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EDUARDO

Percebi que ela não queria papo. Confesso que fiquei triste. Tinha planejado tudo pra jogar uma verdades na cara dela. Mas sei lá, estava estranha. Na verdade ela é estranha.

Mas uma coisa era certa. Ela devia estar curtindo alguma festinha! Quem chega dez horas da noite da faculdade, sendo que saí as seis? Acha que eu sou idiota! Mas a questão aqui é : Por que eu estou tão preocupado com o quê ela faz ou deixa de fazer? Deixa a garota viver a vida dela, né?

Mas um dia, se passou e a noite chegou. Hoje eu não queria causar, então nada de festa. Por hoje! Claro que vou fazer outras. Tenho mais algumas semanas de férias e vou aproveita-las.

•°• ✾ •°• 

Eram quinze para às dez da noite. E eu estava na portaria, puxando um papo com seu João. Na verdade queria entender quantos dias era a tal festa pra essa garota não ter chegado ainda. 

- Então, você já morava na cidade, só decidiu viver sozinho? Perguntou seu João.

- Pois é! Eu morava com meus pais entende? A gente precisa de privacidade!  Daí eu me mudei - Respondo.

- Entendo, entendo. - Ele diz olhando o relógio em seu pulso e se levanta indo até a porta do hall do prédio, mas antes ele aperta um botão abrindo o portão de fora. - Espero que tenha aprendido a lição sobre as festinhas - Ele sorri e eu também.

- Aprendi! Com certeza eu aprendi - Digo rindo.

- Isso é ótimo! - Ele olha no relógio e olha pra porta da rua como se esperasse alguém.

- Esperando alguém seu João? Perguntei curioso.

- Karine! Era pra ela já está aqui. Ela chega aqui por volta das dez horas e daqui a pouco vai dar dez e meia. Ela não costuma se atrasar. Ah não ser que pegaram ela. - O olhei confuso

- Como assim? Perguntei

- Karine. A menina que te denunciou. Ela sai da faculdade e depois trabalha na biblioteca da faculdade. Até as dez - Ele diz e aquele sentimento de que sou um idiota vem à tona.

- Mas se ela sai as dez não tem como ela estar aqui agora seu João - Digo

- A questão é que ela cabula horas, porque o caminho é perigoso. Sai de lá as nove e meia. Então a não ser que ela foi pega. Algo de errado aconteceu! E ela é como uma filha pra mim. Me preocupo muito com ela. -  Ele diz olhando pra fora todo tenso

- Entendi - Digo sentindo um nó na garganta.

- Cheguei seu João! Ela  corre e o abraça. - Desculpa o atraso. Chegou um professor na biblioteca e eu saí de la nove e quarenta e cinco. Depois eu fui já farmácia da Avenida comprar uns remédios pra Lori e fui lá entregar. Desculpa a demora, sei que o senhor se preocupa! Mil desculpas. - Ela diz atenciosa.

- Tudo bem minha menina. Mas não faça mais vezes. Eduardo viu meu desespero, não é? Ele se virou pra mim e eu assenti.

- Bom. Prometo não fazer de novo! Boa noite seu João - Ela se despediu e o nó na garganta estava presente. Ela trabalhava! E eu a chamei de hipócrita. Posso ser idiota, mas tive uma boa educação! E esse sentimento de fiz coisa errada veio à tona. Eu precisava consertar.

- Me desculpe - Digo baixo e ela me olha confusa  - Me desculpe, você não é hipócrita - Digo olhando em seus olhos - Estava trabalhando. Me desculpe - Digo

- Olha eu até desculpo, mas...- Ela cambaleia e cai em cima de mim.

- Opa. Karine? Garota acorda?? Balancei ela e nada. Ela tinha desmaiado!

Chegamos ao seu andar. E ela continuava apagada. A arrastei pra porta do seu apartamento. Na verdade eu não sabia qual é.

O que fiz foi o seguinte: mexi no bolso de fora da mochila dela e por uma sorte achei a bendita da chave onde tinha o numero do apartamento. Bom as originais têm e parece que a dela era.

Entrei com uma certa dificuldade no apartamento que era bem decorado. E bem a cara dela. A coloquei no sofa e larguei sua mochila no cantinho.

Segui para a cozinha, achando um copo na pia, enchi com água e voltei a sala e joguei respingos nela. E ela levantou num pulo e logo se sentou.

- O que aconteceu? Perguntou visivelmente confusa

- Você desmaiou! Se explique Karine e já! Ordenei

- Minha pressão deve ter caído. Eu almocei um sanduíche somente -  Ela suspira pesadamente

- Você não comeu desde o meio dia? Perguntei incrédulo

Sim - Ela abaixou a cabeça visivelmente desconfortável.

- Vá comer agora karine!  Digo e ela assente e se levanta me olha e senta de novo - Está tonta? Perguntei o óbvio e ela assente - 'Ta', senta aqui - a coloquei em cima do balcão que dividia a cozinha e a sala. - Se sentir alguma coisa, tente avisar ok? Ela assente.

Mexi nos armários e peguei uma massa de macarrão, botei água numa panela e liguei o fogo.

Abri a geladeira, claro eu perguntei se podia, ela riu e assentiu. Abri,  achei algumas goiabas e fiz um suco.

Em menos de quinze minutos  fiz seu prato e entreguei à ela. Que olhou desconfiada mas logo começou a comer.

Sentei ao seu lado e fiquei olhando-a.

- Para de ficar me olhando - Ela diz de boca cheia e eu comecei a rir - Vai fazer teu prato! - diz terminando de mastigar.

- Boa ideia! Não jantei mesmo - Levantei os braços em forma de rendição e fui fazer meu prato - Hm não é que 'tá' bom mesmo? Nem parece que foi eu que fiz! Titia ia ficar orgulhosa. - Digo convencido e ela gargalha.

Confesso que não sei de onde veio esse instinto de cuidado, mas ele apareceu.

Entre Sacadas E JanelasOnde histórias criam vida. Descubra agora