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No dia seguinte, faltei ao trabalho e peguei um ônibus para visitar meu pai em Lakewood. Não contei para minha mãe — ela andava estressada desde o incidente na festa da Millie e achei que a meu pai devia ser a última coisa sobre a qual ela gostaria de falar. Além do mais, eu estava indo em busca de respostas para um problema que ela parecia
desconhecer e, se fosse tão ruim
quanto eu imaginava, preferia
manter as coisas como estavam.

Depois de descer no terminal rodoviário eu andei até a região do Lago, com casas grandes e barcos por todo lado.

Cheguei na nossa casa do lago, costumávamos vir nas férias e passávamos o mês todo aqui.
Afastei as lembranças e toquei a campainha da casa de veraneio, tem dois andares com a frente toda feita de pedras, o teto é de vidro e colunas de pedra se espalham por toda a casa.

Meu pai atendeu a porta e a expressão de surpresa foi instantânea mas meu pai estava mais pálido do que eu esperava e com olheiras ainda mais profundas. Eu sabia que ele podia estar bem pior.

Ele me mandou entrar e fomos direto para a cozinha, ele estava fazendo um assado para o almoço.

— Como você está? — Comecei
a morder a unha do mindinho; um
tique nervoso que normalmente
voltava na presença dele.
— Indo, Ty. — Ele tentou sorrir, mas saiu torto e amarelo. — É tão bom ver você.

Reuni todas minhas forças para
não desabar na mesa gelada de
metal. Ele era a sombra do homem
que tinha me criado a base de
contos de fadas, filmes de aventura
e longas viagens. As piores atitudes
que ele tinha tomado na vida
envolviam gritar comigo quando
estava irritado, esquecer de lavar a
louça ou ficar até tarde na rua.
— Pai, você não parece muito
bem.
— Não tem sua mãe pra cozinhar aqui todo dia e não tem muitas frutas e legumes aqui — provocou
ele, mas o tom leve não alcançou
seu olhar. Ele se inclinou e segurou
minha mão; senti a mão áspera e
calejada dele na minha. — Feliz
aniversário atrasado, Ty.
— Obrigada, pai. Mas posso perguntar porquê não foi me ver no dia do meu aniversário?
— Sua mãe disse que ainda não queria me ver por lá, Madd chorou o dia todo querendo te ver mas Zack e Jay distrairam ela.
— Então, como vão as coisas em
casa? — Seus olhos se acenderam
com interesse, relaxando seu rosto
e me distraindo das novas rugas em
volta da boca dele.

— Um tédio, como sempre —menti, omitindo de propósito a
parte em que haviam me drogado na
festa do Matt. Eu sabia que minha mãe contariam em breve, mas não queria que ele soubesse por mim.
— Seus irmãos estão indo bem aqui na escola de Lakewood, eles passam o dia todo lá e eu fico aqui lendo livros.
Escutei enquanto ele me contava
tudo sobre os livros que andava
lendo. Quando terminou, iniciei
minha lista de assuntos seguros,
incluindo os novos clientes da
minha mãe em Lincoln Park e a
mais recente ideia insana do Matt
de ir explorar as ilhas gregas
depois que nos formássemos.
Falamos rapidamente meu último ano de escola, que começaria em breve.
Meu pai sorriu e participou em
todos os momentos certos até que a
conversa se encerrou de forma
natural. Por mais que eu quisesse
debater tópicos inofensivos, sabia
que precisava abordar o assunto
Principal. E, até o momento, eu não
tinha sequer chegado perto de falar
do motivo da visita.
— Pai — comecei antes que ele pudesse entrar em mais uma
conversa arrastada. — Tenho uma
pergunta.
Ele se ajeitou na cadeira e me
observou com atenção. Eu adorava
isso nele — sempre me tratava
como alguém digno de respeito,
desde criança. E sabia que isso
significava que ele me responderia
da melhor maneira que pudesse.
— O que foi, Ty?
Decidi ir direto ao assunto.
— Você conhece ou tem algum envolvimento com a família Dun?
As pálpebras dele tremeram, mas sua boca se manteve fechada,
esperando que eu terminasse.
— Bem, acho que talvez você os
conheça.
— Você falou com a tal família?
— perguntou ele, coçando a
penugem no queixo. — Eles
procuraram você?
— Sim — respondi. — Já falei
com eles.
Meu pai enterrou o rosto nas
mãos e soltou um suspiro.
— Meu Deus — disse ele com a
voz quase engasgada.
Voltei a sentir uma terrível
angústia. Ela fez meus olhos
arderem e se agarrou à minha garganta.
— Pai?
— Tyler — começou ele, mas
dessa vez com uma voz cansada e
cheia de decepção. Então,
descobriu o rosto, deixando as
mãos pousarem na mesa com um
baque. — Preciso te contar o verdadeiro motivo de eu ter ido embora de casa.
— Eu já sei o motivo, você e mamãe estão dando um tempo não é?
— Não é só isso, Tyler sua mãe descobriu uma coisa sobre mim é e me mandou embora.
— O que ela descobriu? — interrompi. — Tyler eu era traficante de drogas.
Meu pai piscou duas vezes e fez uma careta.

— Meu contato era um dos empregados do Bill Dun, eu me meti em alguns problemas com eles e acabei deixando uma dívida quando fui embora.
—E agora eles estão morando em Columbus perto do meu filho — completou ele, mordendo o lábio antes que um palavrão escapasse.
Eu apertava os punhos com tanta
força que minhas unhas
machucavam as palmas das mãos.
— E você não pensou em
compartilhar essa informação
extremamente importante comigo?
— Eu não queríamos deixar você no meio disso e assustar mais ainda sua mãe com isso.
Quase ri com o absurdo da afirmação.
— Então achou que era melhor
eu ficar sabendo por um dos filhos
de Bill Dun?

— Achei que eles moravam na parte rica da cidade e isso ia dar um jeito
para que ficasse longe deles! —
rebateu ele, com uma raiva quase
igual à minha. Se continuássemos
desse jeito, eu acabei indo embora com mais raiva ainda.
— Você devia ter me contado —
falei, baixando a voz. — Eu não
teria me assustado. Conseguiria
lidar com isso. — Provavelmente.
Talvez. Um dia.
— Certo, e o que você faria se
não tivesse medo? — rebateu ele.
— Sempre existia a possibilidade
de você querer se aproximar deles,
pedir desculpas ou corrigir o que
fiz. Conheço você, Ty. Tem um bom coração. Não é besteira da
minha parte pensar que você faria
algo do tipo.
— Isso é loucura, pai! — Talvez
não fosse, mas eu estava tão
nervoso que nem ia cogitar a
possibilidade de ele estar certo. —
E o que você ia fazer para eles
ficarem longe de mim?
Meu pai balançou a cabeça e
suspirou, derrotado.
— Talvez a gente devesse ter conversado sobre isso mas não deu sua mãe me mandou embora no meio da noite.
Ele me observou em silêncio por
um momento. Os olhos se
arregalaram até dominarem seu
rosto abatido; o castanho café deles tinha se transformado em um cinza escuro.
— Tyler, agora que sabe a
verdade, por favor, fique longe dos
Dun.
Não temos como saber o tamanho
do ressentimento deles em relação
a mim ou se ainda lembram da dívida.
— Ok. — Foi tudo o que disse.
Estava cansado demais para
continuar discutindo. E, além do
mais, não é como se os Dun estivessem implorando para andar
comigo.
— Eles já são uma família perigosa de qualquer jeito —continuou ele, vacilante.
— O que isso quer dizer? — Me
lembrei vagamente de saber algo na
época; Bill Dun não era bem
um cidadão modelo. Seria bom
pesquisar os detalhes.
— Quer dizer que não gosto de
nada disso — respondeu ele, o
rosto em pânico. Um pânico que ele
vinha tentando esconder de mim. —
Não gosto de saber que estão perto
da minha filha e que não posso
fazer nada.
Parte de mim quis dizer já fez o
suficiente, mas eu não podia ser
cruel.
— São só uns garotos — falei. —
São da minha idade.
— o relógio de pulso dele apitou indicando que era meio dia — gritou
Meu pai começou a retorcer as
mãos.
— Vai ficar longe deles? Por
favor, tome cuidado. Vou falar com
Sua mãe.
— São só garotos — repeti.
Ele fechou os olhos e tentou se
acalmar.
— O assado está pronto, vamos comer. — Quando ele abriu os
olhos de novo, ainda estavam
tensos de preocupação.
Assenti, fingindo compreender.
— Acha que eles vêm atrás de alguma coisa, comigo?
— Não sei — disse ele em voz
baixa. — Sinceramente, não sei.
Do nada, lembrei da imagem de como Josh é seus e amigos resolvam os problemas deles, espancando as pessoas.
Afastei aquele pensamento.

Ele colocou o assado na mesa junto com pratos e um salada para comermos.

Falamos mais algumas coisas e ele ficava garantindo pra mim que não era mais envolvido com drogas ou com qualquer crime.
Terminarmos de comer e eu disse que estava na hora de voltar, queria estar em casa antes de mamãe chegar.
Nos despedimos com um abraço apertado e então eu fui em direção ao terminal rodoviário para pegar o ônibus de volta a Columbus que agora não tenho certeza se me sinto em casa lá.

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