Bálsamo Azul

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Larissa Reggiani Galbardi

LarissaGalbardi


Você vê o herói sozinho no canto

E se pergunta por que ele não aproveita os louros da vitória

Nas histórias não era assim, nos romances e contos de fadas era tudo tão fácil, o herói salvava a mocinha, acabava com o vilão e pronto: mais um final feliz era escrito, só que nada disso era real! As histórias não falavam das dores da batalha, da culpa de quem sobrevive, do peso nos ombros de quem obrigou-se a sobreviver... Os livros falavam das glórias e das flores, não avisavam sobre destroços no fim, nem sobre o coração em escombros.

Ninguém percebe a dor do herói

Nem ninguém o olha nos olhos e o vê como é

As pessoas também não entendiam: elas o aclamavam, afinal ele vencera, livrara o mundo louco, mais um em um mar de insanidade! O que não viam era a expressão vazia em seu rosto, não se preocupavam ou não enxergavam a dor em seu olhar, nem mesmo seus amigos, os que sabiam o que era a dor de perder alguém ou de nunca ter o que deveria ter tido, embora enxergassem melhor sua dor, embora entendessem muito mais do que todos os outros.

Todos querem participar de sua glória

Mas a maioria ignora toda a sua história

Nem os contos de fadas, nem os de ficção científica o haviam preparado para isso, para saber que no fim ele se sentiria tão só quanto no começo, um gosto amargo na boca, sentindo o sangue correr nas veias, uma sensação de envenenamento... Despropósito.

Venceu!

Mas, agora, o que lhe restava para fazer?

Ele resgatara amigos, salvara o mundo, matara o vilão, exatamente como nos livros, agora não sabia o que fazer; revoltar-se? Para quê? A tristeza que o acompanhava era uma conhecida e íntima inimiga, quase não a percebia, o que o dilacerava agora, como uma adaga afiada, era a imensidão vazia de seus olhos assombrados.

Nem o herói poderia imaginar

Que o consolo viria do azul

Um par de azul de olhos igualmente assombrados encontrou seu olhar, a heroína e o curador sorriram fracamente, sentaram-se ao lado do herói, exaustos, imundos, igualmente sem propósito, mas diferentemente do herói, em seus olhos crescia uma flor, alívio e esperança e determinação e amor. Ele, então, sorriu, ainda cansado, ainda assombrado, ainda triste, porém sorriu, pois o vazio começava a desvanecer-se, encontrou força na força dos outros, seu senso de propósito abalado começando a curar-se, o herói sorriu por encontrar esse consolo azul.



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