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Concentrei toda minha atenção na
parte de trás da cabeça redonda idiota de Nick O'maley. Embora
eu ainda não me lembrasse de nada
daquela noite, ficava com raiva só
de olhar para ele. Era como se
minha pele estivesse em chamas
pelo que tinha acontecido e meu
cérebro lutasse para acompanhar.

Ao meu lado, os xingamentos de
Matt zunia no meu ouvido. Ele
assistia ao filme contente.
— Por que você não está xingando a a Bella por ser tão idiota?
— perguntou ele. Olhei para a tela, uma garota parada do meio da floresta estava falando com o garoto que é um suposto vampiro. Estranho.
— Estou distraído.
— O que você acha que vai
conseguir encarando a cabeça do
Nick desse jeito? — Matt enfiou mais um monte de pipoca doce na boca. — Está tentando fazer com que ele exploda com o poder da mente?
— Não sei. — Franzi o rosto tentando encontrar aquela lembrança que rondava meu consciente. — Estou tentando me lembrar.
Matt enfiou mais um punhado de pipoca na boca e mastigou, pensativo.
— Não tente — disse ele, deixando grãos melados caírem no cobertor. — Tente esquecer o assunto. Você está aqui para relaxar, lembra?
Fiz o possível para seguir o
conselho dele, mas, ainda assim,
algo não estava certo...
Depois de quase uma hora, a tela
ficou escura, sinalizando o
intervalo.
— Taco? — sugeri, sentindo a
necessidade de esticar as pernas.
— Já que faz questão — respondeu Matt, deitando-se. — Quero dois, por favor.

Limpei o farelo da roupa e atravessei o gramado, parando no final da fila de tacos. Logo estava espremida entre uma garota de cabelo rosa-shocking desbotado e um cara
gordinho.
— Caixa livre! — gritou uma
voz de adolescente. Uma leva de
pessoas atrás de mim correu para
formar uma segunda fila e, de
repente, me vi parado quase ao lado
de Nick O'maley.
Ele olhou de relance para mim e
desviou os olhos rapidamente, mas
não sem que eu pudesse ver o
hematoma amarelado na maçã do
rosto e no maxilar protuberante. O
que tinha acontecido com ele?
O caixa fez sinal e a fila andou,
me levando com ela. Nick parou do meu lado; ele brincava de rodar
um copo vermelho nas mãos, e o
líquido balançava para frente e
para trás. Ele levou o copo à boca,
encaixando-o nos lábios e dando
goladas na bebida. Cada vez que eu
via o copo subindo e descendo,
ficava mais fixada nele.
E então tudo voltou.
Lembrei de ter ido ao quarto dos
pais de Matt e dado de cara com
Nick. Derrubei cerveja em mim — não era isso o que ele tinha dito? Mas Nick estava com dois copos, o líquido do copo era rosa e tinha gomos viscosos brancos. E disse que sequer estava bebendo. Fiz uma careta ao me lembrar da bebida doce e gasosa, pensando em como ele
havia insistido para que eu bebesse
e como, quando nos sentamos na
cama, eu tinha ficado desconfortável com seus olhares. E então todo o resto da memória era com a garota Jenna e Matt até que eu bebi o líquido do copo deixado em algum lugar e não me lembrava mais de nada. Percebi, no mesmo momento em que o caixa tocou o sinal novamente, ativando um alarme no meu cérebro, que Nick  O'maley tinha me drogado acidentalmente ou propositalmente naquela noite e planejado me levar para casa e me atacar. Não havia nada de inocente ou ingênuo nessa história.
E, para completar, tinha certeza
de que as coisas poderiam ter ido de mal a pior se Brendon não tivesse
interrompido no momento certo.

A fila andou de novo.
— Anda — resmungou o gordo
atrás de mim, mas eu não conseguia
me mexer. Estava colado no chão.
— Ei, anda! — insistiu ele.
Senti uma ânsia de vômito. Ao
meu lado, Nick avançava na fila,
balançando o copo vermelho sem
parar. O objeto tinha virado um
pêndulo de memórias explosivas,
lançando cada uma delas na minha
direção, e antes que me desse
conta, empurrei Nick para fora da fila.
— O que foi? — Seu corpo parrudo cambaleou para o lado. Ele tropeçou e caiu na grama, apertando as costelas.
— Como pôde? — Parti de novo para cima dele, mas dessa vez ele
estava preparado. Se levantou e foi
para longe de mim, saindo de perto
da multidão. Fui atrás.
— Qual é o seu problema, garoto? — gritou ele por entre os dentes.
— Você tentou me atacar! — disparei.
— Não tentei nada — ele respondeu com tanta segurança que eu teria duvidado da minha memória se tudo aquilo não estivesse pulsando tão forte na minha cabeça.
— Estava levando você para casa quando seu namorado me encheu de porrada sem motivo nenhum. Tem sorte de eu não ter prestado queixa.
Então Brendon era o responsável
pelos hematomas de Nick e, pelo
visto, não tinha pegado leve. No
entanto, mais estranho do que a
possibilidade de Brendon ser um
psicopata era perceber que, no
fundo, eu sentia uma centelha de
satisfação. Nick O'maley não se
safou da sua tentativa de violação.
— Sei que você me drogou. —
Estava vagamente ciente da histeria que crescia dentro de mim. Graças
a Brendon Urie, Nick pagou pelo
que fez, mas não tinha pagado pelo
que planejava fazer. — Você armou
tudo! Eu me lembro do que você me
deu.
Nick riu com desdém e franziu o rosto.
— Lembra? — Ainda rindo, ele
girou em volta de mim como um
urubu rondando a presa. — Bem,
duvido de que isso se sustente na
frente de um juiz.
— Então você admite? — rebati,
furioso.
Ele deu de ombros e parti para
cima dele outra vez. Uma dor aguda atingiu meu ombro esquerdo quando
caí no peito dele. Ele me agarrou,
pressionando as minhas costelas.
— Pare! — O rosto dele se
contorcia de dor. Ele me apertou
com mais força, tentando me
ameaçar. — Você está passando
vergonha, esqueça isso!
Lutei e esperneei nos braços dele.
— Me solta! — guinchei. Soltei braço e dei tapas no rosto dele mais forte que pude, até ele me soltar.
— OK — respondeu ele. — Desaparece da minha frente.
Pulei para trás, aumentando a distância entre nós.
— Você é doente! — gritei,
erguendo o punho na direção dele, a
adrenalina a mil nas minhas veias.
— Como você pôde fazer isso
comigo? Com qualquer pessoa!
O sorriso de Nick dominou o rosto machucado.
— Ah, por favor. Você deve saber que comer o nerdzinho que escreve no jornal da escola dá muita moral.
— Você quis dizer estuprar —
cuspi as palavras, encurralando
Nick.
— Não me diga que vai tentar brigar comigo — ironizou ele.
Ele era a pessoa mais horrenda
que já tinha visto na vida.
— Odeio você.
— Relaxa, Tyler. Eu não tocaria em você agora.
O jeito que ele disse meu nome,
como se fosse um palavrão, fez com
que eu me sentisse fisicamente
doente.
— Você vai pagar por isso! —
Assisti com satisfação à cor sumir
do rosto dele. Os olhos ficaram
grandes e ele se retraiu ainda mais.
Mas estava enganado de pensar que
minhas palavras tinham começado a
surtir efeito, porque Nick não
olhava mais para mim; olhava para
alguém atrás de mim.

Do nada, uma terceira voz se juntou à conversa. Era sinistramente
calma, em comparação à nossa
discussão acalorada.
— Ciao, Nick. Quanto tempo.
— Com aquele tom doce, eu poderia pensar que era alguém próximo, até amigável, se eu não tivesse tanta certeza de que era Brendon Urie. Vi Nick levantar as mãos e se encolher, enquanto Brendon saía de trás de mim como se tivesse acabado de brotar do chão.
Há quanto tempo ele estava ali
escutando? Virei, procurando seus
Primos, mas ele estava sozinho. —
Não pude deixar de ouvir a conversa de vocês — continuou ele, calmamente. — Espero não estar me intrometendo.
— Fique longe de mim, cara, ou
vou chamar a polícia. — A voz de
Nick tremeu uma oitava acima do
normal, e a arrogância logo desapareceu do rosto dele.
— Nick — chamou Brendon. —
Acho que você precisa se acalmar.
Parece agitado demais.
— Você quebrou minhas
costelas!
— Só uma ou duas — brincou Brendon, desdenhoso.
— O que você quer?
A voz falsamente amigável de
Brendon era ainda mais assustadora que seu tom de ameaça.
— Só quero falar com você sobre uma coisa, pode ser?
Ele deu mais um passo à frente e
Nick cambaleou para trás.
— Não conheço você. O que a
gente poderia ter para falar?
— Você toca em uma banda com uns amigos não é?
Nick arregalou os olhos.
— Como sabe disso?
Brendon deu mais um passo, diminuindo o espaço entre os dois.
— É uma informação pública, não?
— Acho que sim.
— E você trabalha com eles, né. tocando em bares nos fins de semana certo?
A essa altura, eu só via a parte
de trás da cabeça de Brendon enquanto ele se aproximava de Nick,
ignorando minha presença por
completo.
— Sim, trabalho — respondeu
Nick, parecendo um pouco mais
confiante.
— Que bom. — Brendon cruzou os
braços. — Vamos deixar nosso
histórico de lado por um segundo,
certo? O que passou, passou, e acho
que devemos deixar isso para trás.
Isso não é da minha conta mesmo.
Nick assentiu como um daqueles cachorros com a cabeça de mola em painéis de carro.
— Estou precisando de uma música ao vivo em uma festa que vou dar, se é que você acredita.
— Sério?
— E achei que podia compensar
nosso encontro infeliz de pouco
tempo atrás — Brendo apontou para o rosto machucado de Nick, girando o dedo para efeito dramático. — Lembra disso?
— Si-sim.
— E disso? — Ele apontou para as costelas.
— Claro — sibilou Nick, abraçando o corpo com os braços rechonchudos.
— Então, pensei que para fazer as pazes, poderíamos fazer um
negócio. Preciso de uma banda.
Nick relaxou os ombros.
— Não sou um cara mau — continuou Brendon, e tive a impressão de vê-lo sorrir; um evento mais raro que um eclipse solar. — Então por que não conversamos sobre isso?
— Agora? — Nick levantou uma sobrancelha. — O filme já vai
recomeçar. Por que não falamos
sobre isso quando eu estiver no
trabalho?
— É urgente, então vamos conversar agora. — Brendon segurou Nick pelo pescoço. — Vamos. — Ele o afastou do parque, indo em direção às árvores. — Dê tchauzinho para o Joseph — mandou Brendon. — Ele fica aqui.

Senti o tom de aviso em suas
palavras, mas ao vê-los desaparecer atrás do trailer de tacos, dei de cara com um dilema inesperado. O filme está prestes a começar, lembrei a mim mesmo, mas meus pés me levavam em direção às árvores e não para onde Matt estava sentado, esperando — certamente já sem paciência — pelos tacos que agora eu não tinha mais a mínima intenção de comprar.

O modo como Brendon envolveu Nick nos seus braços parecia que
eles eram quase amigos, e eu precisava admitir que havia algo
inegavelmente convincente na maneira como ele falara com Nick. Ao contrário do meu agressor, não fui burro o suficiente para cair no papo dele. Eu sabia, mais do que muita gente, que Brendon não precisava de amigos. Ou uma banda qualquer, aliás. O quer que fosse
acontecer em meio àquelas árvores,
dificilmente seria uma transação de
negócios — pelo menos não para
Nick. Mas, como um completo
idiota, ele deixou Brendon guiá-lo para longe, e eu não tinha como não os seguir.

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O que vai acontecer minha gente?
Morram de curiosidade porquê vocês só vão descobrir amanhã kjjkkkjkk.

JohnnyLaneBoy

Heavydirtysoul // JOSHLEROnde histórias criam vida. Descubra agora