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Quanto mais eu chorava, mais
pensava sobre todos os
acontecimentos e, devagar, minha
determinação se tornou mais forte
do que a dor. Se os Dun só
botavam gente na cova, como
poderiam saber o que uma segunda
chance pode fazer por uma pessoa?
Que bem faziam ao arrancar o
potencial de um homem antes de ele
poder descobrir o bem dentro de
si?
Brendon e Josh talvez não tivessem
escolha para matar Chad, mas eu
sim. Eu não sabia o número para
ligar para ele — sem falar que meu telefone estava sob a custódia do
bandido-em-treinamento, Jordan —,
mas sabia aonde estavam indo. Eu
tinha uma arma e dinheiro para ir
até lá. Se abandonasse meu tio
agora, jamais me perdoaria, e
jamais me lembraria de Josh com
qualquer sentimento além de
desprezo. Eu havia prometido ao
meu pai que cuidaria de Chad e, se
seu irmão morresse daquela forma,
ele jamais se recuperaria. Ele mal
conseguia sobreviver como estava
agora.

Mas ainda existia uma chance; eu
ainda poderia fazer algo. Poderia
me colocar entre Josh e meu tio, poderia impedir um assassinato.
Talvez não convencesse Brendon, mas sabia que Josh me escutaria. Ele não dizimaria minha família, não depois de tudo que dividimos.
Eu me levantei e fiz o possível
para limpar o rosto, esfregando o
sangue do queixo e cobrindo o roxo
nos olhos com um boné que estava encima de uma lata de lixo. Forcei meu corpo a ficar ereto, caminhei até a loja de conveniência e troquei a
nota de cinquenta dólares para que
pudesse ter uma mísera moeda de
25 centavos para chamar um táxi.
Esperei no banheiro da loja até o
táxi chegar, estudando meu reflexo.

Arrumei o cabelo emaranhado do rosto e reprimi a expressão de
horror. Manchas roxas fundas
faziam bolsas sob os olhos
inchados. A ponte do nariz estava
torta, e as bochechas, vermelhas
onde eu havia limpado o sangue
com as mãos. Agarrei a pia ao
sentir uma pontada repentina de dor
nas costelas. Algumas semanas
atrás, meu maior problema era o que eu iria escrever no anuário.
Como eu tinha chegado àquele
ponto?
Em algum momento, um grande
mal-entendido devia ter acontecido.
Tudo havia saído de controle. Era
impossível pensar nas drogas, no dinheiro ou nos piores aspectos da
alma do meu tio sem pensar nas
partes boas — aquelas que eu
conhecia. Meu tio não era um vilão
unidimensional como os Dun
imaginavam — por que abriam
exceções para eles mesmos e não
para Chad? Não era certo. Mesmo
que não pudesse convencê-los antes
que fosse tarde demais, precisava
tentar.

Vinte minutos depois, para a
perplexidade do motorista de táxi,
desci em um terreno baldio nos
arredores da Velho bairro industrial de Lakewood. No perímetro, sacolas de plástico voavam como fantasmas acima de carrinhos de supermercado. O velho galpão de autopeças ficava no meio do terreno; uma estrutura imensa sem portas, com paredes de concreto rachadas, manchadas de ferrugem e cocô de pombo. Do outro lado, havia contêineres empilhados como gigantes LEGOs das cores laranja, bege e azul. Lá no alto um letreiro desgastado, que se balançava no único prego restante, dizia AUTOPEÇAS MADDOX. Caminhei com cautela em direção ao local, sentindo menos medo do que deveria. Estava em pé puramente à base de adrenalina e sentia meu coração batendo na ponta dos dedos.

Andei pela fileira de contêineres
de aço até encontrar um beco um
pouco mais largo que um carro.
Estava escuro como breu e
completamente escondido da
entrada do terreno. No final do
beco, virei à direita e encontrei
dois SUV dos Dun estacionados
e sem ninguém. Então, Brendon e Josh já tinham chegado, mas de quem era o segundo carro? O motivo para a escolha do local era óbvio. Dava a eles uma entrada secreta e
vantagem imediata quando Chad
chegasse.
Nos fundos do galpão, uma pequena porta ficava escondida atrás de várias pilhas de caixotes de madeira, e estava entreaberta. A tranca havia sido arrombada, mas duvido que isso fosse necessário — a porta já estava se despedaçando nos cantos e provavelmente podia ser derrubada até por uma criança.
Caminhei na ponta dos pés entre
os caixotes e entrei disfarçadamente. O espaço no
interior estava quase vazio, e era
muito úmido. O cheiro de mofo
tomava conta do ar e nos cantos
pilhas de mais caixotes corroídos
por cupim se amontoavam, lotados
de restos de embalagens plásticas.

Pendendo dentro de uma gaiola,
uma única luminária iluminava um
espaço circular na parte da frente e
outra lâmpada menor havia sido
pendurada no centro, onde os
Falcone estavam de pé, protegidos
em parte por uma pilha de caixotes
até a altura do peito. Brendon estava
discutindo com Bill, enquanto
Jesse e Matthew observavam às suas costas, brincando com as armas.
Josh estava distante, esperando logo
na porta. Se eu chamasse a atenção
dele, quem sabe ele me ouviria sem
ser influenciado pelos irmãos.
Comecei a seguir pelas laterais
do galpão, apertando as costelas ao me agachar atrás das caixas. Ratos
entravam e saíam correndo dos
caixotes, e precisei me esforçar
para não gritar toda vez que um
passava por meus tênis.
Parei de me mexer e ouvi o
barulho de um carro distante se
aproximando.

A movimentação no galpão caiu
em um silêncio absoluto.
O motor foi desligado em algum
lugar do outro lado da entrada.
Ouvi a porta se fechar. Chad. Meu
coração batia forte e rápido no
peito. De repente, só pensava no
rosto do meu tio quando ele desse
de cara com as armas que estavam prestes a ser apontadas para a sua
cabeça.
E, então, algo inesperado aconteceu: ouvi uma porta se fechar, e outra, e finalmente a quarta porta. Chad não estava sozinho.
Josh espiou pela entrada do
galpão e retraiu a cabeça, confuso.
— Ele está acompanhado —
anunciou aos outros, afastando-se
da sua posição e juntando-se a
Brendon. Os dois pareciam inquietos,
mas não muito surpresos. Não sei
por que estava tão chocada: entrar
sozinho em um galpão escuro era
suicídio. Chad era mais esperto do que isso e, para minha tristeza, mais
do que acostumado a esse mundo e
a como ele funcionava.
— Eles vão estar armados — disse Matthew, de maneira casual.
— Típico do Joseph — disse Bill, com uma risada falsa. —
Nunca honra seus acordos. Sempre
soubemos que ele viria com tudo.
Quantos são?
— Está escuro demais, não consigo ver. — A voz de Josh parecia frustrada. Ele sacou a arma e se certificou de que estava carregada. Como eu poderia chegar até ele agora que estava tão próximo dos Dun? Quem sabe se eu alcançasse Jack antes de ele entrar, poderia impedi-lo de sequer passar pela porta. Aquele tempo todo eu havia me preocupado com meu tio, e não parei para pensar que ele também chegaria preparado. Isso significava que Josh e Brendon não estavam nem um pouco mais seguros do que ele.

Vingança idiota.

Fiquei mais aos meus passos quando notei que os caixotes
ficavam mais espaçados. Estava
cada vez mais difícil me esconder
atrás deles e, como cada respiração
parecia uma facada nas minhas
costelas quebradas, eu tinha dificuldade em fazer esforço. Se
passasse pela porta da frente antes
de alguém entrar, quem sabe
evitaria um massacre.
— Eu sabia que ia ser um caos
— esbravejava Bill. — E se ele
perceber que não estamos mais com o garoto, não vai hesitar em atirar
primeiro. Precisamos ficar
atentos... Perdemos nossa
vantagem.
As sombras de Matthew e Jesse
assentiram. Brendon falou baixo
demais para eu escutar, mas pelos
seus gestos, deduzi que ele defendia
sua inocência. De onde eu estava,
parecia convincente. Eu esperava que sim.
— E não estão nem protegidos.
— Bill apontou para o peito de
Brendon e Josh. — Saiam pelos fundos antes que alguém se machuque.
Eu já estou irritado o suficiente. Não podemos correr o risco de errar de novo.
Nenhum dos dois se mexeu.
— Vamos prosseguir com a
operação — disse Brendon.
Josh estalou o pescoço, ajeitou os
ombros e trincou os dentes. Se era
assim que ele ficava em combate,
era bem eficiente, e fez com que eu
quisesse arrancar meus cabelos;
afinal, ele estava se preparando para matar meu tio.

Os Dun pararam de falar;
ninguém mais queria discutir.
Ficaram em silêncio, todos
concentrados na porta, esperando
Chad dar o primeiro passo. Os
Dun sabiam que Chad estava do
lado de fora; Chad sabia que os
Dun estavam do lado de dentro.
Ambos tinham reforços e,
provavelmente, armas. E eu estava
preso, agachado em meio a mijo de
rato e caixotes mofados em um
galpão no meio do nada, pensando
em qual ente querido iria morrer
primeiro, e se eu sobreviveria
tempo suficiente para tentar perdoar os que permanecessem vivos. Se
isso não era o fundo do poço, não
queria nem pensar no que seria.
Eu tentava espiar pelo espaço
entre dois caixotes caídos quando a
porta do galpão se abriu, só um
pouquinho e, depois, mais um tanto.
Congelei. Os Falcone ergueram as
armas. Era tarde demais. Eu havia
falhado.
— Olá — chamou uma voz baixa
e tensa.
Meu corpo inteiro ficou gelado.
Ninguém respondeu.
— Olá? — repetiu ela, a palavra
uma simples gota naquela
imensidão vazia.
Em cliques sequenciais, eles
prepararam as armas para atirar e a
apontaram para minha mãe
enquanto ela entrava no galpão.

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Meu Deus eu não tô bem e acho que vocês também não né?
Tá super perto do final 💔
Eu fiz um final lindo pra vocês
JohnnyLaneBoy 💚

Heavydirtysoul // JOSHLEROnde histórias criam vida. Descubra agora