentos que envolviam Elise. E eu saía, sem dar chance pra ver onde aquilo ia parar.

Quase um mês depois do nosso encontro na praia a relação com Elise ainda estava mais fria do que com qualquer uma das outras garotas. Olívia, no entanto, virara parte integrante daquele círculo antes impenetrável e quem a visse conversar com Elise pensaria que eram amigas de longa data. Eventualmente faziam reuniões particulares e eu era a única que não estava presente. Até então havia conseguido me livrar delas com sucesso. Até que o aniversário de Lorena chegou.

— Dessa vez você não pode faltar Cecília — determinou Lorena enquanto entrava no restaurante e me entregava um convite sorrindo de orelha a orelha exatamente como o restante da trupe que a seguia de perto — A comemoração será dividida em dois dias — continuou extasiada — No primeiro iremos a uma boate que eu fechei no Leblon e em seguidas todas nós iremos pra casa da minha família em Búzios. Só garotas!

Tentei pensar numa forma educada de recusar, mas não tive ideia alguma. Talvez eu simplesmente não vá e dê alguma desculpa depois — pensei enquanto recebia o convite esboçando um sorriso contrariado.

Beatriz salvou a pátria quando chamou a atenção pra o adiantar da hora sugerindo que retornassem logo pra aula evitando atrasos e todas nós nos retiramos, ou pelo menos era essa a ideia. Quando tentei seguir as demais pra fora do restaurante, Elise se posicionou na minha frente dizendo:

— Eu disse que lhe daria tempo, e tenho cumprido minha palavra, mas já se passou um mês inteiro e você nem mesmo consegue ficar mais do que alguns minutos em qualquer lugar onde eu esteja — falou enquanto levantava a mão na tentativa de acariciar meu rosto.

— Não sei mais lidar com essa indiferença Cecília. Não quero viver pra sempre assim com você — ela disse enquanto seus olhos demonstravam grande angústia.

— Não precisa Elise — falei com certo alívio enquanto por instinto, com guarda baixa, eu fechei os olhos e levei meu rosto em direção a sua mão para sentir melhor seu toque — Estive pensando em nossa situação e também não quero que seja assim. Eu não posso te oferecer nada além de minha amizade e se for capaz de aceitar isso, estou realmente disposta a esquecer o que se passou e recomeçar do zero.

Elise não se continha de alegria. Certo pesar parecia não tê-la abandonado, mas a emoção da vitória sempre lhe caia tão bem que fui incapaz de afastá-la quando ela se aproximou para me abraçar. Aquele corpo novamente fazia meu sangue parar de circular. Será que um dia estaria imune a isso? Me despedi com uma sensação de bem estar e libertação que a muito não sentira.

“Seja bem vinda de volta a minha vida nova amiga. Não faça eu me arrepender. PS: senti saudades suas” — digitei e escrevi no celular logo que entrei na sala de aula. Não sabia ao certo porque estava fazendo aquilo, mas perdemos tempo demais separadas e era inegável o quanto sua presença me fazia bem. Eu queria estar em contato tanto quanto fosse possível, só tinha que me controlar pra evitar possíveis investidas da parte dela.

“Arrepender-se por eu estar em sua vida? Impossível isso acontecer meu anjo. Você vai desejar que eu nunca tivesse saído dela. PS: me liga da próxima vez que bater saudade. Posso acabar com ela num piscar de olhos”. Seu senso de humor era quase tão grande quanto sua conta bancária e embora eu me divertisse, achei melhor não dar mais tanta corda, bem típico diga-se de passagem. Eu atiço, provoco e depois corro. Covarde!

Tudo parecia ter voltado ao seu lugar quando eu e Elise nos acertamos. Olívia e Luciana me surpreenderam outra vez quando não esboçaram comentário algum sobre esse acontecimento e embora eu tivesse flagrado as duas várias vezes com olhares especuladores quando nos aproximávamos, a verdade é que todos agiam como se nunca tivéssemos passado por confronto algum.

Uma semana antes do aniversário de Lorena, fui convidada pra ir à sua casa ajudar nos preparativos da festa. Olívia tinha um compromisso inadiável com a mãe e Lucy estava em meio a um surto com os primeiros testes se aproximando. Quando cheguei em frente a porta de entrada Lory já me esperava com a porta aberta, de onde pude ouvir risadas conhecidas.

Lá dentro estavam Elise, Manuela, Beatriz e seu namorado Vinícius que era até um cara bem legal. Todos eles estavam diante da TV vendo uma comédia ao que tudo indicava. Só quando me aproximei é que percebi que todas elas estavam bem à vontade, usando shorts e a parte de cima dos biquínis de banho, assim como Lorena, quando me arrancou do transe momentâneo explicando:

— Meus pais não estão em casa essa semana, sinta-se à vontade Ceci. Saímos da piscina agora então vamos terminar de assistir esse filme antes de tratar dos preparativos ok? Quer uma bebida?

Agradeci e entrei sem mais demora. Eu sempre me envergonhava quando os garotos estavam por perto porque eles trocavam carícias ­ — pra dizer o mínimo — em nossa frente sem pudor algum. Mais tarde eu perceberia que dessa vez não seria diferente. Na sala as luzes estavam apagadas deixando aquele cômodo particularmente com pouca claridade.

Lory deitou-se no colo de Manu que estava num sofá lateral. Beatriz e Vinícius estavam num segundo sofá paralelo ao de Manu e no meio aos dois, em frente à TV, estava o sofá maior onde Elise sentava-se sozinha.

Seus olhos brilharam quando ela me viu entrar e de certa forma eu me senti agradecida por ela estar presente. Apesar de tudo, eu me sentia feliz e segura ao seu lado.