Capítulo 2

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Quando Lois saiu da cobertura, abrindo a porta com pressa e seguindo o corredor em meio a entulhos de reforma, ela ainda buscava compreender suas motivações para beijar aquele homem. Não havia nada que pudesse justificar os seus atos, nenhuma forma de racionalizar aquele gesto como sendo benéfico a algum dos dois. Se sentiu louca, abruptamente invadida por um vácuo de consciência. E se ele a matasse naquele exato instante em que ficou à mercê do monstro? Certamente chegou perto, Lois pôde sentir o hálito do perigo a beliscar-lhe a face, ainda que seus lábios tenham beliscado muito além.

 Oliver caminhou até ela, estava sentado sobre algumas caixas de madeira, recostado em um palette. Ele percebeu o quão tensa ela estava e a segurou procurando dar-lhe um pouco de tranquilidade.

 “O que houve”? perguntou, mas não houve tempo hábil para respostas. Um barulho intenso e uma estremecida despertaram os dois para algo que acontecia dentro da cobertura.

 Oliver imediatamente correu, ao contrário de Lois que ainda parecia anestesiada pelo que lhe acontecera. Somente ao ouvir Oliver novamente ela se mexeu, voltando ao local. Estava vazio, não havia sinal de Clark Luthor e as correntes que o aprisionavam estavam arrebentadas ao chão. A janela, quebrada, indicava o lugar por onde ele havia fugido, lugar sobre o qual Oliver havia subido a fim de tentar ver alguma coisa. Em vão.

 “Ele escapou!”, Oliver disse para Lois, sem conseguir compreender, “Mas como?”

 Lois abriu os lábios nervosa, mas as palavras não saíram. Clark Luthor estava muito bem acorrentado no momento em que ela saiu, mas a jornalista sabia instintivamente que ela tivera alguma coisa a ver com sua fuga. Não sabia como, mas sentiu que aquele beijo havia mudado alguma coisa em seu mundo.

 Talvez tivesse mudado o mundo de Clark.

***

 Do outro lado da cidade, Clark Luthor tomava ar após sentir-se à beira do fim. A kryptonita o enfraquecia lentamente, lhe consumindo as energias. Havia sido assim desde que sentiu seu efeito pela primeira vez, por acidente, enquanto brincava com seu irmão Lex. E mostrando os primeiros traços de seu caráter maléfico, Lex passou a se divertir torturando o irmão, até o dia em que lhe deixou a marca que o acompanharia por toda a vida. Por todos esses anos, Clark sentira os efeitos das diversas modalidades de kryptonita, se sentia vulnerável por não ir de encontro a elas. Nunca havia sido capaz de resistir tanto, muito menos combatê-las.

 Até aquele momento.

 Por alguma razão, ele foi capaz de resistir. Clark parou no terraço de um prédio baixo e travou os músculos, sentindo o poder que continuava a emanar de si. Sentia-se forte, revigorado, ainda que tivesse passado por maus bocados em ambos os mundos. E a única razão que lhe ocorria era o mesmo evento que permeava sua mente desde que fugira da armadilha de Oliver Queen:

 Lois Lane.

 Ela havia mexido com a cabeça dele, e não apenas. Seja lá o que tivesse feito, atingira seu corpo. Ele se sentia diferente após estar com ela, após o beijo. Beijo que ela nunca deveria ter-lhe dado, embora lhe ocorrera arrancar-lhe à força uma ou duas vezes no LM. Ela era linda, desejável ao limite, ele não poderia negar jamais, mas sua incessante busca pelo bem e pela justiça o irritava ao ponto de boicotá-la em todas as oportunidades. Lois Lane era um problema, e Clark não se enganou por conta do que havia acontecido entre eles: ela continuava a ser um problema.

 Por outro lado, Clark deu-se conta de que o mundo de fato havia mudado. Lionel Luthor era história, não voltaria do universo espelho. Seu caminho estava livre para fazer do mundo o seu caos pessoal.

 A começar por Lane.

 ***

 Foi difícil para Lois explicar a Oliver que ela não havia soltado Luthor, embora ele tivesse certeza de que o Ultraman estava muito bem acorrentado e ela não teria conseguido sozinha. Ela própria não podia aceitar, não podia compreender que aquilo havia acontecido logo após o seu ato de insanidade. Ainda assim, era o menos estranho de tudo. Aquelas 24 horas marcaram com surpresas, fenômenos inexplicáveis, visitas inesperadas, um beijo destinado a não ser.

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