Cap 6

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Depois do beijo carinhoso, ficamos em silêncio segundos. Ela aninhada, encolhida no meu colo. Cabia direitinho. Parece que foi feito para ela.

— Será que vão achar a gente aqui...? — pergunta, preocupada.

— Uma hora acham... — eu a consolo.

— Que pena... — devolve, com um sorriso sapeca escapando dos lábios.

Não dá para acreditar que é Amy... A minha Amy... se declarando para mim...

Ela me curtiu. Depois de meia vida fantasiando como seria, onde seria, o que eu faria. E aconteceu. Do jeito mais maluco, irresponsável.... Mas aconteceu.

E foi sensacional...

Daniel... Devo uma para esse pirralho mimado....

— Minha reunião acabou de começar. — ela diz, encarando a tela do meu smartphone. O relógio marcando 11:45h.

— Importante?

— Muito...

— Onde você trabalha?

— No Clarke & Morris...

— Arquitetura?!

Ela ergue a cabeça e me encara surpresa.

— Você conhece?

— Claro... — confirmo.

— Como?

Sem detalhes, Jeff... Pelo menos não agora...

— Eles fizeram um projeto para uma empresa que trabalhei. — não é de todo uma mentira.

— Qual? — continua curiosa.

— MH Venture Capital.— respondo, o que parece frustrá-la. — Conhece?

— Não...

— Faz uns seis anos.

— Ah... — e conforma-se. — Faz três que trabalho aqui. — suspira, recostando a cabeça no meu ombro.

— Gosta? — pergunto.

— Bastante...

— A sede fica nesse prédio? — estranho.

— Desde que trabalho aqui, sim... Por quê?

— Antes ficava na Liberty st. perto da Broadway.

— Ah... — Amy suspira.

Ela parece cansada, e eu, inevitável, sei que preciso por um fim àquele "encontro".

Conforme instruções do pirralho, disco o número da emergência.

— Conseguiu alguma coisa?! — ansiosa, ao me ver mexer no telefone.

— Não... — devolvo, com a consciência pesando por mais uma mentira.

Dois minutos depois, a luz do elevador acende, como se nada tivesse acontecido.

Amy ergue a cabeça, ainda encolhida no meu colo, e posso observar o sorriso perfeito brilhando sob a luz branca da caixa metálica.

Não mais a metros de distância, mas a milímetros. E inteiramente para mim.

— Parece que nossa escapada terminou... — comenta, a voz travessa, enquanto estuda minha feição com uma atenção perturbadora.

— Pois é... — sorrio, desconcertado com o par de olhos que parece avaliar cada pelo da barba que cobre minha cara.

A maldita luz talvez tenha revelado demais. E agora, ela me reconheceu. Ai, caralho!

Ou ainda pior! Está assustada, arrependida...

Sei que não sou o cara mais apresentável do mundo. A barba espessa não está aí a toa... E ainda tem o resto para depor conta.

Permaneço mudo, a pior cara de merda, só esperando por um ataque de pânico, gritos, pedidos de socorro...

— Prazer, Jeff. Sou Amy. — outro sorriso ainda mais perfeito se forma nos lábios de boneca, seguido de um selinho caprichado na boca, que ela fez questão de roubar.

Fico sem ar. A cara de idiota...

Arregalo um sorriso com a alma...

— Prazer Amy... — devolvo o selinho, ainda sorrindo feito idiota.

Ela continua aqui. Apesar da luz... E da minha aparência... Amy continua aqui...

Depois da troca de olhares que fala por si só, ela deixa meu colo, cata os rolos de papel, sua bolsa e se levanta do chão. Eu faço o mesmo, enquanto o elevador se move.

Quando a porta se abre para o andar em que ela trabalha, somos dois indivíduos qualquer, a caminho de mais um dia útil qualquer.

— Tchau, Jeff... — Amy se vira inesperadamente, segura meu braço; tenho que inclinar a cabeça para que sua boca alcance a minha. — Espero você me ligar... — sussurra, antes de tomar seu rumo, me entregando um cartão de visitas.

Abro um sorriso fascinado e sigo com os olhos o movimento daquele traseiro delicioso, enquanto Amy caminha pelo corredor, até que a porta do elevador se fecha.

CA-RA-LHO!

Esfrego a cara algumas vezes para ter certeza que não foi um sonho.

O elevador desce parando em praticamente todos os andares do prédio, mas eu nem ligo.

Três pessoas entram, olhares desconfiados. O odor do sexo impregna o ar e o sorriso idiota cheio de culpa estampa a cara refletida no espelho a minha frente.

E finalmente, o subsolo 3.

Saio do elevador em busca de um banheiro. Me livro da camisinha, dou uma bela mijada para aliviar. Busco meu carro. O cheiro dela ainda encalacrado em mim...

Rio a toa.

Tenho que dar o braço a torcer que Daniel foi genial.

Encontro acidental, em um elevador enguiçado?

Mas sigo encanado com tanta receptividade de Amy.

Por que tão disponível? Tão quente? Tão na minha? Justo um desconhecido?!

Por via das dúvidas, aperto o número do pirralho voyeur no painel do carro, a caminho do Huppert Bank, onde tenho uma reunião logo depois do almoço...

My Dear AmyOnde histórias criam vida. Descubra agora