O dia amanheceu cinza, sem nenhum traço do que se poderia considerar um céu por trás daquela cortina de nuvens. A chuva da noite se transformara em uma fina garoa, como se ao mesmo dissesse que aquele era um novo dia, mas ainda parte do que fora antes, um epílogo para fechar o capítulo trágico de Oliver Queen.
Até onde Lois fora capaz de se lembrar, a chuva estava sempre lá. Havia chuva no dia em que sua mãe falecera, tal como chovera também no dia do assassinato de seu pai, o General Lane. Um temporal tomou Metropolis em seu baile de formatura do último ano, fazendo com que seu acompanhante, um jovem alto e moreno chamado Thomas, não pudesse chegar a tempo da última dança. Estava também chovendo no dia em que discutira terrivelmente com sua irmã Lucy há quatro anos, e foi a última vez em que a viu. E também garoava na tarde de domingo em que Lois conhecera Oliver, o loiro bilionário que freqüentava uma única aula em comum com ela na Met University. Por acaso eles se esbarraram em uma festa beneficente oferecida pelas indústrias Queen, por acaso acabaram se envolvendo e descobrindo que podiam ir muito além da amizade.
Estava chovendo na noite em que Oliver pedira Lois em casamento, apenas duas semanas antes de sua morte.
A memória era tão vívida para Lois que simplesmente doía, fisicamente. Oliver fora especial em sua vida desde o dia 1. Era a pessoa presente, alegre e companheira até nos momentos em que ele próprio se via destruído. Oliver era um sonhador acima de tudo, desejava com todas as forças um mundo justo e pacífico. E nos anos maravilhosos que passaram juntos, um mundo no qual eles pudessem viver felizes era tudo o que Oliver podia pensar. Seus atos eram movidos pela crença de que, ao final, tudo ficaria bem. O que Oliver não podia prever era que a maior de suas lutas estava tão perto, tão próximo que era praticamente impossível notar. Como poderiam imaginar que Clark Luthor era o Ultraman? Que aquele playboy herdeiro de toda Metropolis era também o seu grande predador? Nem mesmo Lois, que era boa em sentir as más vibrações ao seu redor, deu-se conta de que Clark Luthor era a personificação do mal em seu mundo. O odiara desde o primeiro dia em que o conheceu, mas apenas isso, nunca deu-lhe maior importância. E curiosamente, havia Sol naquela manhã de segunda-feira quando chegou a LuthorCorp Media e se reuniu com seu novo editor, o arrogante Luthor.
Era um assassino, era tudo o que Lois Lane conseguia pensar. Sabia que Oliver havia sido atropelado, mas a razão pela qual tudo ocorrera era sim Clark Luthor. Ou seria sua culpa? Culpa por ter acreditado que era possível mudar Clark, que ele merecia o risco que ela correra? Oliver fora guiado até Clark Luthor, movido por puro ódio, por culpa dela. Lois não pôde detê-lo quando mais precisou e por conta disso ele estava morto, não voltaria para ela jamais. A deixara sozinha com suas culpas e com o motivo de tais culpas, Clark Luthor.
Vários carros pretos estavam estacionados à beira do longo gramado, o qual estava tomado por uma camada de neve. O caixão prateado, já posicionado próximo ao lugar onde seria enterrado, estava cercado pelos poucos amigos que Oliver ainda tinha em Metropolis. Todos carregavam seus guarda-chuvas, com exceção de Lois. Estava ao lado de uma outra jornalista, amiga em comum dos dois. A mulher alta e loira segurava seu guarda-chuva de modo a proteger Lois também, que estava visivelmente abatida. A aliança em sua mão esquerda mostrava a todos o tamanho da dor que ela estava sentindo naquele momento, mas para Lois, era muito mais do que isso. Não havia objetos ou gestos que mostrassem o tamanho de seu sofrimento. Sentia-se em cacos estilhaçados, jogados à neve de forma que ninguém jamais fosse capaz de recompô-la.
Próximo ao caixão, um sacerdote recitava algumas palavras com a bíblia nas mãos.
“E assim como há a luz e a escuridão, nosso amigo Oliver passou do dia para a noite. A dor e o sofrimento ficaram para trás, pois seu caminho agora está repleto de luz ao lado de nosso Senhor, como dizem suas sagradas palavras. E mesmo que caminhe pelo vale da sombra da morte, tu estás junto a mim...”